“Quem acha que racismo é uma não questão, ou não vive no Brasil ou está na moda negacionista, de negar a realidade. Acho que está no cotidiano, mais que nunca, infelizmente. É o momento de se pensar sobre a situação em que se vive no país onde 55% do país convive entre desigualdades”, observa Janaína Oliveira, a curadora do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul — Brasil, África, Caribe e outras Diásporas, evento que completa 13 anos e vem alinhando à exigência de uma edição virtual. Vencedor de prêmios de pesquisa histórica, fotografia e roteiro, em 1988, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Zózimo, morto há sete anos, assinou Abolição, documentário sobre a trajetória dos negros no Brasil (presente na programação). No evento, haverá 130 filmes dispostos em 36 sessões gratuitas.
Na proposta de encampar o suporte tecnológico a serviço do afeto, o encontro será de hoje a 30 de outubro, com apoio da plataforma Innsaei e acesso via www.afrocariocadecinema.org.br. Janaína Oliveira, reconhecida pesquisadora de cinema, celebra “o interesse, de modo geral, não só por parte das pessoas negras”, pelos filmes. “Passamos da conquista de público, para uma difusão maciça de títulos. Temos lidado com demandas da proliferação de mostras e festivais temáticos e há crescente estímulo e consumo, no acesso às plataformas de filmes”, avalia. Exemplo de filme de ponta, no encontro, está em Residue, criação de Merawi Gerima, e que revela os impasses de Jay, um aspirante a cineasta em Washington (EUA) que se vê deslocado da nova comunidade de um bairro, que conheceu noutra fase da vida, e que, agora, lhe traz isolamento, além da realidade do sumiço de um parente.
Para além dos filmes, haverá a oferta de consultoria e bolsas no segmento profissional do audiovisual, num esforço das mulheres pretas que aprimoram o evento a cada ano. É o caso de Viviane Ferreira, diretora artística do encontro que, neste ano, deriva de uma proposta afirmada no conceito A Experiência do Abraço. Numa das pontes Brasil e exterior, afirmadas pelo evento, está uma conversa com o octogenário cineasta malinês Souleymane Cissé, por ocasião dos 60 anos de independência do Mali. Um dado curioso está no fato de Cissé vir do mesmo país no qual viveram antepassados do idealizador da festa do cinema negro Zózimo Bulbul, um profissional do audiovisual desde 1962.