DUBLAGEM

De quem é essa voz?: Dubladores emprestam o talento para dar vida a personagens

Conheça alguns profissionais e entenda as dificuldades enfrentadas pelos dubladores na pandemia

Paula Barbirato*
postado em 06/09/2020 07:00 / atualizado em 08/09/2020 11:08
 (crédito: Luiz Antonio De Bortoli/Divulgação)
(crédito: Luiz Antonio De Bortoli/Divulgação)

Por meio da junção entre técnica e arte, o dublador faz da voz o instrumento profissional. Quando não existiam conexões digitais, eles eram “que entravam na casa das pessoas, todos os dias, todas as horas, sem que elas soubessem identificá-los”, como descreve Mauro Ramos, dublador e ator. Essas vozes, com a internet, passaram ganhar nome, rosto, idade e reconhecimento.

Profissão

As vozes dos dubladores ocupam o imaginário de gerações por meio dos personagens que dão vida. Cecília Lemes é conhecida pelos fãs como a Chiquinha, dublada na série Chaves, mesmo depois de décadas. Da mesma forma, Mauro Ramos com Shrek e Pumba; Fátima Mourão com She-ra e Olívia Palito; e Wendel Bezerra com Bob Esponja e Goku. Embora sejam papéis marcantes, o trabalho deles vai além dos citados.
Séries, filmes, propagandas, novelas, reality shows, jogos, documentários e locuções são campos para dubladores, que precisam ter a formação e o registro de ator. Cecília Lemes ainda ressalta: “Quando a gente fala da dublagem, muitos esquecem dos técnicos de áudio, diretores, tradutores, entre outros cargos do setor”.

A existência da dublagem ultrapassa qualquer luxo, atuando também como acessibilidade. Gabriel Ebling, dublador e ator, e Fátima Mourão, ressaltam a importância de pensar a realidade do Brasil, em que o índice de analfabetismo é alto e nem todas as pessoas conseguem acompanhar as legendas. Sem contar que o inglês não é o único idioma dublado, como lembra Cecília, que têm trabalhado com conteúdos em turco, japonês, alemão, francês, entre outros.

Em Brasília

São Paulo e Rio de Janeiro são referências em estúdios de dublagem, concentrando grande partes da produção brasileira. Fátima Mourão, carioca, mora em Brasília há 20 anos e trouxe para a capital a experiência profissional de toda uma carreira ministrando cursos de formação de dubladores e de técnicos do setor. Sem a visão de competir, mas sim de ampliar, a dubladora está no processo final para a abertura do estúdio próprio, o Ânima Filmes, localizado no Setor Comercial Sul.

No mesmo eixo, Paulo Pannaroni é gerente nacional do grupo DJRADIO Comunicação, com sede em Brasília e nos Estados Unidos, que oferece, entre diversas opções, os cursos de dublagem divididos em três etapas. “Hoje, o profissional da voz, da comunicação, não é só dublador. Ele também é ator, locutor, cerimonial, apresentador de tevê”, expõe o gerente.

Modelo remoto

Imagine uma sala fechada, sem janelas, isolada acusticamente, com circulação de pessoas durante todo o dia. Esse é o ambiente profissional do cotidiano de quem integra o setor de dublagem, que precisou se reinventar diante da pandemia. “Para preservar a vida dos dubladores, dos técnicos e dos funcionários, percebemos que precisávamos ficar em casa”, diz Cecília, que montou o próprio home studio, um “novo modo de procedimento de dublagem”, segundo Mauro Ramos.

Na perspectiva dos estúdios, Wendel Bezerra, fundador da empresa de dublagem UniDub, compartilha que a retomada das atividades têm ocorrido de maneira lenta e reduzida. Além de dublador, Wendel também exerce o cargo de diretor de dublagem. Por ser imediatista e participativo, a distância ocasionada pelo remoto, particularmente, traz a sensação de supervisão em vez de direção para o profissional.

