Moraes Moreira teve uma carreira tão vasta e marcada por sucessos que é até difícil apontar quem, ao longo dos mais de 50 anos, foi seu maior parceiro musical. Mas se alguém se atrever a escrever uma relação, o nome de Armandinho Macêdo, certamente, estará nela. Juntos, eles compuseram, por exemplo, Chame gente, o maior hino do carnaval da Bahia. Por isso, nada mais justo que a primeira live do inventor da guitarra baiana fosse dedicada ao amigo, morto em abril deste ano.
A apresentação está marcada para a próxima sexta-feira (28/8), às 20h, no canal do músico no YouTube, com participação do irmão André Macêdo e apresentação da jornalista Camila Couto. No repertório, sucessos dos mais variados projetos de Armandinho, como o grupo A cor do Som e o Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar, além, é claro, de canções de Moraes. “Moraes Moreira é como se fosse o motivo (para a realização da live). Queria homenageá-lo, e a plataforma que a gente tem agora é essa”, contou ao Correio.
A parceria entre os baianos transcende a música. Armandinho lembra que foi o primeiro artista a ser procurado por Moraes após a saída do grupo Novos Baianos. No período, os dois chegaram a morar juntos, no Rio de Janeiro, enquanto formavam a banda de apoio do cantor — banda essa que viria a originar A cor do Som.
É possível dizer até que a relação era familiar. Foi com Osmar Macêdo — pai de Armandinho e criador, ao lado de Dodô, do trio elétrico — que Moraes compôs Pombo correio, um de seus maiores êxitos, e tornou-se o primeiro cantor de trio. “Moraes foi um grande parceiro, um irmão mesmo. Sempre gostei desse tratamento. Meu pai era um segundo pai para ele. Criou-se uma situação bem íntima. Cheguei a morar com ele, a mulher e os dois filhos. É com ele também que começo a compor mesmo, a despertar esse lado de composição. É toda uma história de vida”, sintetiza o músico.
Aos 72 anos, Moraes Moreira não resistiu a um infarto agudo do miocárdio e morreu, na madrugada de 13 de abril, no apartamento em que morava sozinho, na Gávea, no Rio de Janeiro. Ao longo da carreira, iniciada no fim dos anos 1960, gravou e lançou 45 discos. Também ocupava a cadeira 38 da Academia Brasileira de Literatura e Cordel. Dias antes da morte, o cantor havia feito uma publicação no Instagram em que disse estar aproveitando o período da quarentena para tocar e escrever. Deixou, aliás, um cordel em que falava dos problemas enfrentados pelo Brasil atualmente: a covid-19, a violência e o preconceito.
Quarentena
Em isolamento por conta da pandemia do novo coronavírus, Armandinho teve todo o planejamento da carreira afetado. Em janeiro, ele preparava um álbum para os festejos de São João, que acabaram não ocorrendo em 2020. As lives, avalia ele, surgem como um alívio temporário a um dos mercados mais atingidos pelas medidas de distanciamento social. “O músico foi o primeiro a parar e talvez seja o último a voltar, porque os nossos shows dependem de aglomeração. A live é uma saída que estamos tendo agora. Estamos buscando até uma forma de que ela sirva também para a sobrevivência, porque os recursos da gente vão acabando, vão minando”, pontua o músico, que já projeta uma nova apresentação virtual para o Natal.
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