Mostrar a desigualdade social enfrentada por moradores da comunidade de Santa Luzia, na Estrutural, durante a pandemia do novo coronavírus. Foi com esse objetivo que o diretor de cinema Webson Dias começou a produzir o documentário Tempo de disolamento social.
O cineasta estava frequentando a Estrutural antes de os casos da covid-19 chegarem à capital, para a gravação de um outro filme, que mistura ficção com documentário. Durante as gravações da outra obra, surgiu a necessidade de retratar a realidade enfrentada por moradores durante a pandemia.
“Quando vimos que o coronavírus estava chegando mais perto da nossa realidade, de imediato, achamos importante registrar. É um momento difícil para todo mundo, mas, para algumas pessoas, é mais complicado ainda, pela falta de estrutura. Por exemplo, é difícil conseguir meios de manter a higiene em um lugar que não tem água encanada e esgoto tratado”, diz o diretor.
A pandemia escancarou as desigualdades e, com os moradores da Santa Luzia, não foi diferente. Em mais de quatro meses de produção, o filme traz cenas chocantes e mostra que em determinadas realidades, o coronavírus é apenas mais um problema. “A impressão que tive era que elas tinham tantos outros problemas mais urgentes, que a covid não era o maior medo que enfrentavam. A violência, a incerteza de até quando vão ficar lá, o improviso das casas, tudo isso pesava”, avalia Webson.
O nome do documentário se alinha às dificuldades enfrentadas: Tempo de disolamento social. “O título é mais por essa ideia que foi reforçada, sobre a importância do isolamento social. Mas lá, elas estavam desoladas. Não era só se isolar, as pessoas estavam desesperadas”.
Com uma equipe reduzida, o diretor contou com ajuda dos próprios moradores da região para conseguir registrar as cenas do filme. O líder comunitário Carlos Augusto, que vive em Santa Luzia, teve papel fundamental na produção, pois andava com o equipamento e abordava os moradores.
“Nossa ideia foi trazer o olhar de quem vive lá. A Santa Luzia fica nos fundos da Estrutural, era um setor de chácaras, e foi feito um loteamento. É um local muito grande. Havia um grupo que morava mais próximo do Setor de Oficinas e essas famílias foram retiradas de lá, quebraram os barracos e mais de 400 famílias ficaram sem local para ir. Essas famílias ficaram acampadas no parque da Estrutural. O filme começa mostrando esse acampamento em meio a pandemia, eles não tinham água, viviam de doação de alimentos e o Carlos Augusto faz o registro dessas famílias”, relata Webson.
À espera de ser selecionado para festivais como o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o filme ainda não foi lançado. “É um documentário de urgência. Esse filme precisa circular em todo Brasil, porque algumas pessoas pensam que Brasília é uma ilha no meio do Brasil, pensam que aqui não tem periferia, mas não sabem da precariedade que muitas regiões enfrentam. Primeiro vamos exibir para os moradores que participaram do longa em uma sessão on-line. Nem todos têm computador, mas têm celular e dá para pensar em exibir o filme de alguma forma”, acrescenta.
Para o professor de cinema, Érico Monnerat, que dividiu a montagem do filme com Webson e fez a finalização do áudio na produção, o Tempo de disolamento social traz uma temática urgente. "Foi um projeto muito importante pela urgência do tema, documentamos como a comunidade está sendo afetada e como a doença escancara ainda mais a desigualdade e o acesso às necessidades mais básicas", completa.
*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira
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