
No mundo moderno, quem não se atualiza na velocidade das mudanças tecnológicas perde espaço profissional. A inovação atinge todas as atividades e tem promovido transformações na advocacia e no Judiciário.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pode ajudar nesse processo, promovendo debates e iniciativas para garantir que a tecnologia atue como aliada da classe. O presidente da OAB Rondônia, Márcio Nogueira, é um dos líderes que vêm impulsionando essa agenda, abrindo discussões sobre inovação e Inteligência Artificial para o centro do debate jurídico.
Em entrevista ao Direito&Justiça, Nogueira afirma que a Inteligência Artificial já se tornou uma ferramenta indispensável para a advocacia e a classe precisa aprender a lidar com uma as ferramentas tecnológicas que cada dias mais úteis e necessárias. Segundo o presidente da seccional de Rondônia, a OAB tem papel fundamental no auxílio à capacitação e na escolha das melhores ferramentas.
Mas essa transformação, ressalta, não substitui o advogado, mas aumentar a sua eficiência. "Temos atuado para garantir que o uso da IA no Judiciário respeite o protagonismo da advocacia e a presença do elemento humano nos processos", explica.
Qual o papel da Inteligência Artificial no cotidiano dos advogados?
A Inteligência Artificial (IA) já se tornou uma ferramenta indispensável para a advocacia, otimizando tarefas repetitivas, agilizando pesquisas jurídicas e até auxiliando na análise de jurisprudência e documentos. Softwares baseados em IA podem revisar contratos, identificar padrões em processos e sugerir argumentos jurídicos, aumentando a eficiência dos advogados. No entanto, o papel da IA não é substituir o profissional, mas potencializar sua atuação, permitindo que o advogado dedique mais tempo à estratégia, ao atendimento personalizado e à construção de soluções jurídicas inovadoras.
Como a inovação tem impactado a advocacia e quais desafios os profissionais enfrentam para se adaptar?
A inovação trouxe mais agilidade e eficiência para a advocacia, mas também impôs desafios. O volume de informações aumentou e os advogados precisam lidar com um número crescente de ferramentas tecnológicas. Além disso, a digitalização do Judiciário e o uso de plataformas de automação exigem uma nova forma de atuação. O maior desafio está na mudança de mentalidade: é preciso compreender que o direito não é mais exercido como no passado, e a inovação não é uma ameaça, mas uma oportunidade para ampliar as possibilidades da advocacia.
Os advogados mais antigos enfrentam dificuldades para se adaptarem a essas novas tecnologias?
Sim, mas isso não significa que seja impossível se adaptar. Muitos advogados experientes, acostumados com práticas tradicionais, encontram dificuldades com novas ferramentas digitais. No entanto, aqueles que se abrem para aprender e incorporar a tecnologia em sua rotina percebem os benefícios rapidamente. A experiência jurídica aliada ao uso estratégico da tecnologia torna esses profissionais ainda mais competitivos. O segredo está na disposição para aprender e na valorização do humano dentro desse novo contexto digital.
De que forma a OAB pode auxiliar os advogados a se prepararem para esse cenário em transformação?
A OAB tem um papel fundamental nesse processo, promovendo capacitação, fomentando o debate sobre tecnologia e criando mecanismos para que os advogados tenham acesso às ferramentas adequadas. A OAB Rondônia, por exemplo, lançou o ADVLab, o primeiro laboratório de inovação da advocacia brasileira, oferecendo cursos e treinamentos em tecnologia, gestão e inovação. Além disso, temos atuado para garantir que o uso da IA no Judiciário respeite o protagonismo da advocacia e a presença do elemento humano nos processos.
Quais as principais tendências tecnológicas que a advocacia deve acompanhar nos próximos anos?
Entre as tendências mais relevantes, destaco: Inteligência Artificial Generativa, que otimiza a pesquisa jurídica e a produção de peças processuais; Automação de processos, permitindo maior eficiência no gerenciamento de escritórios e na execução de tarefas repetitivas; Jurimetria, que utiliza análise de dados para prever tendências de julgamento e auxiliar na estratégia processual; Blockchain, para garantir maior segurança em contratos digitais e transações jurídicas; Plataformas de resolução de conflitos on-line (ODR - Online Dispute Resolution), que estão transformando a mediação e a arbitragem. O advogado que acompanhar essas inovações e souber utilizá-las terá uma vantagem competitiva significativa.
O que os advogados precisam aprender além do direito para se destacarem no mercado?
O advogado do futuro precisa desenvolver habilidades multidisciplinares. Além do conhecimento jurídico, é essencial dominar gestão, tecnologia, marketing digital, inteligência emocional e oratória. Saber vender seus serviços, construir autoridade na área de atuação e se relacionar bem com clientes e parceiros é fundamental. A advocacia não é apenas técnica; é também um negócio e requer visão estratégica para se manter sustentável e competitiva.
Como as mudanças tecnológicas impactam o início da carreira e a formação dos novos advogados?
Os novos advogados entram no mercado em um cenário mais competitivo e digitalizado. Isso significa que precisam se diferenciar desde cedo, aprendendo a utilizar ferramentas tecnológicas para otimizar seu trabalho e buscando especializações que atendam às demandas do mercado. A tecnologia também permite novas formas de atuação, como a advocacia digital e o consultivo preventivo, ampliando as possibilidades de inserção no mercado.
Como os jovens advogados podem se posicionar diante de um mercado cada vez mais digitalizado?
A primeira estratégia é a presença digital. Hoje, um advogado que não está nas redes sociais, que não produz conteúdo relevante ou que não utiliza plataformas de networking perde oportunidades. Além disso, a especialização em áreas inovadoras, como direito digital, proteção de dados e compliance, pode ser um grande diferencial. Os jovens advogados também devem investir em parcerias e networking, pois, em um mundo cada vez mais conectado, quem constrói boas relações tem mais chances de sucesso.
Quais estratégias podem garantir que a tecnologia amplie o acesso à Justiça, em vez de criar novas barreiras?
A tecnologia deve ser um facilitador do acesso à Justiça, e não um obstáculo. Para isso, algumas estratégias são essenciais: manutenção do atendimento presencial como opção para quem não tem acesso a meios digitais; aprimoramento da infraestrutura tecnológica do Judiciário, garantindo sistemas intuitivos e acessíveis; inclusão digital, capacitando advogados e cidadãos para utilizarem as ferramentas disponíveis; regulação do uso da IA no Judiciário, garantindo que as decisões automatizadas sejam supervisionadas e que o elemento humano não seja eliminado do processo judicial. A OAB tem um papel fundamental em garantir que essas diretrizes sejam seguidas e que o direito de defesa seja sempre preservado.
Como a OAB pode atuar para que as mudanças tecnológicas favoreçam tanto os profissionais quanto os cidadãos?
A OAB deve ser protagonista nesse debate, garantindo que as transformações tecnológicas beneficiem a advocacia e a sociedade. Isso inclui desde a defesa da valorização do advogado no contexto digital, até a promoção de políticas públicas para tornar a Justiça mais acessível por meio da tecnologia. Além disso, a OAB precisa continuar investindo na capacitação dos advogados, para que possam utilizar as novas ferramentas a seu favor. E, sobretudo, deve atuar na defesa de uma Justiça que respeite o elemento humano, pois no fim das contas, Justiça é gente cuidando de gente. A revolução tecnológica é um caminho sem volta, mas cabe a nós, advogados, garantirmos que esse avanço aconteça sem que o humano seja deixado para trás.
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