Durante o isolamento social exigido pela pandemia, a artista carioca Maria Lynch passou a recolher galhos de árvores para, a partir deles, trabalhar uma série de pinturas. É o resultado dessa experiência que encerra o calendário de exposições da Galeria Karla Osório. Realizada com curadoria de Leandro Muniz, Torrente reúne pouco mais de 20 obras da artista, entre as quais a produção recente, mas também séries mais antigas. A intenção de Muniz era oferecer ao público um panorama da produção da artista, dona do que ele chama de uma linguagem despretensiosa.
O curador escolheu a ideia de fluidez para definir o trabalho de Maria. “Por isso o título da exposição”, avisa. “Não queria amarrar trabalhos em conceitos, mas criar imagens que dessem conta do processo da obra e a ideia de torrente, de continuidade, de fluxo, é muito própria do trabalho da Maria.”
A partir dos galhos recolhidos na natureza, a artista passou a pintar composições que ora remetem ao objeto retratado, ora avançam em imagens ambíguas que sugerem paisagens abstratas. Além das pinturas, há também fotografias, estofados e outras peças produzidas ao longo dos últimos anos, todas marcadas por essa ideia de fluidez. “Não são só os assuntos que me interessam na obra dela, mas a maneira do trabalho se constituir. Você olha para as pinturas e estofados e tem a ideia de uma forma amorfa, uma coisa vai se desdobrando em outra e isso está presente no trabalho como um todo. Então, o que me interessava era mostrar como essa ideia de fluidez tem a ver, por exemplo, com o desejo”, explica Leandro Muniz.
A exposição traz 15 anos de produção com uma pintura colorida, leve, orgânica e um tanto abstrata. “Para mim, isso tem a ver com uma certa ideia de desejo, de formalizar o desejo. É o motor primário da arte, a gente faz arte porque precisa ver isso”, avisa o curador.