Com curadoria dos Irmãos Guimarães, chega ao Casapark a mostra Mandacaru - um presépio de Natal, com obras de cinco representantes da cultura popular brasileira. Entre 3 de dezembro de 2020 e 6 de janeiro de 2021, o público poderá conferir uma releitura, cheia de brasilidade, do nascimento do menino Jesus, esculpida em madeira e expressa em cor.
Os escultores Célio de Souza, de Fortaleza (CE); Francisco Graciano Cardoso, de Brejo Santo, Barbalha (CE); Ismael de Dedé de Lagoa da Canoa (AL); e José F. Lagoa da Canoa (AL); e a tapeceira Míria Tomé de Belo Horizonte (MG) foram convidados, pelos curadores Adriano e Fernando Guimarães, para dar forma a personagens já conhecidos do Natal, como o menino Jesus; Maria; José; os reis magos; e os animais, mas com a liberdade de traduzi-los em elementos da cultura popular.
Os irmãos Guimarães contam que a mostra surge de um interesse de muitos anos nos artistas populares e destacam que, infelizmente, têm exposição muito reduzida em mostras e museus. A partir da curiosidade, também aprenderam de que maneira o conhecimento é passado nessa expressão da arte nacional. “Para a seleção dos artistas dessa mostra, colocamos o critério de trabalhar com artistas vivos, que ainda estão trabalhando e atuantes. Na maioria das histórias dos artistas populares, a arte surge como uma tradição que começou com os bisavós, que passam para os avós, que [por sua vez] passam para os pais e agora está com eles. Demos prioridade para essa geração poder falar do próprio local, da região e da própria história nas obras”, explica o curador Adriano Guimarães.
Já a ideia de trazer um presépio para a Praça Central do shopping surge como uma inovação dos elementos natalinos, assim como o resgate de uma tradição.“Todo ano, no Casapark, é exposta uma árvore. Para isso, chamam designers e artistas. Este ano, a gente propôs um presépio. O presépio, como a árvore, ultrapassou as questões puramente religiosas. É um símbolo de Natal, encontrado em vários países. O shopping comprou a ideia, e gostamos da possibilidade de mostrar outros elementos”, explica Fernando Guimarães. Apresentando obras que chegam até 2,5 metros, Mandacaru traz cor e brasilidade, com os animais da fauna brasileira e técnicas como a tapeçaria e a escultura em madeira.
Com o poder da arte de sensibilizar, os curadores esperam que a mostra seja uma forma de trazer amor e ajuda ao próximo, assim como outras mensagens típicas do período, em um ano tão atípico e difícil. “Um outro motivo importante para querermos trabalhar com cultura popular, é que estivemos em um ano atípico. Os artesãos e demais artistas populares passaram por muita dificuldade durante a pandemia por falta de vendas. E unimos essa ideia ao desejo de trabalhar com a arte popular em uma exposição mais abrangente. Este ano, os valores do Natal serão passados por meio das obras desses artistas populares, e da forma como enxergam esses valores”, destaca Adriano.
“É também um espaço para tornar um pouco mais visível essa nossa arte popular. Este é um shopping de design contemporâneo. Tem muita coisa bacana, mas quando trazemos um trabalho artesanal, feito por artistas populares do interior, as pessoas podem ver outras possibilidades para levarem para casa ou para exposições”, completa Fernando.
Conheça os artistas
Míria Tomé – Madame Frufru
De Belo Horizonte – Minas Gerais
Os tapetes que Míria Tomé confecciona em malha costurada sobre forro antiderrapante remontam uma tradição familiar de várias gerações, do interior, que retomou anos depois de ir para a cidade, em 2015. A artista é ex-militar, ex-confeiteira, ex-cabeleireira, e ao encontrar um tapete parecido com os que a avó fazia em uma feira, resolveu retomar os conhecimentos a partir de uma pesquisa. Comprou uma máquina, tecidos e passou a fabricar e vender na feira. A qualidade e o acabamento chamaram a atenção da empresária Mary Arantes, da Quermesse da Mary, que seu trabalho ganhou destaque. O perfil do Instagram da artesã é @madame_frufru.
Francisco Graciano Cardoso
De Brejo Santo – Barbalha - Ceará
O processo artístico de Francisco Graciano Cardoso passa pela imaginação, depois o risco e a partir daí a escolha da madeira em que cabe o personagem. Escultor tarimbado, trabalha com madeiras como a imburana e a cambão. O artesão conta, em nota, que a inspiração vem em sonho, e por isso nenhuma peça é igual a outra. Aprendeu o ofício com o pai, mestre Manuel Graciano Cardoso, e há 25 anos vive de arte. Hoje, produz esculturas em grande formato usando madeira morta, das que caem ou que morrem naturalmente. Para modelar o tronco usa formão, faca, facão e machadinha para talhar peças que chegam às vezes a 1,5 a 2 metros de altura. Os trabalhos podem ser vistos em galerias de São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York, ou em coleções privadas brasileiras e no exterior.
Célio F. Souza
De Fortaleza - Ceará
Célio F. Souza desde os 18 anos se dedica à arte de entalhar a madeira. Começou a interessar-se pela profissão ainda na adolescência. Nesse tempo, há pouco mais de 30 anos, morava na casa dos fundos do renomado artista cearense Francisco da Silva. A casa era frequentada pelos assistentes do artista, com quem fez amizade. Como um convite, recebeu um jogo de fomões, fez cursos com o também renomado artista Sérvulo Esmeraldo, com a curadora Dodora Guimarães, Mestre Zezito, entre outros. Hoje, Célio faz trabalhos com madeira morta, reutilizada e reciclada. Os trabalhos, com temática voltada para a natureza e a questão ambiental, apresentam cabeças, rostos, totens simbólicos, entre outros.
José F.
De Lagoa da Canoa – na região do Agreste de Alagoas
Foi somente há seis anos que José Afrânio começou a trabalhar como artista. A primeira peça em madeira, um sanfoneiro, foi a responsável por levar o trabalho para um outro patamar. Sozinho aprendeu a entalhar no fundo do quintal de casa e fez a primeira exposição individual em Maceió. O trabalho pode ser visto em galerias de São Paulo e de Natal, e as obras estão em importantes coleções privadas brasileiras. A produção tem características que remetem à arquitetura e à arte vinda dos colonizadores europeus, a história da formação da região e a religiosidade às tradições, à luz e à cor locais. As cores preferidas são o laranja, o azul e o vermelho. Segundo ele, são cores fortes que se unem ao verde e amarelo para fazer figuras populares como Zumbi dos Palmares, mulher com lata d’água na cabeça, arte santeira, como São Francisco de Assis, Cosme e Damião. As esculturas são feitas em madeira de jaqueira ou cedro vermelho, mais resistentes.
Ismael de Dedé
De Lagoa da Canoa – Região do Agreste de Alagoas
Ismael de Dedé nasceu em uma família que há quatro gerações vive das invenções da alma. O bisavô, que era escultor, ensinou o ofício ao avô, que trabalhava com carros de boi e bonecos de argila. O conhecimento foi passado para o pai. Ismael herdou o gosto do pai por esculpir São Francisco, São Jorge, Das Dores, homens nos pássaros, homens sobre tartarugas. O artista trabalha com madeira de cedro, jaqueira e imburana. Para ele, o artista popular que tem um dom, não importando a madeira. Com um repertório de temas variados, na produção dele podem ser encontrados bancos de bichos - leão, onça -, figuras de mulher, homem, de histórias do tempo da escravidão dos negros, dos capatazes, do homem pisando milho na roça, do presépio. Ele também deseja montar um projeto para ensinar a cultura popular às crianças.
Serviço
Presépio de Natal do Casapark - Mostra Mandacaru
Praça Central do Casapark (SGCV Sul Lote 22, Park Sul, Brasília-DF). De 3 de dezembro de 2020 a 6 de janeiro de 2021. De segunda a sábado, das 10h às 22h; domingo e feriados, das 12h às 20h. Gratuito. Livre para todos os público.