O cinema resiste!

Em entrevista exclusiva ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília, o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, garantiu a realização do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e também comentou sobre carnaval, FAC e Teatro Nacional

O 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, após dificuldades por causa da pandemia e de quase ser cancelado, está com data marcada para ocorrer entre 15 e 20 de dezembro. As inscrições estão abertas para curtas e longas-metragens até 10 de novembro. Ontem, em entrevista concedida ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília, o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, falou sobre a realização do festival em formato virtual. Além disso, o carnaval de 2021, o pagamento da Lei Aldir Blanc, políticas de incentivo à cultura e o Teatro Nacional foram temas comentados.

Pela primeira vez, o Festival de Brasília será realizado na versão digital. O que vem por aí?
Pela primeira vez, em versão digital e também que não se restringe ao território do Distrito Federal. É uma bela notícia. Será o festival nacionalizado, transmitido pelo Canal Brasil, especializado no cinema nacional. Terá a oportunidade de ser visto e discutido em todas as regiões do Brasil, praticamente, em todos os municípios. Um presente para o DF.

Será transmitido tanto pela tevê quanto pela internet?
Também. A Mostra Brasília será no streaming do Canal Brasil, que é o Play Brasil. Temos o curador do festival, uma pessoa fantástica e que trouxe uma energia incrível para dar viabilidade a esse evento: Silvio Tendler. Dispensa apresentação, mas, para quem não conhece, é ganhador de vários prêmios e nos deu uma injeção de ânimo incrível. Tenho a imensa admiração e confiança de que tudo vai dar certo.

Apesar de ser uma edição muito diferente, essa experiência pode ser usada no futuro?
Olha, essa é uma boa questão. Inclusive, para as próximas gestões. É possível, sim, e a gente pode repensar essa forma de fazer. Vivemos um momento de pandemia em que a solidariedade não é só uma palavra, mas uma necessidade, um espírito corporativo. O momento é de união.

Uma das características do festival sempre foi a troca entre as pessoas,
a relação interpessoal e o Cine Brasília como espaço. Como fazer para manter esse tipo de clima no virtual?
Eu quero um festival como sempre foi. O Festival de Brasília, talvez, seja o mais politizado do planeta, eu ouso dizer isso. É bom que seja, qual o problema? Estamos, inclusive, em um momento muito importante, de reflexão muito séria. Mas, neste modelo, não vai impedir o debate, não. As redes sociais, hoje, no país, não têm quem escape delas. Teremos canais de discussão. Em breve, tudo será disponibilizado para a sociedade. No momento, estamos na primeira etapa, que são as inscrições, que poderão ser feitas até 10 de novembro, para, depois, começarmos a anunciar outras novidades. Eu quero muita participação, é importante isso.

O Cine Brasília é um símbolo do festival. É possível ter alguma coisa lá, respeitando as limitações deste período?
Eu não vou lhe antecipar que vai ter, porque ainda estamos vendo algumas questões de protocolo de saúde. Inclusive, eu conversei bastante com a administradora do Plano Piloto, Ilka Teodoro, e estamos planejando fazer uma exposição permanente dos cartazes que marcaram época na estação do metrô, que ganhou o nome de Cine Brasília. Talvez, a gente faça alguma cerimônia no Cine Brasília. É nossa intenção. Vamos com calma, mas acho que o Cine Brasília não pode ficar de fora. É um símbolo, como você falou.

Para a exposição, tem muito material. Não falta história...
Belíssimo material. Da mesma forma, a questão do Cine Drive-in. Nós não anunciamos em sua totalidade, mas não está descartada. É porque não quero criar falsas expectativas. Mas, o fundamental, seria a gente ter o canal de transmissão. Agora, vamos passar para algumas coisas que são varejo, mas importantes. Talvez, a gente tenha boas novidades aí pela frente.

Então, o festival está garantido com a estrutura básica e pode ir acrescentando coisas ao longo do tempo?
Isso. Acrescentar é bom, o importante é você garantir a realização. Eu vi o Cacá Diegues dizer assim: “Que seja um formato menor, com toda restrição, mas tem que fazer. O festival não pode ser interrompido. Até porque o cinema nacional está precisando de um instrumento e de uma voz como o festival de cinema de Brasília”.

No ano passado, a Mostra Brasília teve dificuldades. Como está para esta edição?
Está tudo certo, nós temos os valores. São, se eu não me engano, R$ 15 mil e R$ 5 mil para os longas e curtas. Não me recordo, mas são quatro longas e um número que não lembro de curtas. Está tudo assegurado.

