Mercado animado!

Pandemia abre espaço para as animações. Formato tem sido usado como alternativa, além de ter sido opção de conteúdo inédito

pandemia de covid-19 mexeu com as estruturas do audiovisual. Com os estúdios fechados, foi preciso buscar alternativas para continuar a produzir conteúdos mesmo a distância. No cenário dos videoclipes, artistas internacionais e brasileiros apostaram na animação. Foi o caso de nomes como Pabllo Vittar (Rajadão), Silva (Júpiter), Katy Perry (Smile), BTS (We are bulletproff: The eternal) e Emicida (Trevo, figuinha e sour na camisa). Até o mundo das séries live-action adentrou nos desenhos animados. Foi assim, por exemplo, que The Blacklist encerrou a sétima temporada: exibindo o episódio intitulado The Kazanjian Brothers todo em formato animado.
“As produções em live-action tiveram que parar e as animações continuaram, porque é algo que pode ser feito de casa, se você tiver os materiais. Diria que a pandemia, de certa forma, forçou as pessoas a pensarem em novos jeitos criativos de continuar criando conteúdos. A animação se tornou em um modo um pouco mais fácil”, avalia Diego Molano, criador do Cartoon Network e nome por trás da animação Victor & Valentino. Para ele, essa experiência deve ter impacto futuramente no cenário. “Acredito que haverá muita coisa nova surgindo por causa disso (da facilidade)”, completa.
O fato de poder continuar trabalhando de forma remota é algo Alan Ituriel, responsável pela animação Valentino que neste ano teve um crossover com Victor & Valentino, credita a animação. “Sou muito agradecido por ser um trabalho e uma indústria que pode ser feita a distância. Claro que nada se compara ao contato humano de estar com uma equipe. Mas se você for ver o lado bom nisso tudo é que podemos todos trabalhar de casa”, comenta. Ituriel também se mostra empolgado com o futuro: “Tem sido algo lindo ver tantos novos projetos de animação que estão surgindo”.
Quando estava finalizando A caminho da lua, animação original da Netflix que estreia amanhã no serviço, o diretor Glen Keane — conhecido por trabalhos em A Bela e a Fera, A Pequena Sereia e Dear Basketball — se viu em meio a um dilema. A equipe teve que deixar a sede da Netflix em Los Angeles para iniciar o isolamento social. “Fomos embora e não voltamos ao prédio desde então. O único jeito que conseguimos terminar esse filme foi porque todos acreditamos que isso era maior. Todo mundo estava em casa e de algum jeito continuando a trabalhar; animar figurinos, design, cabelo; gravar e finalizar as composições. Tivemos que fazer tudo a distancia, evocando os temas do filme”, explica.
Situação oposta de produções live-action que, simplesmente, ficaram paradas durante os primeiros meses da pandemia, como aconteceu com o filme The Batman, o seriado The Witcher e a novela Amor de mãe. Mais recentemente é que os estúdios em todo o mundo iniciaram a retomada das atividades e assim as gravações de filmes, séries e, no caso do Brasil, de novelas. Porém, de forma diferente, seguindo protocolos de segurança, que, inclusive, mudam a dinâmica de algumas histórias, como a diminuição ou até fim de cenas de intimidade entre personagens, além da inserção da temática do novo coronavírus em alguns enredos.

Da Disney para Netflix

Grande nome ligado a produções da Disney como A Bela e a Fera e A Pequena Sereia e vencedor do Oscar pelo curta-metragem de Kobe Bryant (Dear Basketball), o diretor de animação Glen Keane é a aposta da Netflix para o cenário das animações. Ele é o responsável por A caminho da lua, filme que estreia amanhã na plataforma e promete emocionar o público com uma história que celebra a cultura chinesa e tem como temática mostrar a importância de seguir em frente diante do inesperado.
O filme acompanha a história de Fei Fei, uma jovem que, após uma perda que impacta a vida dela, decide provar para a família a existência da mítica figura chinesa da deusa da Lua, Chang’e. Para isso, monta uma nave para alcançar o satélite. Lá, ela vive uma aventura que trará como mensagem a necessidade de lidar com o novo. “Pra mim, é um poema visual. É uma história que narrativamente tem vários símbolos. É uma criança que nunca deixou de fazer coisas impossíveis. Ela foge, mas não é só uma fuga, como em O Mágico de Oz, ela criou uma nave para a lua para fugir dos problemas, porque ela gostaria que as coisas voltassem a ser como antes. Mas a questão é que elas não voltam, não vivemos assim. Vivemos indo para frente. A única coisa que a destrava é ver alguém com a dor parecida. A compaixão é o que nos faz destravar e é isso que acontece com Fei Fei”, explica.
A história é baseada no roteiro de Audrey Wells, que trouxe a própria experiência para o filme e o escreveu como uma mensagem para a filha, já que, na época, ela lutava contra um câncer. Ela morreu em outubro de 2018, dois anos antes da estreia. “A história é tão pessoal. Não era um ponto teórico, mas verdadeiro. Ela queria deixar algo para a filha dela. E levamos isso muito a sério. Uma das minhas preocupações era como contar uma história que tem uma mensagem adulta, mas para comunicar com as crianças.O único jeito de fazer isso era pela Fei Fei. Entramos na pele dela e vemos tudo pelos olhos e pelo coração dela”, define Glen Keane.
A produção também busca ter outra perspectiva, tirando a narrativa comum do Ocidente e seguindo para o Oriente. Foi uma visita à China que fez Keane querer esse ponto de vista. “Fiquei tão emocionado pela empolgação das crianças chinesas com as nossas histórias, que pensei que deveria contar a história deles. Era importante que fosse uma autêntica história chinesa. Abraçamos não só a lenda, mas a cultura moderna, com as melhores de intenções”, completa. (AI)

DNAs similares

A admiração mútua entre os produtores Diego Molano e Alan Ituriel foi responsável pelo primeiro trabalho em conjunto da dupla: o episódio crossover das animações Victor & Valentino e Vilanesco, que estreou na última segunda-feira no Cartoon Network com reprises hoje, sexta-feira e sábado, às 17h no canal (também haverá reexibições nos dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro no mesmo horário).
“Lembro quando vi um teaser de Victor & Valentino. Fiquei tão empolgado com a série, amei imediatamente. Me senti feliz de ver uma série sobre o México e a cultura latinoamericana. Então, logo quis fazer algo com o Diego. Claro que, naquela época, não sabia que poderia acontecer”, afirma Alan. “Acho que Victor & Valentino tem três coisas que eu gosto: horror, mistério e México. Acredito que nossas séries têm DNAs similares”, completa.
Aproveitando o mês do Halloween, a dupla criou o episódio Vilanesco em Monte Macabre, em que Victor e Valentino, protagonistas da animação que leva o nome do duo, se juntam ao Dr. Flug e Demência, personagens de Vilanesco, para encontrar um estranho monstro que se disfarçou de humano. “Abrimos uma porta para outra dimensão, que não pode ser mais fechada agora. Os desenhos de Alan são ótimos. Tentamos desenhar os personagens de Vilanesco da melhor forma possível esperando que parecessem que viessem da série deles”, acrescenta Molano deixando aberta a possibilidade de uma nova conexão entre as animações. (AI)