Após um período de promoções e lançamentos, a banda indie Glass Animals, finalmente, apresentou ao público o aguardado Dreamland, terceiro álbum de estúdio do grupo. Dave Bayley, Joe Seaward, Ed Irwin-Singer e Drew MacFarlane mostraram, nesta sexta-feira (7/8), um trabalho coeso e complexo, com 16 faixas e muitas memórias e autoconhecimento, sem deixar de lado a essência que os colocou no mapa.
Sob a liderança do vocalista Dave Bayley, o álbum foi gravado parte em estúdio e parte na casa do cantor. O suspense em cima do que seria apresentado foi uma crescente durante o ano de 2020.
Sem a possibilidade de fazer apresentações devido às restrições impostas pelo novo coronavírus, a Glass Animals passou a liberar singles e fazer ações para os fãs. O grupo lançou um site com batidas do álbum, traços da identidade visual, filtros de Instagram abertos para que fãs pudessem interagir e também fez uma realidade virtual em que, quanto mais o ouvinte fechasse o olho, mais conseguiria ouvir o álbum. Por fim, o grupo realizou uma festa via Zoom para a primeira reprodução do disco para apenas as 500 primeiras pessoas que acessaram o link.
Dreamland tem uma linha de raciocínio e cria um storytelling para o ouvinte seguir. O disco é um tour introspectivo por momentos da vida de Dave no ano em que a banda completa 10 anos de existência. Contudo, também é mais que isso, apresentando, com o passar das músicas, a capacidade musical da banda e como cada integrante amadureceu.
Se ouvido em ordem, o álbum apresenta, no início, um lado mais animado das composições da Glass Animals, com referências ao hip-hop, em músicas como Tokio Drifting -- que tem participação do rapper Denzel Curry -- e Tangerine. No entanto, conforme o álbum vai passando, o tom muda e as letras e as composições passam a caminhar para um lado introspectivo, como em Domestic Bliss e em Helium. O disco tem também, nas faixas do meio da tracklist, sons característicos da banda, a exemplo de Your love (Déjà Vu), que rememora os trabalhos feitos nos dois primeiros álbuns.
Após serem vistos por um público maior com How to be a human being (2016), em 2017, os músicos foram escalados para os maiores festivais do mundo, incluindo uma passagem pelo Brasil no Lollapalooza, e alcançaram marcas impressionantes, tendo, inclusive, passado da faixa de 100 milhões de reproduções em músicas. A Glass Animals entrega em Dreamland o trabalho mais adulto da banda, mas que também apresenta o processo como eles atingiram o status de atração principal destes eventos que eles antes apareciam como apostas.
O recomeço
Para muito além do sucesso que pode fazer, Dreamland também é uma vitória e um alívio para a banda. Este é o primeiro álbum após o acidente do baterista Joe Seaward. O músico foi atropelado por um caminhão enquanto andava de bicicleta em Dublin, em 2018. O artista ficou entre a vida e a morte e precisou fazer cirurgias neurológicas delicadas. Por isso, nestes dois anos, ele teve que reaprender a falar, a andar e a ler.
A relação entre os integrantes da banda é muito mais do que só profissional, eles são amigos de infância da época em que Dave se mudou do Texas para a Inglaterra. Qualquer problema mais grave com Joe significaria o fim do grupo. Felizmente, o baterista se recuperou e possibilitou que os sonhos de juventude dos quatro amigos músicos continuasse sendo possível.
Durante o tempo de incerteza, todos retomaram memórias importantes que formaram o conceito do álbum. O disco faz um trajeto que vai da energia e da inocência da juventude ao amadurecimento de adultos de mais de 30 anos, que não são mais os jovens que decidiram tocar juntos com vinte e poucos anos. Dreamland, portanto, é um novo capítulo não só da história de uma banda como de uma amizade.
*Estagiário sob a supervisão de Roberta Pinheiro