Quase seis meses depois da estreia da série Todas as mulheres do mundo, que trouxe revival para a carreira do cineasta e dramaturgo Domingos Oliveira, morto em março do ano passado, a contribuição da obra dele para as artes é reativada, com a estreia da série Confissões de mulheres de 50, último trabalho deixado, e no qual contou com parceria junto à diretora Renata Paschoal, atuante por 16 anos como produtora das criações do mais carioca e boêmio de todos os diretores nascidos no Rio de Janeiro. Ao longo de uma semana, sempre às 18h, o Canal Brasil exibe a nova série composta por dez episódios. Toda a série estará concentrada ainda no Globo Play e no streaming do Canal Brasil Play.
Com personagens brotados há mais de duas décadas, Confissões de mulheres de 50 dá continuidade a protagonistas encampados por Cacá Mourthé, Priscilla Rozenbaum (viúva de Oliveira), Clarice Niskier e Dedina Bernardelli. Pela ordem, representam Ana, uma designer e curadora; Diana, afirmada na profissão de blogueira; a antropóloga Maria e Papoula, crivada de uma dramaticidade experimentada desde os palcos, em que se vê atriz.
Pleno, em filmes como Edu, coração de ouro (1967) e no consagrado Amores (longa de 1998, que demarcou o retorno do diretor à sétima arte), o humor de Oliveira se estabelece nas narrativas de exuberantes mulheres reunidas, na Zona Sul, a fim de debaterem, volta e meia, abastecidas de drinques, dados da sexualidade, da vida doméstica, das relações amorosas e das carreiras.
Ex-assistente de Joaquim Pedro de Andrade, e amante das obras clássicas de Gogol, Molière e Dostoiévski, Domingos Oliveira sistematizou a obra episódica em capítulos como Amigas, Ressentimento e Conversa fiada. Muitos segmentos levam assinatura de cocriadoras como Claudia Mauro, Renata Paschoal e Clarice Niskier. O bom gosto musical, uma das marcas das obras do diretor, foi preservado, com uso, na trilha,
de Amor e sexo, C´est si bon, É bom parar e Resistiré (usada, hoje em dia, em campanha contra os efeitos do coronavírus).
Os atores Ernesto Piccolo e Orã Figueiredo despontam no elenco masculino (meio à margem, por sinal), em episódios como O grande porre. Outra presença reluzente está na participação da ex-mulher de Domingos, a escritora Lenita Plonczynski (mãe da atriz Maria Mariana e uma das criadoras do longa Deliciosas traições do amor). Com alternância de intensidade, Confissões de mulheres de 50 traz episódios inspiradíssimos como Fichas que caem (sobre as perdas na vida) e outros mais fugazes como Filhos e surf, bastante convencional. Ah! No desfecho; claro, há uma luminosa homenagem ao criador, e as criaturas (atores e personagens) ficam com os olhos brilhantes.
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