Como um princípio de diário e páginas recheadas de recordações que marcaram de ponto a ponto os 57 anos de vida, Xuxa Meneghel lança o livro Memórias. Ao longo da narrativa, divulgada pela Globo Livros, a Rainha dos Baixinhos trata de assuntos que permeiam a vida pessoal e profissional, da infância à época em que aparecia na TV em uma grande nave espacial. Com delicadeza e autenticidade, Xuxa construiu um legado internacional com a assinatura de obras infantojuvenis, traz, também, reflexões a respeito de temas como direitos humanos e dos animais.
Por meio da literatura, Xuxa pôde traduzir o sentimento pela filha Sasha e dividir com o público individualidades, com antigos relacionamentos, fases turbulentas da carreira e hábitos rotineiros. Em entrevista ao Correio, a artista adiantou parte do que virá em Memórias e como os temas trabalhados na obra têm influência direta no cotidiano da Rainha dos Baixinhos.
Nas linhas do livro você retrata assuntos delicados, como abusos que sofreu na infância e na adolescência. Qual a importância de abordar esses temas?
Conscientizar os pais sobre a necessidade da educação sexual e para mostrar para o público que passou por situação semelhante que não está sozinho. E também para as pessoas que não passaram por isso, mas têm filhos ou filhas ou crianças por perto. Para que fiquem atentas aos sinais que podem aparecer.
Você e sua mãe, Aldinha, tinham uma conexão muito forte. O que você quis retratar da relação de vocês no livro?
Não posso contar minha história em livro, filme ou documentário sem a minha mãe. É impossível! Ter a minha mãe nas páginas do Memórias pode fazer com que as pessoas com mais sensibilidade entendam como é importante ter alguém na vida que apoie, entenda, aceite e proteja. Se você quer ser alguém na vida, não basta apenas querer ou acreditar, mas é preciso alguém que queira lhe ver bem e acredite que você tem potencial para chegar lá. É isso. Ela é e sempre foi a minha incentivadora maior, a minha maior fã.
Quais as atividades da sua rotina que lembram vocês duas?
Ela sempre gostou de jogar buraco. É impossível jogar sem pensar nela. Eu jogo todos os dias no computador antes de dormir... Viciei-me, como ela.
Além da carreira artística, como cantora, apresentadora e atriz, você é uma pessoa que contribui e luta muito pela garantia dos direitos humanos e contra qualquer tipo de preconceito. O quão necessário é utilizar da sua influência para tratar desses temas?
Eu não posso e nem devo falar pelos outros. Não quero que pareça cobrança, mas estamos vivendo num mundo de muito ódio, discriminação, preconceito, racismo, homofobia, machismo... O ser humano é um bicho que deu errado. E, se você tem a oportunidade de melhorar o seu mundinho, você tem que fazer nem que seja por uma pessoa. No caso de quem tem imagem pública, por algumas pessoas. Respeito, mas não concordo com quem acha que não deve se posicionar. Quem cala consente com o que estamos vivendo e eu não concordo com muitas coisas. Me custa acreditar que existam pessoas que concordem com preconceito. Eu não conseguiria dormir sem gritar e sem me expressar, já que tenho meu espaço para isso.
Qual foi a fase da sua vida em que você teve a certeza de que fez a escolha certa na profissão?
As pessoas demonstram amor, respeito e carinho por mim durante esses anos todos. Lá atrás, tive o maior termômetro para eu saber que era sucesso, de que estava no caminho e tinha feito a escolha certa. Algumas pessoas continuam não acreditando no meu potencial. Mas provar que estava no caminho certo acontece por meio da resposta de quem me deu e ainda me dá crédito, isso se chama sucesso. Se falar outra coisa, estarei mentindo.
Você e a Sasha tem uma relação muito próxima. Como o crescimento dela interfere no seu crescimento?
Quando você ama alguém incondicionalmente, o crescimento dela é o seu. A alegria da Sasha é a minha. Suas conquistas são as minhas.
Como foi relembrar a chegada dela em Memórias?
Há alguns meses, estou revisitando muito a minha vida, até porque também terá o filme Rainha. E esse momento é mágico, digno de um filme, de um livro, pois eu sonhei com ela, a desejei muito e repito sempre: “Você é exatamente como eu queria, é o maior presente que Deus me deu”. E olha que Ele me deu muita coisa boa. Mas sem dúvida ela é um anjo, linda por dentro e por fora, é meu orgulho.
No livro, você aborda questões relacionadas ao veganismo. Como você entende que os debates sobre o tema podem influenciar mais pessoas a apoiarem a causa pelos direitos dos animais?
Minha vontade é de que as pessoas assistissem a todos os documentários sobre veganismo ou sobre a indústria que existe por trás do sofrimento dos animais e, se depois que vissem ainda quiserem fazer parte disso tudo, seria por escolha própria. Mas como isso não acontece — as pessoas não buscam essas informações, não sabem, nem querem saber, pois mudar costumes é muito difícil — acho que o mínimo que nós, veganos, devemos fazer é tentar dizer coisas que são impactantes. Vai que uma porta se abre, não é mesmo? Coisas como: “Tire a morte e o sofrimento do seu prato, essa energia não é boa pra ninguém”; “não existe morte sem dor, sem sofrimento. Não tem galinha nem vaquinha feliz no seu prato” etc. Se eu conseguir fazer com que as pessoas pelo menos se informem, terei feito uma grande mudança.
Para você, foi natural chegar ao veganismo?
Não como carne vermelha desde os meus 13 anos. Só comia peixe, por ignorância mesmo. Por falta de informação, o processo foi demorado, 50 anos para eu saber que nem eu, nem ninguém precisamos matar um bicho para viver e comer bem, mas as indústrias farmacêuticas e agropecuárias não querem que nós saibamos disso.
A capa do livro mostra duas versões de você se olhando: uma nos anos 1980 e uma atual. Quais as principais mudanças que você enxerga em si mesma nesse intervalo de tempo?
Essa ideia veio de um fã, só colocamos um “X” no meio. A ideia é essa: eu antes e eu agora. Alguém que viveu tudo o que está no livro para chegar onde chegou. O que eu vejo? Tentei responder isso nas páginas do livro e não foi fácil. Sei que deixei coisas de fora, mas terei tempo lá na frente, quando for avó, para escrever mais.
O que a Xuxa de 2020 diria para a Xuxa de 1980 e vice-versa?
A nova para a velha: “Só não envelhece quem morreu”. A velha para a nova: “Acredite menos nas pessoas”. (risos)
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
Memórias
De Xuxa Meneghel. Globo Livros, lançamento em 21 de setembro. 272 páginas. Preço: R$ 44,90.
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