Visão do Direito

A França de Henri Matisse, a Bahia, os amigos e a Suprema Corte

"As manifestações desse grupo de intelectuais que são referências em suas áreas respectivas, muito me sensibilizaram, e me remeteram ao interior da Bahia, ao meu interior e à minha Le bonheur de vivre"

 22/07/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades.  CB Poder recebe Joao Carlos Souto-  Professor de Direito.  -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
22/07/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. CB Poder recebe Joao Carlos Souto- Professor de Direito. - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Por João Carlos Souto* As relações França-Bahia remontam ao período colonial, especialmente no que "parece" ter sido a participação dos franceses, ainda que tímida, na Conjuração Baiana, igualmente conhecida por "Revolta dos Alfaiates", insurreição ocorrida na Bahia, em 1798. Há documentos que apontam para a participação do capitão e chefe de Divisão das Armadas Navais Francesas, Antoine René Larcher (1740-1808), que teria solicitado de seus superiores apoio do governo francês para a "Revolta" que vinha sendo construída pelos baianos em prol do rompimento com a Coroa Portuguesa. O conceituado historiador baiano Luís Henrique Dias Tavares igualmente registra, já no início do século XIX, a presença de esquadras francesas em Salvador, ainda que de passagem, inclusive, uma comandada por Jerônimo Bonaparte, irmão de Napoleão.

Quase dois séculos depois aportou em Salvador um francês de nome Pierre Verger, mas esse chegou aos 44 anos de idade, em missão de paz, e fez história na Bahia, permanecendo por lá até seu falecimento, aos 94 anos, em 1996. Verger foi um dos maiores fotógrafos mundiais, percorreu o mundo antes e depois de se fixar em Salvador.

Curiosamente, na Bahia de meados da década de 1970, no ensino do primeiro grau (como se chamava à época), ensino público, com professores sub-remunerados e instalações modestíssimas, ensinava-se francês, não inglês. Fui um desses privilegiados. Muito curioso, estudava com afinco, até ser seduzido pelo inoxidável dólar e abandonar de vez a Língua de Dumas, Proust e Camus. Uma pena.

As aulas de francês, antes da entrada na adolescência, eram marcantes. Repetíamos à exaustão: "Le soleil brille dans le ciel noir". Com o tempo, a língua dos que inventaram o cinema foi ficando distante, de mim e do mundo. Foi engolfada e cedeu lugar para "hambúrguers" e "milkshakes"... Mas nem tudo se perde; a memória do menino irrequieto e leitor voraz, tratou de preservar algumas passagens.

Entre outras palavras, frases e verbos, ficou uma lembrança que persiste e diz respeito à pintura. Uma explicação que me foi passada pela professora de francês, de quem não me recordo o nome, mas guardo a fisionomia de traços finos e disposição para ensinar a Língua das Liberdades em um período em que ela fora sequestrada do Brasil. Ela um dia discorreu sobre Matisse e o fauvismo (também é aceito "fovismo"). E eu adorei a expressão (e a foto da tela) "Le bonheur de vivre" ("A Alegria de Viver"), uma pintura a óleo sobre tela de Henri Matisse, de 1905/06.

O título que Matisse deu a um de seus quadros mais famosos me tomou a memória ao ser surpreendido, hoje, 13 de outubro, por manifestações consistentes, elogiosas, e absolutamente espontâneas, de um grupo de juristas e intelectuais com quem "convivemos" todos os dias e aprendemos mutuamente, convergindo e divergindo de forma saudável e respeitosa. As tais manifestações versaram sobre o meu livro — Suprema Corte dos Estados Unidos — Principais Decisões — com depoimentos do professor e juiz federal Jairo Schafer ("Recomendo sempre o maravilhoso livro aos meus alunos de Direito Constitucional!"), do professor Arnaldo Godoy ("Teu livro é imbatível em nossa tradição juscomparatista") do professor e procurador da República Vladimir Aras ("Livro Pioneiro e certeiro"), do professor Fernando Passos, do professor e conselheiro federal da OAB Alberto Zacharias Toron, nosso "Apóstolo das Liberdades Públicas" ("Livro, nem mais, nem menos, excepcional").

As manifestações desse grupo de intelectuais que são referências em suas áreas respectivas, muito me sensibilizaram, e me remeteram ao interior da Bahia, ao meu interior e à minha "Le bonheur de vivre".

*Professor de Direito Constitucional, Mestre e Doutor em Direito, Procurador da Fazenda Nacional, autor de “Suprema Corte dos Estados Unidos  -  Principais Decisões” (Atlas, 4ª ed/2021)

 

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postado em 17/10/2024 04:09
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