Já de casa, a cineasta Betse de Paula, filha de um dos maiores produtores da áurea fase do Cinema Novo, Zelito Viana, traz ao 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro a lição de preservação de memória da cultura nacional, com o documentário A luz de Mário Carneiro, produto do Canal Curta!, que traça muito da obra do profissional, um dos maiores diretores de fotografia do cinema mundial. O filme é o terceiro a ser exibido, hoje, dentro da Mostra Oficial Longa-Metragem.
E, nesse sentido, a diretora celebra a resistência do evento. “Como é importante estar acontecendo o Festival! Isso de não se dobrar a uma realidade tão difícil. Cinema brasileiro é assim: cheio de reinícios, de invenções e de sobes e desces. É importante demais não deixar acabar”, sublinha, lamentando apenas as sessões diante do público, uma vez que o festival ocorre de maneira totalmente virtual. “Não tem a marca presencial do atuante público, que eu acho incrível! Mas, vamos sobreviver: vai dar tudo certo. Se acabar (o ciclo), começa de novo.”
O filme de Betse mostra a história de um artista que, até a morte, dado agravamento de um câncer em 2007, foi um desbravador, fosse como poeta, gravador, pintor ou realizador, faceta iniciada em produtos caseiros, feitos em 16mm. “No início, ele se parece com o Sebastião Salgado, com meu pai e também comigo: é a coisa de você filmar por amor, filmar por acreditar no projeto e investir. É o que me aproxima do Mário bastante”, avalia a cineasta. No cinema, a luz e as sombras “são tudo”, ressalta ela. E, na briga, a favor ou contra a dura e indomada “luz dos trópicos”, Carneiro fez “coisas incríveis”.
Desprendimento
Mário Carneiro teve uma parceria forte com Paulo César Saraceni, em filmes como Porto das caixas (1963), A casa assassinada (1971) e Capitu (1968). Foi uma pessoa muito talentosa, assumindo, por exemplo, os papéis de fotógrafo, codiretor e montador de Arraial do cabo (1958). E, para realizar tanto, fez uma aposta arriscada, contrariando a família.
“Ele ouvia: ‘Você vai deixar de ser arquiteto?’, justamente quando a arquitetura brasileira era o máximo. A família criticava”, conta Betse. Mas, desprendido, Carneiro esteve ladeado por gigantes, como Joaquim Pedro de Andrade, Glauber Rocha e Domingos Oliveira, além de ter depurado a visão de cineastas como Joel Pizzini (500 almas) e Fernando Cony Campos (O mágico e o delegado).
“A graça do Mário está nas histórias malucas dele, que tinha um humor muito próprio, um sarcasmo. Focamos ainda, no filme, o papel da análise na vida dele. No processo, foram 15 anos fazendo este longa”, explica Betse, em torno do inventário do mestre, aos 77 anos.
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