Durante anos, HQs escritas e idealizadas apenas por homens preencheram as bancas de jornal. Com a força da internet, as mulheres acabaram ganhando espaço e se destacando no formato em quadrinhos criando histórias a partir de uma perspectiva feminina. Até então, em falta no mercado.
Assim é com Carol Ito, quadrinista e jornalista de 27 anos. Ela é criadora do projeto Políticas, que divulga quadrinhos políticos feitos por mulheres nas redes sociais, e também autora da série Quarentiras, publicada semanalmente no Instagram da Revista Tpm.
Carol destaca que, historicamente, muitas vezes a indústria deixou de reconhecer, repercutir e registrar o trabalho de mulheres como dedicaram o tempo ao trabalho dos homens. “Ainda é difícil encontrar informações aprofundadas sobre artistas mulheres, principalmente, sobre as que atuaram na imprensa brasileira ao longo do século 20”, destaca.
A artista afirma ser necessário que mulheres e pessoas não binárias passem a ocupar mais espaços de destaque no meio para que os leitores tenham acesso a narrativas diversificadas, capazes de dialogar com a complexidade do mundo. Nos quadrinhos idealizados e feitos pelas mãos dela, Carol Ito consegue, de forma leve e divertida, transformar o “novo normal”, trazido pela quarentena, em histórias.
Diversidade nos quadrinhos
Diversidades de gênero e de raça são fortes no mercado independente. A internet possibilita a publicação e o alcance de trabalhos muito mais voltados a esses temas. É o que defende Gabriela Borges. Ela é jornalista, pesquisadora e mestre em antropologia — a pesquisa do mestrado foi sobre a representação da mulher e os discursos de gênero nas HQs argentinas. Em 2015, ela criou o Mina de HQ, um trabalho independente e feminista com perspectiva de gênero sobre histórias em quadrinho.
Em comemoração aos cinco anos de existência do Mina de HQ, Gabriela criou a própria revista impressa este ano, que carrega o mesmo nome do projeto. Ela uniu mulheres para fazerem quadrinhos e produzirem conteúdos exclusivos para o trabalho, a ser lançado em dezembro.
“Agora tem um movimento grande de buscar mais diversidade. Mas por muito tempo era muito difícil você ver um quadrinho nacional de uma mulher sendo publicado por uma grande editora. A internet e as redes sociais permitem um contato mais direto com o público, mas é muito difícil, de fato, ganhar dinheiro. São várias dificuldades de não ter esse apoio do mercado mainstream, porque é onde está o dinheiro”, destaca Gabriela Borges.
Cenário do maistream
O mercado do mainstream ainda é dominado por homens. Seja na literatura, no cinema, ou nos quadrinhos. E não é por falta de interesse das mulheres nos assuntos. Quando se trata dos desenhos e das histórias em quadrinhos, Sarah Andersen, Hannah Hillam, Liz Climo, Ana Godis, Cecília Ramos e Helo D'angelo são algumas das inspirações de Isabelle Nogueira.
A designer gráfica, ilustradora e arquiteta por formação tem 24 anos. Também é criadora do Quarentina, um Instagram de tirinhas que ilustra as problemáticas envolvendo a quarentena de forma divertida.
O projeto surgiu na pandemia, pensado junto com o pai, como uma válvula de escape. Para Isabelle, as tirinhas contribuem para a formação de opinião e, por isso, é importante ter responsabilidade na hora de criá-las. “Você está ajudando a moldar a sua sociedade”, completa.
Para ela, é necessário “desvincular a ideia de que para uma tirinha ser boa ela deva se fiar em abordagens depreciativas e preconceituosas e ter espaço para desconstruir velhos hábitos”. A artista tem convicção de que o número de quadrinistas e leitores está em crescimento e, com isso, um mercado mais democrático será construído.
*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel