Da utopia para a realidade, Jankiel Gonczarowska sentia como se a construção da capital do Brasil representasse a de sua própria casa. Trabalhou na Revista Manchete, Senado, Câmara, Presidência da República e em outras áreas da cidade, contribuindo com registros que eternizam a história. A rotina se dividia em paixões, como revela Sandra Mussi, filha do fotógrafo: “A vida do meu pai foi a câmera fotográfica, a família e Brasília”.
Polonês de nascença, Jankiel Gonczarowska, enquanto criança, veio para o Brasil em um navio, junto aos pais e à irmã mais velha, onde se direcionaram para Porto Alegre. Pela região do sul, ele começou registrando os cenários litorâneos. Mais tarde, no Rio de Janeiro, trabalhou com Samuel Wainer, no lendário jornal Última Hora. Na cidade carioca, conheceu a paraense Yolanda Almeida e constituíram uma família com 13 filhos. Era comum que o fotógrafo visitasse Brasília, embora não tivesse condições de se estabelecer na cidade, que ainda estava em construção. Só em 1961 conseguiu mudar-se para a novíssima capital federal com toda família e começou os trabalhos.
Sensibilidade
O fotógrafo Orlando Brito trabalhou com Jankiel Gonczarowska, e relata os aprendizados que teve com o profissional, desde o ponto de vista técnico até a benevolência do polonês. O apreço pela estética e o convite feito por Jankiel, por exemplo, para que Orlando participasse de todos os processos requeridos pela fotografia em laboratórios, são exemplos de conhecimentos adquiridos. Hermínio Oliveira, que também conheceu o fotógrafo, relembra que, para trabalhar na profissão, na época, tinha que ter vontade e coragem, uma vez que não se tinha a tecnologia de hoje. Eram processos que envolviam sensibilidade para capturar o momento, sem que houvesse desperdício de filmes.
Dirigindo por Brasília em uma Rural Willys, Jankiel Gonczarowska visitou a Catedral diversas vezes sem fotografá-la, como conta Orlando Brito. Somente em um fim de tarde, quando a construção estava criando forma, o polonês fez o registro da obra por causa da luz, que favorecia uma imagem já definida na cabeça dele. “Foi com ele que aprendi que Brasília é um cenário, não só uma cidade, onde o roteiro acontece e os atores são as pessoas” pontua Orlando Brito.
Sempre muito respeitoso com as pessoas, Sandra Mussi lembra das horas de almoço, sagradas para família, em que o pai comentava sobre os mais diferentes assuntos que fotografava, tratando todos igualmente. Detalhes são relembrados por ela, como o cheiro de química em casa — por causa do laboratório e dos filmes negativos guardados pelo pai em caixas de sapato. Segundo a filha, ele se autointitulava retratista, passando por cenários com histórias e particularidades, dizendo que tudo o que a câmera registrasse, é o que o fotógrafo deveria viver. Para Orlando Brito, Jankiel Gonczarowska era também humanista, por tratar a figura humana como elemento essencial e esperar o momento certo para capturar as expressões sinceras, sendo impossível enxergar um desacerto.
Reconhecimento
A Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) tem um projeto chamado Imagem e Memória Candanga, que se baseia em reconstruir a história de Brasília pela visão de candangos e operários. As fotos foram resgatadas por Aline Ferrari, gerente de acervo da Secec, que trabalha com Marcelo, neto de Jankiel Gonczarowska. O reconhecimento da importância do fotógrafo polonês se dá também por ele ter sido o avaliador técnico das fotos de Mário Fontenelle, fotógrafo oficial de Juscelino Kubitschek, registrando o marco zero da capital, para o acervo da Secec.
Além disso, Jankiel Gonczarowska contribuiu para o campo de fotorreportagem, registrando os passos do crescimento de Brasília, tornando possível a análise contemporânea de gerações. Foi vencedor do prêmio Fotógrafo do Ano, em 1955, com produções de documentários fotográficos.
*Estagiários sob supervisão de Igor Silveira
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