Série

'Bom dia, Verônica' alerta para violência de gênero com narrativa policial

A série, inspirada em livro homônimo, estreou nesta quinta-feira (1/10) na Netflix e retrata a história de duas misteriosas investigações feitas pela personagem título, uma escrivã da Delegacia de Homicídio de São Paulo

O livro Bom dia, Verônica, de Andrea Killmore, pseudônimo da criminóloga Ilana Casoy e do escritor e roteirista Raphael Montes, deu origem à série homônima que estreou nesta quinta-feira (1/10) na Netflix. A obra é um thriller policial sobre a personagem-título, uma escrivã (Tainá Müller), que investiga casos que envolvem mulheres como vítimas.

Os próprios autores integram o time de criadores, produtores e roteiristas da série, dirigida por José Henrique Fonseca. “O fato é que ao fazer uma adaptação, para manter a essência, você tem que fazer modificações dramatúrgicas, porque são ferramentas diferentes. No livro, você tem a mente do personagem. No audiovisual, tudo é imagem”, diz Montes. Ele aponta duas mudanças: o maior destaque à personagem Janete (Camila Morgado) e esposa de Brandão (Du Moscovis), um serial killer; e Anita (Elisa Volpatto), uma das delegadas da Delegacia de Homicídios que vive em conflito com Verônica, criada apenas para a série.

A história começa quando Verônica, impactada por presenciar um suicídio na Delegacia de Homicídios, investiga o caso, que envolve um homem que aplica golpes em mulheres que conhece em um site de relacionamentos. Dessa investigação, ela se depara com a denúncia de Janete — uma mulher casada com um homem abusivo que transformou a vida dela num cárcere — de que o marido sequestra mulheres na rodoviária. A série mostra a dedicação de Verônica para solucionar os casos e salvar as vítimas, o que a coloca em perigo, tanto em relação aos criminosos, quanto dentro da própria polícia, onde ela descobre existir uma rede de corrupção.

Suzanna Tierie/Divulgação - Bom dia, Veronica, série brasileira

Para dar a vida à personagem, que tem algumas semelhanças com Ilana Casoy, Tainá Müller relata ter feito uma preparação intensa: “Tive aulas de luta, de defesa pessoal, de tiro. Fiz laboratório na Delegacia de Homicídios para acompanhar o funcionamento da política, como se faz uma investigação e como se analisa uma cena de crime. Estudei mais especificamente o feminicídio, como ele ocorre. Também me debrucei em cima do roteiro”, lembra.

Apesar de Verônica ser a protagonista, o enredo de Janete e Brandão rouba a cena, por ser uma trama com nuances e mistérios. A narrativa foi a forma que os roteiristas encontraram de mostrar o ciclo dos abusos e de violência contra a mulher. Por isso, Camila Morgado e Du Moscovis buscaram trazer parte da narrativa para o físico, os trejeitos e o modo de agir dos personagens. “Fui me orientando pela proposta de criar um personagem que não fosse caricato, que fosse próximo da gente. Acreditava que isso tornaria o personagem mais cruel e perverso do ponto de vista que ele se parece “normal”, assim, consequentemente mais perigoso”, afirma Moscovis. “Essa manipulação psicológica é tão grande do agressor que vai causando uma aniquilação de quem ela é. Por isso, pensei na fisicalidade de um corpo que não tem julgamento de fora”, completa Camila.

Ao final de cada episódio, Bom dia, Verônica traz alertas sobre a violência contra a mulher e modos em que o telespectador pode denunciar os casos. “O abuso e a toxicidade vão se mostrando e depois vão escalando até o dia em que o homem mata a mulher. É um crime tão grave que deixa o Brasil no quinto lugar no ranking do feminicídio no mundo. Nosso alerta é para que a mulher não deixe ultrapassar nenhum limite e peça ajuda”, avalia Tainá.