MÚSICA

Enfim, o reconhecimento

O violonista, compositor, cantor e produtor Cláudio Jorge tem um currículo invejável. Aos 71 anos, pode dizer que, ao longo da carreira, tocou com artistas como Sivuca, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, João Nogueira e Cartola. Com os dois últimos, compôs os clássicos Pimenta no vatapá e Fundo de quintal, respectivamente. Décadas de trajetória foram coroadas este ano com o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba, com Samba jazz, de raiz, que bateu Martinho da Vila, Moacyr Luz e Samba do Trabalhador, Zeca Pagodinho e Maria Bethânia.

O material é o quarto disco da carreira de intérprete. “Basicamente, o meu caminho sempre foi o violão, o de ser um violonista. Mas compor e cantar também fez parte da minha vida, desde a juventude. Então, foi um processo de levar uma coisa paralela a outra”, lembra. O primeiro disco foi lançado em 1980. Depois, em 2001, lançou Coisa de chefe. Em 2010, foi a vez de Amigo de fé. Até que, em 2019, veio Samba jazz, de raiz, o álbum que trouxe reconhecimento internacional.

“Acho que o prêmio, em primeiro lugar, é a confirmação da qualidade do disco. Isso foi muito importante. Fui sem expectativa de vencer, porque seria muito difícil. Havia nomes consagrados disputando. Foi uma surpresa agradável”, define Cláudio Jorge, que tem no currículo outro Grammy como produtor, recebido no ano passado pelo álbum Mart’nália canta Vinicius de Moraes.

Samba jazz, de raiz é fruto de cinco anos de dedicação. O álbum é uma afirmação das raízes musicais: o jazz, estilo musical que sempre escutou e tocou, e o samba, que entrou por acaso. O resultado é uma sonoridade que o músico busca explicar na canção que abre e dá nome ao disco, na qual versa: “Vou pedir passagem para explicar meu samba/É tipo samba jazz, mas ele tem raiz/Se liga nesse toque, o rótulo proclama/É linguagem africana, assim a história diz”.

Participações

“As pessoas sempre tiveram dificuldade de me identificar, me rotular. Falavam o sambista Cláudio Jorge. Componho samba, toco samba, vivo no meio do samba, mas não sou sambista (risos). Minha formação foi pelo jazz. A minha música sempre foi uma mistura de samba e jazz. Esse disco é também uma afirmação do meu rótulo”, explica.

No material, encontram-se 15 canções autorais gravadas num power trio, em que Jorge comanda o violão; Zé Luiz Maia fica responsável pelo contrabaixo; e Wilson das Neves, que faleceu antes do lançamento, pela bateria. O disco conta ainda com participações de Mauro Diniz, em Doce realidade; Frejat, na música Trem da Central; e Fátima Guedes, na canção que fecha o disco, Você pra mim, eu sou pra você.

 

Samba jazz, de raiz

De Cláudio Jorge. Mill Records, 15 faixas. Disponível nas plataformas digitais.