Há 60 anos, os traços de Brasília, projetados e planejados por nomes como Oscar Niemeyer e Lucio Costa, ganhavam dimensão fora do papel. A capital do país precisou comemorar o sexagenário de maneira diferente, um tanto silenciosa fisicamente, mas, ainda assim, celebrada virtualmente. Com a permissão e a reabertura de alguns espaços culturais, contudo, a cidade de Juscelino Kubitschek acolhe homenagens de candangos e brasilienses inspirados na natureza artística de Brasília, mesmo tendo passado o 21 de abril.
A partir de sexta-feira (25/9), a exposição Brasília em linhas, do artista plástico maranhense Jailson Belfort reabre as portas do Espaço Oscar Niemeyer. Fechado para reformas e por conta das medidas de combate à covid-19, o equipamento cultural volta a funcionar em horários e dias reduzidos. “Me sinto feliz e muito honrado em realizar esta exposição. Adotei Brasília como cidade, aqui construí minha família e meu trabalho. Aqui descobri meu talento e tenho utilizado esse talento para representar a capital”, comenta Belfort.
A história de Belfort poderia ser contada pelos pioneiros que inauguraram Brasília. O artista plástico saiu de São Luís, no Maranhão, e chegou na capital federal em 1991 em busca de novos horizontes e novas possibilidades. Formado em Design, ele começou a trabalhar no Supremo Tribunal Federal (STF) e ali descobriram os desenhos que Belfort realizava com canetas esferográficas. “Ali que despertou a alma artística para me dedicar a essa nova fase. Me tornei um artista plástico que só trabalha com esferográfica e me inspiro muito em Brasília, pela sua beleza. A cidade em si, pelos monumentos, sempre me inspirou. E também, pensei em utilizar um instrumento que as pessoas não costumam usar para fazer arte. A caneta é algo que as pessoas têm em casa, no escritório”, detalha.
Cores e linhas
Em Brasília em linhas, Belfort retrata e homenageia Brasília colocando em diálogo ícones e referências visuais da capital, mas trabalhados sob a estética do artista. As 60 obras que integram a exposição são trabalhadas em duas cores cada. Ao colorido vivo das canetas com tons de rosa, azul, roxo e laranja, por exemplo, coube retratar o céu de Brasília. “Os monumentos são retratados com outro ângulo, diferente do comum”, complementa Belfort. Na construção da imagem, ele usa as linhas e as cores das canetas esferográficas, bem como teorias da Gestalt de sombra, luz, figura, fundo e ângulo. “Queria mostrar Brasília primeiro mostrando a beleza do seu céu. O pôr do sol na época da seca tem várias tonalidades e isso me encantou muito”, comenta o maranhense.
Esse olhar de Belfort para os monumentos também é uma estratégia do artista para fugir do realismo. É no contraste das linhas e das cores com o espaço em branco que ele revela elementos e características que remetem o espectador aos traçados de Niemeyer, por exemplo. “O vazio que existe entre o céu e os detalhes do monumento, isso vai fazer a pessoa de fato enxergar o monumento, vai provocar e indagar o público”, conta. “Cada detalhe são milhares de linhas feitas à mão livre, sem régua. A esferográfica, por não ser um material comum na pintura, tem seus problemas, pode borrar ou falhar e não tem como corrigir, tem que ter paciência ao fazer as telas. Então, são dois desafios, o de trazer o olhar do arquiteto e do urbanista para compor os monumentos e o desafio do próprio instrumento para que seja usado com suas limitações e sua beleza”, acrescenta.
Esquemas
Também pelas linhas de Brasília que a arquiteta e artista plástica brasiliense Helena Trindade percorreu para desenvolver o trabalho que a uniu, de vez, ao universo das artes plásticas. Contudo, ao contrário de Belfort, foi na exatidão da cartografia que Helena se inspirou. Em A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília, em exibição no estande da Brasal Incorporações no Noroeste e no site da empresa, a arquiteta e artista plástica apresenta uma sequência de 10 quadros nos quais desdobra percepções e vivências dos mapas da capital.
“É um desenho esquemático que eu fiz a partir dos eixos principais. Nos trabalhos de Brasília, destaquei quais seriam os prédios principais, o eixo Rodoviário, o Monumental, o Eixão. Claro que a cidade tem outros eixos, outras vias, mas eu senti que aqueles se destacavam mais. Então, procuro pontuar os que são mais relevantes e mais icônicos e acaba resultando em algo da minha vivência e percepção”, explica Helena. Com os esquemas em mãos, a artista recorta e constrói, com diferentes materiais, a própria visão artística de Brasília.
