A 72ª edição do Emmy, que celebrou com prêmios os melhores produtos da tevê e do streaming, foi pautada pela renovação e pela disposição em ver derrotados preconceitos e visões conservadoras para os produtos audiovisuais. Com grande número de artistas negros premiados, houve muito espaço para discursos a favor de maior representatividade. “Histórias negras, atuações negras e vidas negras importam”, destacou o ator de Black-ish Anthony Anderson, eterno candidato pelas atuações, mas nunca vencedor.
Ganhadora como melhor atriz de minissérie ou filme de tevê, Regina King (de Watchmen) não apenas vestiu camiseta de denúncia contra a morte de Breonna Taylor (na corrente do Black Lives Matter), traje igualmente aderido por Uzo Aduba (melhor coadjuvante por Mrs. America), mas aproveitou para fazer coro junto à colega Tracee Ellis Ross quanto à importância do voto nas eleições norte-americanas marcadas para novembro.
Magnatas, famílias financeiramente poderosas, intrigas e manipulações de informações também foram temas (para além da realidade política contemporânea) que se desdobraram nos bastidores de programas premiados pelo Emmy. As conquistas foram comemoradas pelos integrantes das equipes das séries Succession (categoria de drama) e Shitt´s Creek (no segmento cômico). Entre as duas, a primeira foi vencedora pelo roteiro, direção e pela atuação masculina (Jeremy Strong), mesmas categorias conquistadas pela comédia Shitt´s Creek, com o ator Eugene Levy, e que ainda arrebatou mais três prêmios — melhores coadjuvantes (Annie Murphy e Dan Levy), além de melhor atriz (Catherine O´Hara) —, na consagração da sexta e última temporada. Uma despedida em grande estilo e que causou espanto até entre a crítica especializada.
Junto com vitórias significativas nas próprias indicações, houve maioria de quarto melhores diretoras candidatas ao prêmio de melhor direção de minissérie ou filme para a tevê; a alemã Maria Shrader foi considerada a melhor, pelo trabalho em Nada ortodoxa, que mostra o desmonte de preceitos judaicos, na jornada de uma jovem determinada a comandar a própria vida.
Com a vitória em Watchmen (destacada ainda nas categorias de melhor minissérie e roteiro) na categoria de melhor ator coadjuvante, Yahya Abdul-Marteen II aumentou a visibilidade dos artistas negros. Quem entretanto surgiu com maior efeito na corrente da premiação negra foi a melhor atriz de série Zendaya que, com a participação em Euphoria, no papel de uma dependente química, derrotou, aos 24 anos, e na primeira indicação ao Emmy, atrizes veteranas entre as quais Jennifer Aniston, Olivia Colman e Laura Linney. Zendaya ainda se tornou a segunda atriz negra a vencer na categoria, cinco anos depois da desbravadora Viola Davis (How to get away with murder).
A cerimônia do Emmy implementou uma série de inovações para a festa celebrada, com distanciamento de participantes que não estiveram no teatro do Staples Center (Los Angeles).
De forma remota, celebridades receberam troféus, em mãos, via entregadores; adesão ao álcool em gel e humoradas esquetes envolvendo bactérias, germes e fogo fizeram a festa para os espectadores. Contudo, o ativismo não deixou de dar as caras nos discursos de alguns apresentadores, caso da atriz trans Laverne Cox (Orange is the new black) que, com quatro indicações (com sistemáticas derrotas), criticou a lacuna na representatividade da parcela LGBT, que, em 2020, por exemplo, teve na série Pose apenas a candidatura de maior peso para o ator Billy Porter. Cox fez menção ao esfacelamento de parte do sempre propagado “sonho americano”.
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