Uma mulher trans, militar e católica. Essa é Maria Luiza, personagem central que dá nome ao documentário de Marcelo Díaz. O filme conta a história da vida dela e de todos os desafios e mudanças envolvidos na trajetória de uma mulher trans dentro do meio militar, cuja luta foi revelada em série de reportagens do Correio, de autoria do repórter Marcelo Abreu. O longa chega aos cinemas nesta quinta-feira (19/11) para mostrar nos detalhes o que Maria Luiza passou, das descobertas sobre si própria, interesses pessoais e toda vida dentro das Forças Armadas Brasileiras (FAB).
“Esse filme tocará as pessoas, ele é feito para gerar impacto diálogo e, principalmente, construir pontes”, explica o diretor Marcelo Díaz em entrevista ao Correio. O cineasta conta que a intenção é mostrar de forma delicada e bonita uma história que conversa de uma forma diferente com diversos públicos.
O filme retrata da infância à idade adulta da personagem central, apresentando desde como ela fazia tranças no cabelo do milho por não poder ter bonecas até o momento em que foi aposentada por invalidez da FAB sem provas de que ela estaria inapta ao serviço militar. “A história é basicamente sobre uma pessoa que quer ser feliz e que está tentando se colocar no mundo do jeito que ela é e sempre quis ser”, relata o diretor. O processo do filme durou 10 anos, contando o primeiro contato entre Marcelo e Maria até o produto final.
O principal ponto do filme está no formato em que retratam a história, o silêncio é protagonista ao lado de Maria Luiza. “O silêncio está em todas as partes do filme, a experiência identitária dela tem o silêncio como parte muito importante, então o silêncio fala muito no filme, inclusive o silêncio das Forças Armadas sobre o caso”, comenta Marcelo Díaz. “A escolha por estes momentos tem a ver com a resiliência de Maria Luiza, ela sempre teve essa qualidade em toda timidez dela”, adiciona.
“Nem eu conhecia o termo transsexual, eu só me entendia como mulher e queria viver neste mundo”, conta Maria Luiza. A militar da reserva sempre amou o serviço que exercia nas Forças Armadas, independentemente das mudanças que passava na vida pessoal. No entanto, Maria nunca teve a oportunidade de vestir uma farda feminina, foi aposentada por invalidez em meio ao processo de transição e luta para que o erro seja reconhecido.
Os preconceitos e processos difíceis que Maria Luiza passou são retratados no filme, não de forma a demonizar a FAB, mas no intuito de mostrar que muitas pessoas fizeram este tipo de ação com ela e a instituição ainda se omite a falar do caso, não foi permitido nem que cenas fossem gravadas em dependências militares. “Seremos resistência”, pontua o diretor sobre como o filme se posiciona em relação a toda LGBTfobia enraizada nas instituições brasileiras.
“Se as forças armadas entenderem que é possível se humanizar e assumir que erraram com Maria Luiza, darão um pequeno passo, mas pequenas coisas geram mudanças”, analisa Marcelo Díaz. “Quem fez isso comigo não foram as Forças Armadas, foram as pessoas que estavam lá no comando”, afirma Maria Luiza, que ainda tem fé que dias de menos preconceito virão tanto no meio militar quanto no Brasil.
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*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira
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