Um grupo de pessoas senta em torno de uma mesa para contar uma história. Este é o cerne do RPG, jogo que há décadas reúne amigos para viverem por horas na pele de personagens em mundos mágicos. Em um passado recente, o jogo enfrentou mudanças e atualmente vive uma nova fase, em que pessoas jogam RPG para produzir conteúdos na internet, em formato de livestreams ou webséries, e novos usuários se encontram virtualmente para contar essas histórias.
“Nessa redescoberta do jogo, houve a reinvenção do modo virtual e naturalmente as pessoas começaram a produzir conteúdo com o RPG: canais de YouTube, webséries, tudo isso de grupos de pessoas jogando RPG”, conta Pedro Coimbra, produtor de conteúdo on-line na Twitch com o canal Mestre Pedrok e também participante do canal do YouTube Formação Fireball. “Houve um grande avanço que é chamado de virtual table top, que são plataformas que fazem possível colocar rolagem de dados on-line, miniaturas, mapas e até trilha sonora para o jogo criando um ambiente legal. Basicamente tudo que você podia fazer numa mesa normal, você pode fazer de maneira virtual”, explica Mestre Pedrok.
“As ferramentas virtuais para jogar RPG são muito boas, dá para colocar o mapa e as imagens na tela, a ficha roda os dados automaticamente, faz as somas sozinha. Acaba ficando mais fácil para acompanhar, o jogo flui mais”, pontua Luiza Mendes, streamer na Twitch no canal Lesbigaming ao lado da namorada Bel Ollaik. “É uma experiência diferente, não é melhor ou pior, as duas têm suas vantagens e desvantagens, mas é muito proveitosa esta situação, porque você conhece pessoas e modelos de jogos diferentes”, acrescenta Bel.
A plataforma virtual facilitou o acesso ao jogo para pessoas que nunca tinham jogado e transformou o RPG também em um entretenimento para ser assistido por horas on-line. O próprio Mestre Pedrok teve a oportunidade de jogar mesas com o YouTuber Cellbit e com os atores do Choque de Cultura Caito Mainier e Leandro Ramos. “Quando começou a questão do isolamento social, comecei numa missão de mostrar o RPG para mais pessoas”, afirma Pedro, que convidou a maioria das pessoas famosas na intenção de trazer mais público para assistir as lives. “Quando você vê uma pessoa que você admira fazendo uma coisa e se divertindo, você sente vontade fazer também, ou pelo menos conhecer”, afirma o streamer.
Com o crescimento deste ambiente, a diversidade aumentou. Luiza Mendes fez parte desse processo, ela foi convidada para quinta temporada de uma websérie chamada Jogando RPG, e percebeu que só fato de ocupar o espaço estava abrindo as portas para que outras mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+ entrassem para o mundo do jogo. “Várias pessoas da comunidade me mandaram mensagem (dizendo) que começaram jogar por me ver lá, num espaço em que geralmente não se via pessoas como eu”, conta Luiza. “É uma experiência legal poder tocar a vida das pessoas de uma forma positiva”.
“Qualquer coisa associada à cultura nerd tem esse estigma de que é para homens, brancos, barbudos e os homens brancos, héteros e cis ainda são maioria no RPG. O que não tem nada de errado, desde que tenha espaço para todo tipo de gente” ressalta Bel Ollaik. “Acho que cada vez mais o RPG está se tornando um espaço para todos e fico muito feliz de participar, ter um espaço e mostrar para as pessoas de que esse espaço é nosso”, completa.
Afinal, Como se joga RPG?
Mestre Pedrok é criador de um mundo no RPG de nome Skyfall, uma história que vai virar um livro de instruções em 2021 para qualquer pessoa adaptar no próprio RPG. “É um cenário de fantasia trágica, num ambiente que lembra um medieval fantástico, mas onde a magia se tornou tão comum que substitui a tecnologia e todo o clima de desenvolvimento social e mágico por algo chamado ‘As Quedas’, gigantescas ilhas que caem do céu e quando tocam o solo destroem tudo que tocaram. É um mundo pré-apocalíptico, então os heróis devem tentar salvar o mundo do fim, ou resolver questões causadas por esta ameaça que assola o planeta”, explica o streamer.
O produtor de conteúdo acrescenta que RPG que tem no princípio a socialização: “Independentemente de qual o cenário, o jogo funciona mais ou menos da mesma forma. Vai ter uma pessoa responsável por dizer os conflitos da história e narrar o que está acontecendo, e os outros jogadores interpretam personagens.”, comenta o Mestre. “As regras e os dados ditam as chances das ações dentro do jogo darem certo ou errado, e o mestre, que narra o jogo, tem a função de criar problemas, situações de conflito, colocar outros personagens na história e no fim acabam todos juntos contando uma história”, adiciona sobre a importância de cada parte do jogo.
No final de tudo, o que importa é a diversão dos jogadores que se reuniram para a mesa. “Tem um monte de coisas no RPG que você pode se divertir fazendo. Interpretar, explorar, conversar, rolar os dados. Nem que seja só escutar a história e depois chegar em casa e desenhar”, avalia Luiza. “ RPG só existe, se existe a socialização, isso gera um movimento interessante de pessoas que estão jogando nem tanto pelo jogo mas pelas interações sociais que ele promove”, coloca Pedrok.
*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel
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