Rapunzel, Gato de Botas, Bela Adormecida, Cinderela, Branca de Neve, Patinho Feio e tantos outros personagens de contos de fadas ganharam vida no imaginário popular principal nas telas nas versões cinematográficas. No entanto, a origem desses personagens vem das páginas dos livros escritos entre o século 16 e 19 por quatro autores: Charles Perrault (1628-1703), Wilhelm (1786-1859) e Jacob (1785-1863), os Irmãos Grimm, e Hans Christian Andersen (1805-1875).
Parte destes contos, 44 ao todo, são revisitados na coletânea O livro de ouro dos contos de fadas lançada pela editora Nova Fronteira. A versão, que foi traduzida anos atrás por Monteiro Lobato, tem 21 histórias dos Irmãos Grimm, 14 de Andersen e nove de Perrault. A escolha foram por clássicos e principalmente àqueles que acabaram ganhando adaptações mais “açucaradas”. Aqui, permanecem as narrativas mais próximas das originais, que têm uma atmosfera mais sombria.
Por ser uma obra em português, a editora escolheu três ilustradores brasileiros para darem as perspectivas deles as histórias. O livro começa por Perrault, que teve trechos dos contos desenhados por Camanho. Ele conta que buscou narrar em imagens os trechos mais obscuros e poucos ilustrados anteriormente. “Gosto muito de contos de fadas por poder trabalhar esse lado mais grotesco. Quis trazer esse elemento porque os contos de fadas com o tempo foram ficando adocicados demais, perderam um pouco do medo. O aspecto maligno serve para contrapor o bem, sempre se aprende algo pelo contraste”, avalia.
A segunda parte traz as histórias dos Irmãos Grimm retratadas pelo desenhista Renato Moriconi, que optou por seguir por desenhos que abordassem o lado mais próximo da feiura. “Pra mim é muito mais atraente e interessante pintar o rosto cheio de rugas, com marcas do tempo e de experiências, como cicatrizes. Então, nesse sentido eu acho que desde a literatura infantil e das minhas memórias mais antigas, os Grimm representam isso. E tem também um humor nessa dureza que eles apresentam”, explica.
A coletânea se encerra com os contos de Andersen, que ganharam aquarelas de Lelis. “Sempre que vou ilustrar um clássico, procuro fazer uma pesquisa, justamente para não ocorrer erros que depõem contra a obra. Resgatei objetos, construções, uma Dinamarca de uma certa época, que tinha um tipo de construção, de vestimenta. Basicamente também costumo trabalhar uma paleta de cores a cada trabalho. Nos contos de Andersen usei muito o cinza azulado, que dá esse aspecto de névoa, de que algo está escondido, mas evidente. Algo mais soturno mesmo. Coloquei isso nas imagens”, afirma.
O livro de ouro dos contos de fadas
Coletânea com obras de Charles Perrault, Irmãos Grimm e Christian Andersen. Tradução e adaptação de Monteiro Lobato. Com ilustrações de Alexandre Camanho, Lelis e Renato Moriconi. Editora Nova Fronteira, 336 páginas.