Com uma coleção de obras de 30 artistas, a Casa Niemeyer lança, nesta quarta (16/12), um acervo inteiramente de arte digital. Tá me vendo? Tá me ouvindo? Narrativas do digital estará on-line a partir das 20h, no Instagram @casaniemeyer. As obras foram criadas especialmente para a linguagem digital a partir dos conceitos de gambiarra, novas perspectivas na esfera digital e arte hacker como procedimento.
A intenção da curadora Ana Avelar é trazer para a galeria, que faz parte da Universidade de Brasília (UnB), uma produção muitas vezes esquecida ou menosprezada em acervos de instituições de arte. “As coleções digitais sempre estiveram presentes como um apêndice das coleções das instituições. Nossa ideia é que coloquemos como protagonistas essas poéticas digitais que possuem um lastro enorme desde quando apareceram, nos anos 1960. Elas não só têm algo em comum por conta do suporte, como já estão se pensando criticamente”, explica a curadora. “A realidade das artes digitais hoje em todo mundo é uma realidade autônoma, elas não se baseiam nas artes presenciais, elas têm outro universo de crítica, de maneira de se fazer exposições e coleções. Isso foi muito pouco observado no Brasil e, com a pandemia, a gente entendeu que era absolutamente urgente.”
Em termo expográfico e conceitual, Tá me vendo? Tá me ouvindo? Narrativas do digital propõe a ressignificação dos meios digitais com obras que abordam a questão do improviso e da gambiarra que, para a curadora, são também indicativas da resiliência da arte digital. A arte hacker está presente na coleção com uma narrativa que propõe questionar a obsolescência programada na área digital e a revalorização de tecnologias ultrapassadas.
Ana Avelar conta que, a partir de um estudo realizado ao longo de 2020, ela percebeu o quanto as poéticas digitais tinham um lugar marginal em relação às demais linguagens. “Por isso entendemos que era necessário constituir uma coleção especial só desse tipo de trabalho. Para essa exposição, estamos interessados em trabalhos que discutam as invisibilidades sociais. Os artistas que reunimos, embora tenham diversas linguagens dentro do digital, todos eles e elas entendem que o lugar da rede social, da internet, da web, é um lugar para dar visibilidade principalmente a questões sociais a partir de um entendimento de que há uma segregação digital”, garante.
Fazem parte da coleção obras que abordam a sexualidade, a questão de gênero e a censura sofrida pelas redes sociais, mas também trabalhos que questionam como a educação no país conversa ou não com a realidade digital. Há, ainda, obras sobre feminismo no universo virtual brasileiro, segregação digital e consumo. “É uma espécie de museu digital, mas a partir da realidade digital. O que temos visto em museus e galerias hoje é a exposição presencial sendo traduzida para o meio digital. Não é isso. Nossa exposição é uma exposição digital de obras digitais, é toda pensada a partir de critérios do digital”, avisa a curadora.
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