O festival só tinha deixado de acontecer em alguns anos da Ditadura Militar...
1972, 1973 e 1974.

Qual seria o impacto tanto para Brasília como para o Brasil se não houvesse o festival?
Uma das coisas que mais pesou foi essa sensação de que nós tivemos a interrupção do festival. Ele tem o símbolo da crise, porque nasceu nela. Vem dos anos 1960, no momento em que o país estava em um ponto de reflexão muito acentuado. Novamente, por uma outra crise que não é política, mas sanitária, tivemos que recuar e estava me machucando.

Saindo um pouco do assunto de festival, o senhor anunciou, recentemente, que as festas de réveillon e de carnaval com o dinheiro do governo não acontecerão em 2021. Quais fatores que pesaram mais para essa decisão?
Quando eu falei aquilo, deixei bem claro que não era uma decisão oficial, mas um apontamento. Ou seja, estamos conduzindo de uma forma responsável. Se você me apresentar um protocolo para uma festa de carnaval, eu vou lhe dar um prêmio (risos). Não é uma festa do dia a dia. Para isso, é preciso que todo aparato de segurança de Estado se mobilize. Não vamos colocar recurso em uma coisa que não sabemos como estará no período do carnaval. Eu acho que a população compreende isso e sabe que o Estado não está querendo cercear a liberdade e nem a alegria do povo.

A situação dos artistas hoje é muito complicada. A Lei Aldir Blanc veio para tentar ajudar. Em que pé está a questão dos pagamentos?
A partir de quarta-feira (amanhã), estARá depositado na conta de muita gente. A novidade que o Distrito Federal tem é boa. Nós fizemos uma consulta à Procuradoria Geral e, em vez de três parcelas, estamos pagando cinco. Então, variará de R$ 3 mil, contando tudo, a R$ 6 mil, que são para àquelas pessoas, mulheres, sobretudo, mantenedoras do lar. As providências legais e administrativas das outras linhas estão sendo tomadas para, na sequência, lançarmos. Até o fim do ano, queremos ter encerrado, com toda transparência e justiça social que ela impõe aqui em Brasília.

Esse impacto todo fará o setor cultural, essa indústria que é movida com a arte, se reinventar. Quais são os caminhos a partir de agora?
Eu não quero dizer que, no DFn está todo mundo com a vida resolvida. Pelo contrário, foi um dos primeiros setores a sentir o impacto da pandemia, mas a gente tem a sensação de que, tudo que estava ao nosso alcance, foi feito de uma maneira rápida e eficiente. Nós estamos efetuando todos os pagamentos. Injetamos, na economia do DF, uma quantia considerável de recurso que chegou onde queríamos que chegasse.

O Fundo de Apoio à Cultura (FAC) é sempre um assunto que está em pauta. Como estão os processos em aberto? O que está previsto a partir de agora?
“Onde está o dinheiro do FAC?” é o que mais me perguntam. Respondo que está circulando bastante por aí. No momento em que colocarem o superávit à disposição do orçamento da Secretaria de Cultura, nós utilizaremos bem. Da mesma forma, fomos até o fim com todos os recursos que foram disponibilizados este ano. Nós trabalhamos com aquilo que está disponível para nós.

Como fazer, tendo esse dinheiro, para garantir que o FAC seja mais democrático?
Temos que ter um projeto para cultura no DF. A capital não é mais aquela que conhecíamos anos atrás. Ele é, hoje, um caldeirão de cultura. Eu não quero praticar uma política pública cultural para sustentar estruturas, de uma certa forma, obsoletas. A gente tem que diversificar, tem que democratizar, dar mais acesso, voz, ouvir mais os setores para direcionar em projetos. O Estado não tem que sustentar a cultura, ele tem que investir e apostar no agente cultural, para ele gerar emprego, renda e manter a tradição cultural viva.

Aquela pergunta que a gente espera muito que chegue a hora de não precisar mais fazer, mas como está o processo burocrático do Teatro Nacional?
Está dentro do cronograma. Em breve, vamos ter algumas coisas acontecendo, efetivamente. Há duas semanas, aproximadamente, estive com a equipe técnica da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), fizemos uma visita em locais dentro do teatro, para que pudéssemos identificar problemas estruturais. São obras que não vão aparecer para o grande público, mas que precisam ser feitas primeiro, porque, caso contrário, a casa cai. Vamos chegar lá. Ano que vem, estaremos a todo vapor no Teatro Nacional.

* Estagiária sob supervisão de Igor Silveira