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Jornada do juiz Fábio Esteves ganha livro infantil

Escrito por Claudine Bernardes, o livro narra a trajetória do juiz que superou desafios de uma infância humilde e alcançou a magistratura

Fábio Esteves e sua família com o ministro Edson Fachin, do STF, e a esposa Rosana Fachin -  (crédito: Charles Damasceno)
Fábio Esteves e sua família com o ministro Edson Fachin, do STF, e a esposa Rosana Fachin - (crédito: Charles Damasceno)

Da roça para os tribunais é o título do livro infantil, lançado na última semana, que conta a história de Fábio Esteves, que, por meio dos estudos, saiu do interior do Mato Grosso do Sul para se tornar juiz de direito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, em Brasília. De origem pobre, Fábio nasceu e passou sua infância em uma fazenda na zona rural de Chapadão do Sul, onde seu pai trabalhava como capataz e sua mãe desempenhava funções domésticas. Ao alcançar a idade escolar, foi graças ao seu pai que ele passou a frequentar a escola, dando seu primeiro passo rumo à magistratura.

"Meu pai era analfabeto, no entanto, ele dava muito valor à educação. Quando chegou à minha idade escolar, ele conseguiu mobilizar a comunidade para que políticos e os próprios moradores ajudassem a instalar uma escolinha rural multisseriada. E isso, com certeza, foi um ponto de virada na minha vida. Meu pai, mesmo analfabeto, não conseguia conceber a ideia de seus filhos não irem para a escola. Isso o coloca à frente do seu tempo, como alguém visionário. Na minha família, muitos dos meus primos não tiveram a oportunidade de estudar. Mas meu pai não aceitou que isso acontecesse conosco", conta Fábio.

A escola, localizada a 23 quilômetros de distância da fazenda onde moravam, era precária. "A professora fazia a merenda, limpava a escola e ainda dava aulas. Houve momentos em que não tínhamos condições de ir todos os dias para a escola, e, por isso, eu e meus irmãos fomos obrigados a morar nela por um período", explica. Após terminar o ensino fundamental, a família decidiu se mudar para a cidade para que os filhos pudessem continuar os estudos. "Quando terminamos o ensino fundamental, alguns parentes disseram que já estava bom. Meu pai, no entanto, disse que de jeito nenhum. Ele deixou um emprego de 10 anos na fazenda para garantir que teríamos acesso à educação, mesmo que isso gerasse muita resistência e preocupação", relata o juiz.

Assim, nos anos 90, a família mudou-se para uma cidade do interior. O pai chegou sem nenhuma garantia de emprego, comprou um terreno fiado e construiu uma casa simples. Pouco tempo depois, ele faleceu, agravando a situação da família de Fábio. Sua mãe, viúva aos 26 anos com três filhos, enfrentou um momento difícil, passando a depender de doações. Aos 15 anos, Fábio ingressou no programa Menor Carente do Banco do Brasil, o que lhe permitiu continuar os estudos. Com muita determinação, ele concluiu o ensino médio e, em seguida, foi aprovado na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, onde iniciou sua jornada acadêmica.

"Foi no ensino médio que veio a escolha da minha profissão. Ao ler sobre magistratura em uma feira de profissões, aquilo me chamou a atenção e eu decidi que era isso que eu queria fazer. Não acredito que tenha sido uma escolha aleatória. Acho que tem a ver com o que vivi. Eu era uma criança muito atenta ao que acontecia ao meu redor, especialmente à vida difícil que meus pais enfrentavam na fazenda. Essa experiência me despertou uma forte noção de justiça", explica o juiz.

Logo após se formar, Fábio dedicou-se aos estudos para o concurso de juiz e foi aprovado. Atualmente, ele exerce o cargo de juiz instrutor no gabinete do ministro Edson Fachin, no Supremo Tribunal Federal (STF). Além de sua atuação no Judiciário, o magistrado desenvolve uma ação social no Distrito Federal, que leva formação em cidadania a jovens carentes de escolas públicas, a Falando Direito. Ele também eleva a pauta da igualdade racial e a defende com firmeza e compromisso. Esteves foi premiado no "Desafio Lideranças Públicas Negras" por cocriar o Encontro e o Fórum Nacional de Juízes e Juízas Negros. Desde 2017, o evento reúne magistrados para discutir o racismo no Judiciário e promover políticas que ampliem a presença de juízes negros, que atualmente representam apenas 12% do total.

Sobre o livro

A ideia foi da editora Turminha do Bem, que convidou a autora Claudine Bernardes para escrever o livro. A proposta era criar uma história inspiradora sobre esperança e a luta contra o preconceito racial, baseada na vida do juiz Fábio Esteves. O objetivo é transmitir às crianças a importância de enfrentar desafios e perseguir sonhos com trabalho e determinação. O livro busca ensinar que, apesar das dificuldades, é possível vencer obstáculos e alcançar um final cheio de esperança.

"Foi um processo bonito criar os livros. Além da biografia do Dr. Fábio, ouvi várias entrevistas para entender suas dores e motivações. Escrevi dois textos: um mais curto para crianças pequenas e outro mais longo para o ensino fundamental, ambos com uma prosa poética para despertar respeito e resiliência nas crianças. As ilustrações de Alex Seymour Batista complementaram o trabalho de forma sensível, e estamos muito felizes com o resultado", declara Claudine.

  • Fábio, sua mãe Rosa Vilma e seu tio José Milton.
    Fábio, sua mãe Rosa Vilma e seu tio José Milton. " Precisamos nos responsabilizar pela nossa trajetória, e isso envolve levar nossos sonhos a sério. Coloquei nas dedicatórias do livro que os sonhos são a nossa verdade. Isso é o que eu gostaria que todos soubessem", diz Fábio. Foto: Charles Damasceno
  • O juiz, seu filho, Gael, e seu companheiro, Nelson Muniz
    O juiz, seu filho, Gael, e seu companheiro, Nelson Muniz Foto: Charles Damasceno
  • Capa do livro
    Capa do livro Foto: Charles Damasceno

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postado em 12/09/2024 06:00
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