Entrevista

Ao 'The Guardian', Caetano Veloso compara governo Bolsonaro à ditadura

Além de relembrar o período de exílio em Londres, o músico também falou sobre os problemas da pandemia e do setor cultural

O jornal inglês The Guardian publicou, nesta quarta-feira (29/7), uma entrevista com Caetano Veloso, em que o cantor faz um paralelo entre o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e o período da ditadura militar no Brasil. Além disso, compartilhou as impressões sobre a pandemia do novo coronavírus, os ataques ao setor cultural, dentre outros temas relacionados à situação política no país.

Segundo o jornal, Caetano, exilado em Londres durante o período da ditadura militar no Brasil, afirmou que teme que o "grupo ultra reacionário" do presidente não desista facilmente do poder. O cantor também disse que os últimos meses no país têm sido um “pesadelo absoluto. "É apenas loucura”, afirmou, em relação aos protestos de extrema direita, que pedem a volta do regime militar.

O The Guardian destacou que, mesmo com as diferenças entre o passado ditatorial, há 50 anos, e o atual regime democrático, ainda existem “ecos perturbadores” do atual panorama político do Brasil e a experiência de exílio do compositor. Sobre isso Caetano afirmou: “Você não pode dizer que Bolsonaro não é o Brasil. Ele é muito parecido com muitos brasileiros que eu conheço. Muito parecido com o brasileiro médio - na verdade, a capacidade dele e de seu bando de permanecer no poder depende de enfatizar essa identificação com o brasileiro 'normal’", completou.

Dentre outras análises sobre o atual governo, Caetano apontou que, desde a posse em 1º de janeiro de 2019, o governo Bolsonaro não apresentou nada além de "insanidades". “O que o executivo brasileiro fez no período desde que ele foi presidente? Nada. Não houve governo”, questionou, destacando que, como outros líderes populistas de direita, Bolsonaro propôs “de maneira suspeita, soluções fáceis para problemas complexos”, tendo sido eleito por essa razão, segundo o músico.

Sobre a pandemia do novo coronavírus e como o Brasil tem lidado com a doença, Caetano citou o teste positivo de Bolsonaro para exemplificar o comportamento do país. "É bestial. E o presidente mantém sua posição, mesmo tendo sido infectado. Ele nem se comportou como Boris Johnson, que mudou de tática depois de ser infectado", afirmou.

O músico, que continuou a compor durante a quarentena de cinco meses, disse, no fim da entrevista, que há também uma “conveniência no pessimismo” e insistiu que, ainda assim, permanece "escandalosamente otimista" em relação ao futuro do Brasil.

"Nossas florestas, nossas músicas, nossas peças e nossos filmes estão sendo ameaçados por esse governo - e estão em um processo de serem destruídos. Mas,como um dos membros do grupo que produz música popular, posso garantir que estamos aqui - o Brasil está aqui”, concluiu.