Condensado, MDF, couro, papel reciclado e madeira se transformam nas mãos da artista em mapas carregados de sensibilidade. O projeto, que começou como trabalho de mestrado na Inglaterra, ganhou exposição e virou uma marca de Helena, a HT.Objetos. “Tenho procurado trabalhar com materiais mais nobres para linhas exclusivas. E as cores, algumas são combinações que acho que conversam esteticamente. No caso das obras em exibição, o azul e branco foi uma referência ao Athos Bulcão e o terra cota, à época seca de Brasília. Agora, estou trabalhando em uma nova peça que vai fazer referência ao pôr do sol da cidade”, adianta.
Para Helena, o brasiliense naturalmente nasce com uma sensibilidade visual. “Passamos a valorizar o espaço urbano. Várias pessoas que não são da área comentam como Brasília é aberta, os prédios são icônicos, então ela desperta essa sensibilidade”, comenta. A arquiteta e artista plástica reconhece que a cidade planejada tem os problemas, como os espaços ermos, a segregação, sobretudo quando comparada com cidades tradicionais. “Mas, é inegável que Brasília é uma arte por si só”, pontua. Por fim, ela afirma: “ser brasiliense é ver a beleza no traçado não comum de uma cidade, é saber apreciar o lado planejado de uma cidade”.
Serviço
Exposição Brasília em linhas, do artista plástico Jailson Belfort
De 25 de setembro até março de 2021. No Espaço Oscar Niemeyer, na Praça dos Três Poderes. Visitação de sexta a domingo, das 10h às 16h.
Exposição A arte da cartografia e uma paixão chamada Brasília, da arquiteta e artista plástica Helena Trindade.
No estande Brasal, na CLNW 2/3 Lote E, Noroeste, ou no site da empresa. Aberto até às 18h.
Para saber mais
Alguns museus da capital administrados pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF, além do Centro Cultural do Banco do Brasil retomaram as atividades. Contudo, a retomada está sendo gradual e conforme protocolos de segurança. Confira!
Museu Nacional da República
Exposições do brasiliense Josafá Neves, do baiano Aurelino Santos e do americano Melvin Edwards.
Visitação: sexta a domingo, das 10h às 16h.
Lotação do salão: 30 pessoas. Completada a capacidade, será formada fila de espera.
Observação: obrigatórios o uso de máscara e propé no carpete. Será feita medição de temperatura e disponibilizado álcool em gel.
Telefone para dúvidas: (61) 33255220.
Centro Cultural Três Poderes
O Panteão da Pátria reabre com a exposição sobre a vida e a trajetória política de Tancredo Neves, além do Livro de Aço dos Heróis da Pátria, do Mural da Liberdade de Athos Bulcão. No Espaço Lúcio Costa, a exposição é sobre a história de Brasília. O Museu da Cidade retoma a exposição permanente.
Visitação: sexta a domingo, das 9h às 15h.
Lotação do salão: Panteão da Pátria, 20 pessoas; Espaço Lucio Costa, 10; e Museu da Cidade, 5. Completada a capacidade, será formada fila de espera.
Observação: obrigatórios o uso de máscara e propé no carpete. Será feita medição de temperatura e disponibilizado álcool em gel.
Telefone para dúvidas: 61 98355-9870 (WhatsApp)
Museu Vivo da Memória Candanga
No Museu Vivo da Memória Candanga, além da mostra permanente sobre a construção de Brasília, o espaço abriga O Cerrado de Pau de Pedro, com esculturas de madeira do cerrado.
Visitação: sexta a domingo, das 10h às 16h, somente para dois salões expositivos. O parque permanece fechado.
Lotação do salão: 10 pessoas por salão. Completada a capacidade, será formada fila de espera.
Observação: obrigatório o uso de máscara. Será feita medição de temperatura e disponibilizado álcool em gel.
Centro Cultural Banco do Brasil
Exposição Linhas da vida, da artista Chiharu Shiota.
Visitação: terça a domingo, das 9h às 17h. A entrada será permitida apenas sob agendamento on-line, com emissão de ingressos gratuitos, por meio do aplicativo ou site da Eventim.
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