Cinema

Sofia Coppola confirma legado em 8º longa da carreira 'On the rocks'

A diretora estreia o oitavo filme escrito e dirigido por ela, e já se consolida como bem mais do que apenas a filha do Francis Ford Coppola

A diretora e roteirista Sofia Coppola lança, nesta sexta-feira (23/10), o filme On the rocks. Uma produção original da Apple TV +, o longa é o oitavo escrito e dirigido pela cineasta e demonstra que Sofia já tem um estilo que vai muito além do sobrenome Coppola. Ela é filha do famoso diretor Francis Ford Coppola.

A cineasta trilhou um longo caminho para chegar ao filme lançado esta semana, e neste trajeto foi construindo um estilo de cinema próprio. Os filmes de Sofia Coppola falam de personagens que estão insatisfeitos com a própria realidade e que querem desbravar o mundo “que está lá fora”, inclusive a cena do protagonista olhando por uma janela é muito recorrente.

Outra característica marcante é a parceria com atores e atrizes de Hollywood. Bill Murray fez Encontros e desencontros, A very Murray Christmas e agora On the rocks. Rashida Jones também esteva no especial de natal da Netflix, A very Murray Christmas. Outras duas atrizes recorrentes em filmes de Coppola são Kirsten Dunst e Elle Fanning.

A diretora também tem o traço de ter a música como parte integrante dos filmes. A banda Air fez a trilha sonora do primeiro longa, As virgens suicidas. Julian Casablancas, vocalista dos The Strokes, participou musicalmente em Um lugar qualquer. A maior das colaborações se tornou em casamento. O Phoenix fez parte da trilha sonora de Encontros e desencontros, assinou a de O estranho que nós amamos e escreveu Identical, música original para On the rocks. O vocalista da banda, Thomas Mars, se casou com Sofia Coppola em 2011. Eles estão juntos desde então.

Todas estas características culminam no novo longa que a diretora estreia na Apple TV +. O filme apresenta Laura, interpretada por Rashida Jones (Parks and Recreation), uma escritora de sucesso em um bloqueio criativo que desconfia que o marido Dean, vivido Marlon Wayans (As branquelas), esteja tendo um affair em meio a muitas viagens a trabalho. No entanto, a suspeita vira uma investigação quando o pai da protagonista, Felix, personagem de Bill Murray (Os caça-fantasmas), chega e coloca a filha dentro de um carro conversível em passeio por Nova York para buscar provas desta suposta traição.

Coppola, Jones, Wayans: Um filme sobre famílias

Assim como outros de Sofia, o longa fala sobre relações familiares, mas desta vez em recorte geracional. Por mais que a traição seja o mote principal, é a relação entre pai e filha que toma a cena. Felix é um playboy, com ideal e visão de mundo diferentes de Laura, que, por outro lado, vive dúvidas, inseguranças em um mundo em que o pai nunca entenderia. Há o recorte ainda da relação de Dean com os filhos, quando a obra também fala sobre o papel da paternidade atual.

Contudo, há uma outra proporção em família no novo longa da cineasta. Sofia é uma Coppola, diretora filha da lenda da direção Francis Ford Coppola. Rashida Jones, a protagonista, é filha de outra lenda, o músico e maestro Quincy Jones. Por fim, Marlon Wayans que é de uma família de comediantes. Ou seja, três das principais engrenagens que fazem o filme funcionar têm o embate de gerações muito em voga no cotidiano.

A diretora cria uma perspectiva própria de como o mundo está mudando. Dá asas a personagem de Laura para voar independente de Felix, mas também abre o próprio caminho para ser uma Coppola independente de Francis Ford, com ideias próprias, referências diferentes e que pode criar um legado único independente do do pai. O mesmo caso para Rashida e Marlon, que terão sempre o peso do sobrenome, porém seguiram trajetórias que só cabem a eles.

A reflexão está no fato em que não há necessidade de negar o passado, ou fugir de um sobrenome para criar um próprio legado. As gerações são diferentes, e têm as próprias vivências e visões de mundo. Não cabe ao pai ou a filha tentar mudar a forma como o um ou outro deve viver a vida e resolver os problemas do dia a dia.

Cinco filmes para conhecer Sofia Coppola

O longa On the rocks pode ser o mais recente produto de Sofia Coppola, mas a diretora e roteirista tem um currículo extenso no cinema. O Correio indica cinco filmes para entender melhor o estilo da cineasta.

As virgens suicidas (1999)
Baseado no romance de 1993 do escritor Jeffrey Eugenides, o longa conta a tragédia, já anunciada pelo título, das cinco irmãs Lisbon, meninas com sonhos, mas com a liberdade completamente cerceada por pais muito religiosos e superprotetores. O filme marcou a estreia, da então atriz, Sofia Coppola como diretora e roteirista.

Encontros e desencontros (2003)
A história original sobre um ator de cinema em decadência, que vai ao Japão fazer comerciais, e acaba criando uma relação com uma jovem, que está visitando o país apenas para acompanhar o marido fotógrafo. O filme é o mais aclamado da carreira de Coppola, rendeu a ela o Oscar de Melhor roteiro original e também uma alta posição na lista de melhores filmes dirigidos por mulheres na história. O trabalho foi feito em meio a produção de Maria Antonieta e teve baixíssimo custo. Teorias de fãs afirmam que o enredo da personagem feminina com o marido fotógrafo seria uma mensagem da diretora para Spike Jonze, ex-marido cineasta e também fotógrafo.

Maria Antonieta (2006)
A grande produção de época de Sofia, dá outro ponto de vista para a figura de Maria Antonieta, esposa de Luís 16. A história da mulher, que desde muito nova foi inserida na realeza francesa, é recontada de forma moderna e com um olhar mais feminino isentando a rainha de algumas culpas atribuídas a ela, incluindo a frase: “Que comam brioche”, que historiadores afirmam que teria sido dita durante uma grande crise de alimentos na França no final dos anos 1700, mas não existem provas factíveis da afirmação ter sido verdadeira ou sequer feita por Maria Antonieta.

Um lugar qualquer (2010)
Mais um filme independente da diretora, Um lugar qualquer apresenta um ator de sucesso completamente desestimulado pela vida, mas que vive no luxuoso Chateau Marmont Hotel em Los Angeles. Johnny Marco começa a repensar a própria vida quando recebe a visita da filha de 11 anos para passar tempos com ele. O filme tem cenas muito bonitas que ficaram marcadas entre apreciadores de cinema independente.

O estranho que nós amamos (2017)
Sofia Coppola mostra uma nova face em O estranho que nós amamos, longa que a rendeu o prêmio de Melhor direção em Cannes. A produção, também de época, conta a chegada de um soldado do Norte, ferido na Guerra de Secessão, em um internato apenas para mulheres na Virgínia, e cria uma intriga entre as mulheres da casa. Diferentemente dos romances delicados e rebuscados, o filme é um thriller que fala sobre desejo e traição e talvez o mais soturno filme da cineasta.


*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel