“Vem um misto de ansiedade, por termos parado, por mais de sete meses; e, junto, vem a esperança do público”, observa Adhemar Oliveira, ao reabrir as portas do complexo Espaço Itaú de Cinema em Brasília. Ele repete o rito da reabertura de salas em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, num momento ímpar e impactante. “É como reorganizar a casa de uma enchente ou vendaval. Corremos atrás de muita proteção para o espectador, expusemos bastante comunicação, e apostamos na contenção de cada um dos espectadores, no distanciamento e na civilidade”, enfatiza o empreendedor.
Rígidos controles sanitários e a recomposição da cadeia de distribuição de filmes entram em jogo. A “prudência””no reencontro com amigos, no cinema, vem com o decreto nº 41353: distância de 1,5 metro entre poltronas e grupos de até, no máximo, seis pessoas podem se unir. Patricia Cotta, gerente de marketing do Kinoplex (que inclui salas do ParkShopping e Pátio Brasil) é enfática: “Se é seguro vir ao cinema? Respondo que extremamente”. Ela descreve a normatização de procedimentos feitas ao lado de representantes das Américas, com epidemiologistas e infectologistas. A renovação contínua de ar (em ar-condicionado com novos mecanismos), rondas periódicas na observação do bom andamento das sessões e higienização sistemática dos equipamentos fazem parte do “trabalho respeitoso”. “Sem pessoas, os cinemas não sobrevivem”, pontua.
Nas novas regras, há o veto de consumo de alimentos e bebidas, na circulação pelo foyer. Comer, só no assento marcado. Sinalização e reeducação vigoram nas salas que terão teto de 40% na taxa de ocupação. “Não indicamos a vinda apenas de quem esteja nos grupos de risco”, observa Patrícia Cotta.
Morador de Brazlândia, o estudante universitário do curso de Relações Internacionais Victor Santos, de 18 anos, não pensou duas vezes, ao comparecer à sessão dos sonhos: assistir, no JK Shopping (Taguatinga), ao longa Harry Potter e a pedra filosofal. “É questão de justiça um trabalhador ter tempo de lazer. Fiquei impressionado de como era seguro. Muito mais do que no ônibus em que transito, todos os dias. Fiquei chocado com a realidade: a sala vazia e as pessoas, distantes”, comenta.
“Cinema sempre foi uma fonte única de entretenimento. Quero retomar hábitos e reviver a experiência singular de estar numa sala de cinema, algo que nada substitui”, avalia o psicólogo Rodrigo Silveira, 39 anos. Ainda que incerta a eficácia das medidas nas salas, como opina, ele sublinha que “viver é um risco”. “Ficamos fechados, num contexto de adoecimento para uma sociedade que já vinha muito fragilizada; sempre imediatista e preocupada, por demais, com tecnologia e bens materiais”, diz.
Ainda com falta de uma bilheteria on-line, o Cine Brasília pretende reabrir, mas apenas quando estiver readequado às medidas sanitárias e de higiene. A rede Cinemark anuncia para a próxima semana a sua reabertura. Quanto ao complexo Cine Cultura Liberty Mall, quem explica é Vera Corralero, programadora e diretora de operação: “Optamos pelas formas seguras de reabrir. Estamos observando, e atentos. Não vemos, claramente, a segurança ainda. No momento, planejamos e estudamos a situação”, finaliza.