Depois de uma longa temporada, no ano passado, em cartaz com as peças Os Saltimbancos e O Rinoceronte, a Agrupação Teatral Amacaca (ATA), sob a direção de Hugo Rodas, apresenta Poema/Confinado. O trabalho, criado à distância durante a pandemia do novo coronavírus, integra a programação da 21ª edição do Festival Internacional de Teatro de Brasília e está disponível no canal do evento no YouTube.
De antemão, a companhia esclarece que Poema/Confinado não é teatro como tanto atores e diretores quanto público estão acostumados. "É outra potência poética que estamos descobrindo a partir da mediação do celular", descreve a atriz Camila Guerra. A montagem é uma reinvenção que mistura teatro e audiovisual, composta por cenas individuais feitas pelos atores em casa, além de outras imagens, escritos, objetos e músicas.
"O Hugo brincou com os fundamentos da linguagem visual e isso que mais nos provocou. Ele deslocou esse lugar do corpo do ator e trouxe para um trabalho mais de composição visual, uma poesia da imagem. O Hugo trabalha muito bem a imagem, mas a interpretação, nesse caso, para o ator é muito diferente", comenta Camila. Como exemplo, a atriz cita cenas nas quais o corpo do ator não está visivelmente presente, como quando André Araújo lança mão da tradicional câmera lenta presente nos trabalhos de Hugo Rodas, mas opera o movimento com a câmera do celular e o espectador não o vê. Nessa composição mediada pela tecnologia, as residências dos artistas passaram a fazer parte da narrativa. "Esse trabalho é um pouco sobre ressignificar os cômodos, brincar com os móveis", explica Camila.
Antonin Artaud
Apesar da concordância com o contexto atual, Poema/Confinado começou a ser construído em 2017, quando a ATA preparava um espetáculo cujo título se inspirava em um poema de Antonin Artaud chamado Poema: depois do sangue e tinha como elemento condutor a loucura. Outros projetos acabaram surgindo e furando a fila na concretização de Poema/Confinado.
Após um período de incertezas e angústias particulares, o grupo retomou os ensaios de maneira virtual e resgatou o texto de Artaud. "A gente é um grupo de teatro, não é porque está acontecendo a pandemia que vamos deixar de estar juntos. Então, o Hugo pediu para escrevermos sobre os dias em isolamento e fazer experimentações. Dai que surgiram, já em abril, as primeiras cenas que entraram neste corte final", relembra Camila.
Inspirada em diferentes nuances da angústia, a criação reúne então, além de imagens levantadas pelos artistas em 2017, experimentos criados em isolamento. Entre setembro e outubro, a montagem foi ganhando corpo e forma por meio do laboratório cênico Ato da ATA, uma série de lives nas quais os atores testaram cenas, dirigidas ao vivo por Hugo Rodas para chegar à concepção final do Poema/Confinado.
Garra
Além do trabalho inédito da Agrupação Teatral Amacaca (ATA), a primeira etapa do Cena Contemporânea 2020 contou com a participação de outros grupos brasilienses. Ao todo, foram sete mini performances: Baque, da Andaime Cia de Teatro; Buraco, da Cia VíÇeras; AntaGônicos, do Celeiro das Antas; Joana, do Grupo Embaraça; comofazerabsolutamentenada.mov, do Grupo Liquidificador; Mp3 - A Missão, do Grupo Tripé; e Drops Telecotidiano, do Novos Candangos.
As companhias integram o coletivo GARRA - Grupo de Artistas em Rede Associada, criado em meio à pandemia do novo coronavírus, para fortalecer a produção teatral brasiliense por meio de um financiamento coletivo contínuo.
Os interessados podem contribuir direta e ativamente para a manutenção e a sobrevivência dos artistas e dos grupos. São três categorias de contribuição na plataforma Apoia.se e, uma vez em rede, os apoiadores colaboram com a continuidade do fazer teatral e recebem facilidades no seu acesso a cursos, espetáculos, processos, workshops, performances, eventos, etc.
O dinheiro é dividido de forma sempre igual entre as agrupações, e uma parte será destinada à política de partilha, que visa colaborar com outros coletivos, ações e projetos do DF.
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