Por Fernanda Toscano* — Os primeiros indícios dos desafios enfrentados por mulheres para ocupar posições estratégicas remontam ao século XIX. Até então, elas sequer podiam ser admitidas em faculdades de direito. A estrutura patriarcal atribuía, exclusivamente, aos homens o privilégio de ocupar cargos de prestígio e poder econômico, social e político, enquanto a participação feminina era desvalorizada em quase todas as esferas. A mulher, à época, era considerada fraca e incapaz.
Apesar dos avanços em prol da igualdade de gênero, a disparidade na linha de comando organizacional ainda é alarmante. Apenas 5% das mulheres alcançam o topo da carreira executiva (CEO). As adversidades, entretanto, nunca foram obstáculos intransponíveis para que elas conquistassem voz e espaço, inclusive, na área jurídica, segmento historicamente dominado por homens.
A presença da liderança feminina em escritórios de advocacia tem crescido nos últimos anos. Contudo, as mulheres ainda enfrentam barreiras, como machismo, falta de reconhecimento, salários mais baixos e descredibilização de suas qualificações técnicas. Em áreas, como a advocacia criminal, por exemplo, as advogadas enfrentam desafios particularmente intensos, incluindo preconceito e assédio.
A demanda por uma postura firme é ainda maior, exigindo delas um posicionamento claro e diferenciado para preservar sua integridade profissional e pessoal. A equidade plena requer mudanças estruturais e culturais profundas, além de políticas de apoio que garantam um ambiente verdadeiramente igualitário.
Para transformar de fato os escritórios de advocacia, não basta o aumento numérico de mulheres em posições de liderança. É necessária uma reformulação da cultura organizacional, desafiando estereótipos e estabelecendo a diversidade como um valor essencial para o desenvolvimento da prática jurídica.
Nos escritórios de advocacia, poucas profissionais ocupam posições de destaque, embora já existam evidências de que empresas lideradas por mulheres tornam o ambiente mais inclusivo, empático e geram melhores resultados financeiros.
Estudos como o Women in the Workplace (LeanIn.Org e McKinsey & Company, 2020) indicam que a liderança feminina é um fator crucial para a atração e retenção de talentos, além de impulsionar a produtividade das equipes e a satisfação dos clientes. A presença de mulheres em cargos de decisão também está associada à implementação de práticas mais dinâmicas e inovadoras no ambiente de trabalho.
Artigos da Forbes Mulher revelam que empresas com CEOs do sexo feminino tendem a apresentar melhores retornos financeiros. Uma análise da S&P Global mostra que empresas lideradas por mulheres alcançaram desempenho 20% superior nas ações nos 24 meses seguintes à nomeação de uma CEO, especialmente entre as listadas na Fortune 500. Esses dados evidenciam que a presença feminina em posições de poder não apenas impulsiona a performance organizacional, mas também fortalece a credibilidade de mercado.
A igualdade de gênero, sob todas as perspectivas, vai além do discurso sobre isonomia de direitos e obrigações entre homens e mulheres. Certamente, a presença de mulheres na liderança é uma aposta estratégica que conduz as empresas a maior sucesso e desempenho no ambiente corporativo.
*Sócia-diretora (CEO) e membro do Conselho do escritório Caputo, Bastos e Serra Advogados