Por um lado, o estúdio em casa gera o conforto e segurança para os dubladores, que costumam circular por diferentes locais de gravação em um mesmo dia, trazendo estresse, condições climáticas e físicas que podem prejudicar a voz. Por outro, o equipamento para montar a estrutura no lar próprio requer um alto investimento financeiro, os estúdios possuem relação de confiança e sigilo com as distribuidoras e o contato presencial facilita no direcionamento.

Impactos da pandemia

As plataformas de streaming, em alguns casos, tiveram de estrear obras sem que contasse com a opção de dublagem. Segundo a Comunicação Globoplay, 90% do portfólio internacional da plataforma está com a dublagem disponível, e que estão atuando para normalizar por completo, por reconhecerem que os conteúdos em português estão entre os mais assistidos. A Netflix também passou por alguns atrasos “por ter como prioridade a saúde e segurança dos funcionários”.

Diante deste cenário incerto, em que muitos dubladores ficaram sem trabalho, Gabriel Ebling foi um dos idealizadores da campanha Alô? Quem fala?, destinada à criação do fundo de auxílio emergencial para os profissionais da categoria. Doações são feitas no site catarse.me e, em troca, dependendo do valor, recebem ligações, áudios, vídeo chamadas dos dubladores sob escolha. Gabriel compartilha que vivem diversas situações, desde organização para pedido de casamento a comemorações de aniversário.

Cecília Lemes

É paulista e trabalha desde os 9 anos na área. Dublou a si mesma em no filme A Marca da Ferradura, em 1969. Ganhou destaque ao dublar a Chiquinha, de Chaves, mas também em animações japonesas. É dubladora da Tsunade, em Naruto, mãe de Bulma, em Dragon Ball Z, Anri, em Jaspion, da Karen, de Bob Esponja e Morticia, em Família Adams. Julianne Moore, Sandra Bullock e Julia Roberts também tiveram a voz da dubladora emprestada.

Fátima Mourão

É carioca de coração e mora em Brasília há 20 anos.Tem formação em arte cênicas, o que trouxe experiência prévia com a voz. Dublou personagens clássicos como She-ha, e o alter-ego princesa Adora; Olívia Palito, em Popeye; Dorothy, interpretada por Judy Garland; em Mágico de OZ; Scarlett O’Hara, vivida por Vivien Leigh, em E o vento levou. Trabalha, atualmente, com a formação de profissionais para área da dublagem.

Mauro Ramos

Nasceu no Rio de Janeiro e, além de dublar, trabalha como locutor, diretor de dublagem, ator, narrador e outras profissões que envolvem o uso da voz. Tem o papel de substituir Bussunda, humorista brasileiro que faleceu em 2006, na dublagem de Shrek. Também é conhecido por dar voz ao Pumba, javali em Rei Leão, Sulley, em Monstros S.A, Aku, de Samurai Jack, e emprestar a voz para os atores Geoffrey Rush, Gary Oldman, Christopher Lloyd e John Goodman.

Wendel Bezerra

Nasceu em São Paulo e é dublador, ator, locutor, diretor de dublagem e também tem canal no youtube. Fundador da produtora UniDub, teve grande reconhecimento por dublar os personagens Bob Esponja, Goku (Dragon Ball), Sam, da trilogia Senhor dos Anéis, Buddy Valastro (Cake Boss), e os atores Robert Pattinson, Leonardo DiCaprio, Brendan Fraser e ao aventureiro Bear Grylls.

Gabriel Ebling

É de São Paulo, ator e dublador, conhecido por dublar o personagem Xaveco, da Turma da Mônica jovem, série do Cartoon Network; Mikku em Mira a detetive do reino do Disney Junior; Pj Robô em Pj Masks; Doni do Festa Hi-5. Kashu e Iwan, do Dragon ball super. Yank em Nada ortodoxa, da Netflix. Teve participações especiais em Bob Esponja, Star wars: o último Jedi e O retorno de Marry Poppins.

*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação