Com 12 álbuns, entre estúdio, apresentações ao vivo e versões de luxo, Beyoncé tem uma carreira muito vasta e diversa na música. A artista começou no pop e, com o poder do rádio, amadureceu o som, entrou para o movimento hip-hop e chegou a referências africanas. A cantora não só atingiu multidões, como se consolidou como um dos principais nomes da história da música sendo hegemônica nas listas de maiores sucessos dos anos 2000 e 2010.
A carreira de Beyoncé, no entanto, não se atém ao sucesso que músicas e álbuns fizeram nesses quase 20 anos em que ela domina o mercado. A figura da artista é importante para a movimentação da indústria fonográfica de forma muito mais complexa. Ela possui a própria produtora, Parkwood Entertainment, tem direções nas distribuidoras HBO, Netflix e Disney + e tem a voz ouvida para muito além das mensagens que ela passa pela arte. “Ela é importante para o empoderamento e para representatividade daqueles que não se viam como estrelas”, diz o youtuber e influenciador Hícaro Teixeira.
Beyoncé saiu de grandes sucessos com o girl group Destiny’s Child para alçar voos maiores. Não se ateve ao pop que a colocou na mídia e dominou o mercado a partir das próprias ideias. A música foi uma ferramenta, mas a mensagem tornou-se um dos focos do trabalho. Ela arriscou, inventou e moldou a própria carreira para não ser só mais um nome na música e se tornar uma formadora de opiniões e fomentadora de discussões.
“Após o lançamento do Beyoncé, em 2014, a cantora percebeu que estava em outro patamar e que ela falaria sobre temas que queria e criticaria da forma dela o que ela entendia errado”, afirma Davi de Oliveira, estudante de ciência política e membro da Ubuntu, Frente Negra da Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). O disco Beyoncé inclusive foi um marco por ser álbum surpresa com um clipe para cada música. Quando perguntada em uma entrevista sobre a proposta do álbum da filha, Tina Knowles, mãe de Beyoncé falou: “Ela vê música, a mensagem dela também é visual”.
“A artista está a frente e tomou a responsabilidade de popularizar discussões importantes sobre feminismo e racismo por exemplo”, comenta o Davi. O argumento se prova a partir dos temas que são tratados na discografia pós-2014 da cantora. Ela falou sobre lugar de protagonismo da mulher, famílias negras, universidades negras e, no último lançamento, chegou em ancestralidade e diáspora do povo negro. “O trabalho de Beyoncé sempre foi sobre ela mesma, mas serviu para mostrar as habilidades incríveis que negros, mulheres e pessoas de diferentes corpos são capazes, mostrar que existem muitas pessoas talentosas que não possuem tanto espaço na arte”, pontua o estudante.
Black is King
A artista vive a primeira semana após o lançamento do terceiro álbum visual da carreira, o já muito comentado Black is king. O filme estreou exclusivamente na plataforma Disney + e é inspirado no disco The lion king: The gift, lançado em 2019. O longa apresenta metáforas da história de O rei leão na jornada de pessoas negras e africanas.
“A novidade que o longa apresenta é trazer O rei leão para um debate racial explícito”, analisa Davi de Oliveira. Beyoncé exalta no filme a figura do negro triunfal e, na abertura fala em narração. “Negro é sinônimo de glória”, a cantora e diretora do filme usa da beleza e das cores de figurinos e paisagens abertas para entregar uma releitura potente e social da clássica animação da Disney. “O rei leão é um filme sobre a África que rodou o mundo e as pessoas acabam não vendo mais que ele trata sobre a África e se situa no continente”, explica Davi.
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira