Música

Renato Matos: "No Brasil, quando a gente é negro tudo é difícil"

Mesmo com adversidades, Renato Matos fez história na capital e na música

Geovana Melo*
postado em 17/11/2020 07:43 / atualizado em 17/11/2020 09:46
Renato Matos é considerado o pai do reggae da capital -  (crédito:  Ed Alves/CB/D.A Press)
Renato Matos é considerado o pai do reggae da capital - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Com mais de 40 anos na capital, o cantor e compositor baiano Renato Matos desembarcou em Brasília em 1974, aos 21 anos, para uma exposição de pintura e, hoje, se tornou um dos principais nomes da cena artística brasiliense. “A exposição foi sucesso, terminei ficando um tempo aqui. Depois, fiz teatro e por aí vai”, lembra o músico.

Tempos depois, Neio Lúcio Ribeiro abriu a galeria Cabeças, onde segundo Matos era um local parado, mas foi só pedir ao amigo para trazer música para o lugar que tudo mudou. “Ali, começou o Concerto Cabeça, a galeria passou a ter filas e marcou também o começo do tropicalismo em Brasília”, afirma. Ele foi o primeiro artista a se apresentar no local, que depois recebeu Cássia Eller, Oswaldo Montenegro, Zélia Duncan, Renato Vasconcellos, Jaime Ernest Dias, Beth Ernest Dias, Mel da Terra e outros nomes.

“A gente tinha essa abertura, uma coisa meio Bauhaus e todo mundo se expressava com música, pintura e outras artes. As pessoas desciam do bloco para ver, mas com a internet essas coisas foram mudando”, declara o baiano de coração brasiliense, que afirma que a cidade o acolheu e curte o trabalho dele.

O artista múltiplo, considerado o pai do reggae da capital, é responsável por sucessos marcantes como Um telefone é muito pouco, canção que marca o imaginário de muitas pessoas. O regueiro ainda homenageou a cidade com Menina do parque e Chorinho do Beirute. “Tenho um ecletismo, fico fazendo de tudo”, comenta. As veias artísticas passaram de geração para geração. O cantor é pai de José Maia designer e artista plástico, da rapper Flora Matos, e do cantor e ator Cae Maia.

Ao ver uma carreira tão estruturada como a de Renato Matos, o público nem imagina as dificuldades. “No Brasil, quando a gente é negro tudo é difícil. Se for indígena então é pior. Ser gay então, nem pensar”, lamenta o artista múltiplo. “Não me considero negro nem mulato. Eu sou é preto, minha pele é feita das misturas”, afirma o baiano Renato Matos. “A história tem dessas psicologias e as pessoas têm que valorizar mais as outras e, principalmente, respeitá-las”, pontua.

Três perguntas / Renato Matos

Você está na estrada há anos. O que você aprendeu nesse tempo?

Não aprendi nada. Agora que estou aprendendo, porque para aprender, a gente tem que passar pela estrada antes e ainda estou na estrada, continuo aprendendo, e refletindo com a idade.

Qual foi o momento mais glorioso da sua carreira?

Há alguns momentos. Um show com o Gilberto Gil no Festival Latino-Americano. Outro foi um show que fiz com a Clementina de Jesus no Teatro Nacional, foi a coisa mais linda do mundo, tenho aqui gravado. E cantar na Universidade de Brasília (UnB) com o Zeca Baleiro, no forró do Zeca.

Qual foi o momento mais difícil?

Não tive dificuldade, não tem frustração não. Prefiro lembrar das horas boas. Mas uma vez briguei com o Jorge Ben e tenho um certo arrependimento. No dia que eu encontrar com ele, vou dar um beijo e um abraço. Eu o amo e me arrependo, talvez ele nem lembre, estava todo mundo doido mesmo.

*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira

 

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