Ação social

Projeto leva videogames para pessoas que querem jogar e não podem

O projeto 'Passa o controle', do podcaster Erick Santos, liga doadores de videogames com jovens que não têm condições de tê-los

Pedro Ibarra*
postado em 07/09/2020 12:00
 (crédito: Passa o Controle/Divulgação)
(crédito: Passa o Controle/Divulgação)

Com o intuito de disponibilizar videogames para crianças e adolescentes que não têm condições de comprá-los, surgiu, em Brasília, uma iniciativa que leva os aparelhos que não estão sendo usados para pessoas que querem jogar. Liderado por Erick Santos, o Passa o controle liga doadores a receptores e busca democratizar esses games.

Por meio de um site, no qual são aceitas inscrições, pessoas disponibilizam consoles ou portáteis que têm a intenção de doar e Erick organiza com ONGs de inclusão digital para que os aparelhos sejam repassados a pessoas que vão usá-los. O projeto começou em 18 de agosto e, segundo a organização, mais de 200 pessoas se inscreveram para doar só nos primeiros três dias após o início dos trabalhos.

Tudo começou a partir de uma ação altruísta de Erick com os amigos para ajudar João Vitor da Silva, um estudante de 14 anos, de Caruaru, em Pernambuco. “Fiz uma publicação no Facebook em que comentei sobre Persona 5, escrevi: ‘apesar de nunca ter jogado é um dos meus jogos favoritos, espero algum dia jogar'", conta o adolescente. João Victor tinha apenas o celular, mas, mesmo assim, não conseguia jogar muitos jogos. De São Paulo, Erick viu a postagem e se solidarizou com o menino após perceber que as pessoas estavam rindo da situação relatada na rede social.

Erick, que toca o podcast Overkill que fala sobre videogames, entrou em contato com empresas e mobilizou amigos até conseguir com um conhecido um Playstation 3 para João Victor. Com o videogame em mãos, ele comprou o jogo em formato digital e mandou para João Vitor. “Minha vida começou a melhorar quando eu conheci o Erick Santos”, relata o jovem.

Aquela primeira ação despertou uma ideia no podcaster. Ele começou a imaginar um formato de conseguir “conectar pessoas que possuem videogames ociosos com pessoas que querem jogar, se interessam pelo assunto e não têm meios”. Ao todo, foram contactadas quatro ONGs sendo uma em São Paulo e três no Rio de Janeiro e, de acordo com o Passo Controle, a intenção é estar em todas regiões.

O criador do Overkill é defensor da democratização do acesso ao videogame. Para ele, além de fonte de entretenimento, os jogos têm uma função que vai “muito além do Pac-Man”. “Eles trazem mensagens e estimulam a reflexão sobre diversos temas. O videogame tem extremo valor também para o aprendizado em muitas áreas como, por exemplo, raciocínio lógico, história, línguas”, analisa Erick. “Também tem a questão da inclusão e a possibilidade de vivência de outros mundos, isso ainda está engatinhando, principalmente aqui no Brasil, mas existem histórias de jogos que estimulam a representatividade e permitem que as pessoas se enxerguem ali”, completa.

“O que eu tenho de sonho para esse projeto e até um sonho em um âmbito muito maior é que esses videogames, esses acervos, pudessem fazer parte de centros culturais, de preferências nas periferias das cidades”, vislumbra Erick. “Uma espécie de biblioteca/museu de jogos onde as pessoas pudessem jogar e aprender sobre os jogos. A escolha das periferias é porque é onde o acesso é muito mais difícil”, comenta sobre o que aspira para o futuro da iniciativa.  

História com os videogames

Erick Santos, do Podcast Overkill e projeto Passo o Controle
Erick Santos, do Podcast Overkill e projeto Passo o Controle (foto: Arquivo Pessoal)

Desde pequeno, Erick teve contato com os videogames, um Atari das irmãs mais velhas o introduziu no mundo dos jogos. “Depois disso, todos os meus pedidos de aniversário e dinheiro de mesada eram direcionados para os videogames”, lembra o podcaster. "Eu sempre fui uma criança muito tímida e eu sempre encontrava uma espécie de fuga da realidade no videogame”, continua explicando o porquê sempre gostou de games de RPG, para viver outras vidas e histórias.

“Então, desde 2012, comecei a investir mais tempo da minha vida não só para jogar, mas também para pensar nos impactos que ele tem e construir uma rede e buscar trazer mais pessoas para essas discussões, mais pessoas para os jogos, mais pessoas para o desenvolvimento de jogos que, no Brasil, ainda é precário”, fala Erick sobre o podcast Overkill que toca ao lado de Mateus Lima e trata sobre temas mais amplos que apenas diversão nos games. “O videogame foi por muito tempo um lugar que eu me sentia à vontade, livre e feliz e, hoje, é uma coisa que eu sinto que preciso expandir para mais pessoas”, reflete o podcaster.


 

*Estagiário sob a supervisão de Roberta Pinheiro

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