“Não traia a si próprio. É tudo que você tem”. Esta frase de Janis Joplin é a chave do segredo para conhecer uma das cantoras mais importantes da história do rock. A voz dolorida, crua e atitude libertária a transformaram em referência para a libertação feminina, num universo extremamente machista, que era a cena roqueira na segunda metade do século passado. “Ela estava à frente de seu tempo”, destaca, em entrevista exclusiva para o Correio, Holly George-Warren, autora de Janis Joplin: Sua vida, sua música (Editora Seoman), livro recém-lançado no Brasil.
Sim, foi Janis, desde a estreia em 1967, que ajudou mulheres do rock a ocuparem a frente dos palcos e serem protagonistas nas respectivas carreiras. Legado seguido por cantoras locais como Cassia Eller e Gaivota Naves, por exemplo, e estrelas tão distintas como Amy Winehouse, Lady Gaga e Alicia Keys. Por trás desse mito (verdadeiro, sim, senhor) de olhos claros, cabelos esvoaçantes e óculos amarelos, havia uma história de resistência de gênero, decepções familiares e ativismo político num Estados Unidos conservador e reacionário, apesar da onda do “paz e amor”.
Holly George-Warren, jornalista e uma das mais respeitadas pesquisadoras da música norte-americana, mergulha na linha do tempo de Janis, busca documentos, fatos e revela segredos da roqueira. “Janis trabalhou duro para se tornar a grande cantora que era e também para obter a habilidade técnica que tinha no estúdio. Ela estava prestes a se tornar produtora”, destaca ao Correio.
Numa minuciosa biografia-reportagem, Holly ouviu familiares da cantora, colegas de banda, amigos da entediante Port Arthur (Texas), além de investigar arquivos da época e episódios relevantes da artista, que perdeu a vida, aos 27 anos, depois de uma overdose acidental de heroína, em 4 de outubro de 1970. Num momento em que a cena psicodélica pintava de colorido e lisérgico o então rock quadrado da época. Canções viscerais com letras estonteantes como Piece of my heart, Mercedes Benz, Try (Just a little bit harder), Cry baby e a indiscutível Summertime, só para citar algumas de arrepiar, marcam a trajetória de Janis, que acumula fãs e covers até hoje.
A forma como Janis transmitia emoção, em um canto que ia da melancolia à rebeldia, era e sempre será única. Sua voz rouca, blueseira, revela uma alma sofrida que teve de buscar refúgio na heroína. Outro fator marcante, retratado no livro, foi a busca incessante pelo amor. Ela que nunca foi capaz de ter um relacionamento sólido e duradouro (talvez nem queria), mas esse pique a levou para um triste fim: a morte precoce, aos 27 anos, por overdose acidental.
Um trecho no livro reforça a fé de Janis em “não traia a si próprio”. Numa carta endereçada à família — que cobra seu retorno à faculdade no Texas — a roqueira, já em Chicago, responde: “Acho que não posso voltar agora. Não sei todos os motivos, mas só sinto que isto tudo dá uma sensação mais real. Mais fiel a mim mesma. (…) Sei que meus valores instáveis fazem com que eu não seja muito confiável e que sou uma decepção e, bom, sinto muito”. Essa era Janis.