Consolidadas por bons desempenhos nas premiações, as produções audiovisuais brasileiras têm crescente projeção na indústria cinematográfica. São os nomes do momento: Bárbara Paz, Wagner Moura, Jeferson De, Maya Werneck Da-Rin, Gil Baroni, entre outros. Na teia de produções audiovisuais recentes, filmes brasileiros conquistam um espaço bastante representativo nos cinemas e nas premiações, fortalecendo a criação nacional.
“É muito difícil atribuir razões específicas para o sucesso atual do conjunto da produção brasileira, mas o que é possível afirmar é que é fruto de um investimento de longo prazo, com ações concatenadas que foram sendo implementadas pelo Estado Brasileiro, associadas a investimentos específicos realizados pelos próprios realizadores. Não é segredo para ninguém que o brasileiro é um povo muito criativo, empreendedor e com grande empatia pelo próximo. Sempre que ele tiver condições de produzir filmes, o cinema brasileiro tenderá a conquistar boa repercussão dentro e fora do país”, afirma o diretor, produtor e roteirista Marcus Ligocki Jr.
Como os ciclos para a produção de um filme são longos, ainda é muito difícil fazer uma avaliação sobre o impacto da pandemia no cinema. “A primeira coisa que pensamos é na suspensão das produções, impondo prejuízos, e num longo período com as salas de cinema fechadas. Mas se olhamos com um pouco mais de atenção, percebemos um grupo expressivo de produtores, distribuidores e exibidores muito competentes tentando sobreviver por meio do trabalhando duro em inovações que sejam capazes de contribuir para o fortalecimento da atividade diante dos desafios. Tendo a ser otimista e acredito que sairemos desta mais fortes”, completa o brasiliense.
Paixão
Após diversos trabalhos como atriz, Bárbara Paz estreia como diretora do longa-metragem Babenco — Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou. A vida e a paixão de Hector Babenco, ex-marido de Bárbara, são apresentadas no documentário que reúne relatos marcantes sobre as memórias, amores, reflexões, intelectualidade e a frágil condição de saúde do cineasta, além disso a obra revela como o amor dele pelo cinema o manteve vivo por tantos anos, após uma luta de mais de 30 anos contra o câncer. O cineasta argentino, que escolheu o Brasil como moradia, se desnuda em situações intimas e dolorosas ao traçar um paralelo entre a arte e a doença.
“Dirigi alguns curtas, alguns programas de televisão, mas de fato como filme é o primeiro. Estou contente. Espero que as pessoas assistam no cinema, fiz esse filme para o cinema, com som maravilhoso, é outra atmosfera. Além disso, sempre que vejo, vejo algo novo, algo que me emociona em ver meu próprio filme. Era o filme que eu queria ter feito”, conta Bárbara Paz em entrevista ao Correio.
O documentário estreou nos cinemas nacionais na última quinta-feira, mas antes disso, teve a estreia mundial no ano passado, durante o Festival de Veneza, quando recebeu o prêmio de melhor documentário na mostra Venice classics. Babenco — Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou também abocanhou o prêmio de melhor documentário no Festival de Mumbai, na Índia.
A produção tenta indicação ao Oscar na categoria melhor filme internacional. A obra se destacou em uma lista de 19 produções nacionais e marca mais um pioneirismo: é a primeira vez que um documentário é escolhido como representante do país na principal premiação do cinema do mundo — o longa busca uma vaga ao lado de 92 países. O resultado dos indicados será revelado em 15 de março. “É muito lindo terem escolhido um documentário, este ano pela primeira vez na história do Brasil, ainda mais um documentário de uma mulher. Isso é muito importante. As mulheres no poder”, complementa a cineasta.
Teor político
Entre as futuras atrações, Marighella, com roteiro escrito por Wagner Moura e Felipe Braga, é também um dos destaques nas premiações. Ano passado, o longa foi exibido no Festival de Cinema de Berlim e, desde então, segue promissor na carreira com previsão de estreia em 14 de abril 2021 nos cinemas nacionais, após alguns adiamentos em decorrência de complicações com a Agência Nacional do Cinema (Ancine).
As críticas estrangeiras foram, em maioria, positivas. No entanto, muitos acusaram tratamento superficial à trama. A revista Hollywood Reporter, por exemplo, afirmou que Wagner Moura fez um “desserviço ao legado de Marighella ao reduzi-lo a um lutador pela liberdade humanitária combatendo inimigos fascistas unidimensionais”.
Com grande teor político, Marighella é a cinebiografia do ex-deputado, poeta e guerrilheiro brasileiro Carlos Marighella, assassinado pela ditadura militar em 1969. O filme é uma adaptação do livro Marighella — O guerrilheiro que incendiou o mundo, de Mário Magalhães.
Representatividade
Alice Júnior exala diversidade por meio das telas. Dirigido por Gil Baroni e escrito por Luiz Bertazzo e Adriel Nizer Silva, a produção não passou despercebida no 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e abocanhou quatro vitórias de Candango: melhor atriz (Anne Mota), melhor atriz coadjuvante (Thaís Schier), trilha sonora e montagem. Com 16 prêmios e outras 27 seleções/indicações em festivais brasileiros e internacionais, Alice Júnior esteve entre os 18 pré-candidatos para indicação de filme brasileiro ao Oscar.
“Enquanto mulher trans ganhar melhor atriz em um dos maiores festivais de cinema do Brasil é extremamente simbólico e representativo por que já não estou aqui somente exibindo o filme que protagonizei, estou ocupando esse espaço. É uma revolução”, revelou Anne Mota ao Correio, no ano passado, após receber o prêmio em Brasília.
No limiar da comédia, a obra narra a história de uma adolescente trans que investe o tempo fazendo vídeos para o YouTube. Até que o pai dela é transferido de Recife para Araucárias do Sul, e eles precisam se mudar. Na nova escola, a jovem enfrenta preconceitos ao se deparar com uma sociedade mais retrógrada do que estava acostumada. O desejo da menina é dar o primeiro beijo, mas, antes de tudo, quer o direito de ser quem ela é.
Racismo estrutural
M8 — Quando a morte socorre a vida, do diretor Jeferson De, chega aos cinemas nesta quinta-feira. Com uma leitura racial, a história traz Maurício (Juan Paiva), estudante cotista de medicina, que luta incansavelmente contra o racismo estrutural e a desigualdade existentes na sociedade.
O drama sobrenatural, que foi adaptado do romance de Salomão Polakiewicz, traz o momento em que o jovem precisa dissecar o corpo de um homem negro, chamado de “M-8” e acaba se envolvendo com a história do falecido. Assim, ele passa a investigar a própria identidade ao perceber que se assemelha com os cadáveres da trama.
A arte imita a vida
Pureza, filme produzido por Marcus Ligocki Jr e dirigido por Renato Barbieri, conta a história real de uma brasileira que com uma atitude heroica ajudou o país a promover desenvolvimento social. Dona Pureza Lopes Loyola desmascarou um esquema de trabalho escravo contemporâneo ao ir atrás do filho de 19 anos desaparecido após partir em busca de uma oportunidade de emprego.
Na busca incansável pelo filho, Pureza se emprega como cozinheira em uma fazenda, onde testemunha o tratamento brutal de trabalhadores. Ela escapa e denuncia os fatos às autoridades federais. Sem credibilidade e lutando contra um sistema forte e perverso, retorna à floresta para registrar provas.
“Pureza é um lindo filme que sintetiza o modelo de produção construído com muito esforço no Brasil, e aponta para a popularização de filmes com temas de relevância social. O filme foi criado e estruturado em Brasília e integrou talentos do Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e da Califórnia, para a realização. Além disso, teve a construção embasada na participação e no apoio de mais de duas dezenas de respeitadas organizações que historicamente atuam no Brasil e no mundo pela erradicação do trabalho escravo contemporâneo”, pontua Ligocki Jr.
Estrelado por Dira Paes, a produção é rodada no Pará, e chega aos cinemas em 14 de dezembro, após conquistar prêmios no Seattle Latino Film Festival, Inffinito Film Festival de Miami e NY e no FAM 2020.
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira. Colaborou Roberta Pinheiro
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A divisão, de Vicente Amorim e Rodrigo Monte
A febre, de Maya Werneck
Alice Júnior, de Gil Baroni
Aos olhos de Ernesto, de Ana Luíza Azevedo
Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, de Bárbara Paz
Casa de antiguidades, de João Paulo Miranda Maria
Cidade pássaro, de Matias Marini
Jovens polacas, de Alex Levy-Heller
M8 - Quando a morte socorre a vida, de Jeferson De
Macabro, de Marcos Prado
Marighella, de Wagner Moura
Minha mãe é uma peça 3, de Susana Garcia
Narciso em férias, de Ricardo Calil
Pacarrete, de Allan Deberton
Pureza, de Renato Barbieri
Sertânia, de Geraldo Sarno
Todos os mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra
Três verões, de Sandra Kogut
Valentina, de Cássio Pereira Dos Santos.