Os números do jovem cearense Matheus Brasileiro Aguiar, o Matuê, são de deixar qualquer artista com inveja. No cenário musical desde 2016, neste ano, o rapper lançou o primeiro álbum da carreira: Máquina do tempo, disco que o colocou em um patamar inimaginável. Logo no dia da estreia, bateu recordes de audições nas plataformas digitais, desbancando Lady Gaga e Anitta. O feito se repetiu em uma semana. Até que, no último dia 10, quando o material completou um mês, Matuê conseguiu mais uma marca altíssima e um recorde no mundo digital: 150 milhões de audições, juntando as execuções das faixas no YouTube (99.582.233) e no Spotify (66.141.911).
“A gente estava preparando algo que fosse feito para surpreender o público. Toda vida que você faz isso, você acaba expandindo e indo além. Mas, dessa vez, foi um pouco maior do que a gente esperava, eu diria”, diz. Apesar do espanto, esse sempre foi um sonho: “A questão de fazer um gênero musical que é um tanto underground (Matuê faz trap, subvertente dentro do rap) e conseguir conversar com um grande número de pessoas e chegar ao mainstream... o objetivo era esse desde o início”.
Alguns fatores contribuíram para o sucesso. Desde que se lançou no mundo da música, em 2016, o artista tem divulgado entre uma e duas faixas por ano. O que criou uma expectativa no público em torno de um álbum. Também aproveitou as parcerias com nomes conhecidos da música, como Costa Gold, MC Lan e Xamã em Rap game, e IZA e Tropkillaz em Quem mandou chamar.
Processo de produção de Máquina do tempo, de Matuê
O CD demorou 10 meses desde a criação até a divulgação. O período da quarentena foi primordial para que o rapper conseguisse finalizar tudo, afinal Matuê costuma deixar o trabalho seguir um caminho mais livre e espontâneo, sem grandes pretensões. “Sempre via essa questão do disco como um desafio muito grande. Queria que fosse conceitual e que as músicas tivessem uma conexão. Na minha cabeça, eu ficava intimidado. Com o passar dos meses vi que tinha um apanhado de músicas e surgiu uma que criava um enredo”, explica.
Assim, veio a ideia do conceito de um personagem que viajava no tempo. “Cada detalhe dessa história se conecta com a minha vontade de voltar no tempo. Acredito que algo que todo mundo tenha vontade, seja para mudar alguma coisa ou reviver um momento especial. Toda a jornada do “Matuê sobrenatural” meio que conta em pedaços e retalhos a minha história”, explica.
O álbum é composto por sete músicas. Máquina do tempo é a mais antiga. Havia sido compartilhada há dois anos nas redes sociais e, constantemente, era pedida pelos fãs. A canção, que é o maior sucesso do disco, tem trechos de Como tudo deve ser, do Charlie Brown Jr., regravado pelo próprio Matuê. A escolha é também uma celebração a um dos maiores ídolos do cearense. “Uma das bandas que mais me marcou foi o Charlie Brown Jr. Acredito que não só pela questão musical, mas também pela mensagem que era passada”, define.
Apesar de o trap ser originado dos Estados Unidos e de Matuê ter passado dos 8 aos 11 anos no país, ele diz que o ritmo que faz é abrasileirado. Em É sal, por exemplo, canta as expressões e a vivência de Fortaleza. “Valorizo a brasilidade dentro da minha música, principalmente, a questão nordestina. Isso é um ponto-chave pra mim”, afirma. Ele explica que o tempo que morou nos EUA o influenciou de outra forma. Primeiramente, deu oportunidade de investir na música. Foi com o dinheiro das aulas de inglês que dava que investiu na carreira. “Foi um privilégio muito grande. Me abriu muitas portas e me possibilitou a dar iniciativa na minha caminhada musical. O outro ponto é que vi a importância do rap lá nos EUA e vi que poderia fazer isso aqui”, completa.