No ano do centenário de Lygia Clark (morta em 1988), uma das principais referências do neoconcreto no abrangente circuito nacional com forte apreciação em Nova York e em Paris; muito da vida da artista está em foco no longa brasiliense Sonia e Lygia. Dirigida por Maria Maia, às 18h de hoje, a produção estreia no canal Arte 1. Aposentada pela TV Senado e com 63 filmes no currículo, depois de cercar personagens como Machado de Assis, Juscelino Kubitschek e Cândido Portinari, Maria Maia optou por estudar Lygia e a irmã dela, Sonia, dada a intensidade e o aspecto poético embutido nas criações multimídia de ambas.
“Gosto da mistura de imagem e palavra. Mexo com desenhos, pinturas, poesias, fotografias e ensaios. Lido com a escritura fílmica, entre ficção e documentário. No longa, busco a dramaturgia do enredo e da forma, nos planos e na montagem. Senti minha criatividade estimulada. Sonia e Lygia trazem questões da mulher, na modernidade e no pós-moderno, sendo artistas fortes e que tiveram apoio da riqueza libertária do avô, Edmundo Lins. Sonia e Lygia estiveram num patamar altíssimo. Inspiro-me nelas, que resolveram questões complexas com a arte”, conta a diretora do filme.
As irmãs escreviam sobre arte em suplemento comandado por Reynaldo Jardim e que trazia reflexões de Ferreira Gullar, Hélio Oiticica e Lygia Pape, entre cabeças que assinaram manifesto neoconcreto, em fins dos anos de 1950. No batente, eram artistas que refutavam aspectos técnicos e funcionais do concretismo, e prezavam a aproximação da arte com a vida, por meio da criação de objetos artísticos sensoriais e prezavam por paradigmas de subjetividade nas criações.
“Carne e unha, as irmãs eram complementares”, como sublinha Maria Maia. Ela diz ter embasado muito da fita nos nove romances assinados por Sonia Lins. A escritora e artista plástica concedeu uma entrevista em 1998, que também serviu de base para o filme, com muitas cenas gravadas em celular, mas finalizada, em 2020, com tecnologia 4K.
Inscrito para o Festival de Brasília, Sonia e Lygia é estrelado por Bidô Galvão e Yeda Gabriel, outra atriz local, numa produção criada com profissionais da cidade e aos custo de R$ 300 mil, numa produção livre do uso de investimentos provenientes de políticas públicas. Para viver Lygia, dada a densidade da personagem, Maria Maia conta que optou por Bidô que “é dramática no olhar e nos gestos”.
“Tentei me aproximar da qualidade e do estado concentrado de Lygia; ela era mais soturna e introspectiva, em contraponto obra de reconhecimento mundial. Lygia foi inovadora na expressão, frente a um público que não é passivo”, comenta Bidô Galvão. De difícil categorização, as obras de Lygia chegaram a ser comercializadas até por US$ 2,2 milhões, isso sem falar do constante interesse de instituições como o MoMA (Museu de Arte Moderna de NY). Depois de interpretar Dulcina de Moraes, num longa assinado por Glória Teixeira, Bidô conta que para a composição de Lygia, seguiu caminho similar: “Não se tratava de parecer com a personagem, acho complicado imitar. Busquei captar o estado dela, em fotografias, principalmente”, conclui.
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