Um dos maiores escritores do país, Nelson Rodrigues, primava por temas que puxavam pelo imaginário daqueles que lhe escutavam pelas ondas do rádio, liam suas adaptações literárias ou mesmo assistiam as séries de TV produzidas a partir de seus livros. Com um texto ácido e muitas vezes erótico, repleto de polêmicas e tragédias, Nelson retratava o pior de uma sociedade que se escondia como casta mas desde sempre, em seus dilemas existenciais, profana e repleta do que vivenciamos abaixo do sol. Se para alguns a escrita de Nelson era um prenúncio ao que de pior o ser humano possui, outros o consideravam um gênio que descobriu como ninguém a figura de linguagem - falando a verdade nua e crua para chamar audiência. Views e Inscritos em tempos modernos.
A vida como ela é – titulo de sua coluna de 1950 a 1961 poderia ser reproduzida nos dias de hoje com tranquilidade, com base nos inúmeros desafios que passamos como sociedade. O papel de um Creator na sua trajetória de buscar seus likes e ampliar o número de seguidores. Nelson teria feito um baita sucesso e seria "trending topic" nas redes sociais. Imaginem Nelson refletindo em suas colunas os temários abaixo:
Vivemos em uma sociedade doente que carece de bons conceitos e precisa se posicionar buscando as inflexões pessoais que contrastam com as questões de desejos de uma massa. O grande problema é que continuamos após esses longos 70 anos nos entendendo como parte de um todo, atordoado, amordaçado a um conceito cada vez mais alongado de “ter para ser”. Não temos percebido algo que nos conforte em termos de melhorias. Muito pelo contrário. Aceitamos acordos espúrios e negociatas que nos ferem no pessoal e como sociedade. Buscamos o sucesso nos negócios muitas das vezes passando como uma locomotiva por cima de trilhos, a quilômetros por hora, sem querer saber quem está ali abaixo ou à frente. E mesmo sabendo, atropelamos, pois temos que vencer. A qualquer custo.
As tragédias também estão soltas por aí. Inúmeras. Vistas a olho nu.
As, naturais, que de naturais pouco tem, fruto da forma torpe com a qual tratamos o espaço por onde transitamos e vivemos. Um mundão que fingimos cuidar. No geral, mais uma vez, deixamos para outras gerações o destino de fazer. E Nenhuma faz. Somente passamos a bola.
As de ordem social, humana, aquelas que poderíamos evitar - a mesma sorte levam. Não há interesse em sua resolução. O bicho homem perde todas essas batalhas. E quer perdê-las para ganhar. O profano também ganhou ares de "fashion". O certo virou errado. O errado virou certo. E tá tudo bem. Vida que segue...como ela é.
Existem ainda aqueles que no territorial tentam buscar um lugar ao sol. Tentam subir o nível. Procuram na fé ou mesmo na essência do que construíram em suas trajetórias e exemplos um ponto de inflexão e um suspiro de algo maior, melhor. Mas se deparam com movimentos que os calam. Você não pode isso. Não deve aquilo. Se abstenha de comentar e, principalmente de AGIR.
O politicamente correto virou um quadro de abstenção. Já parou para pensar como cercearam nossas liberdades? De ir e vir. De nos posicionar. De agir e principalmente de SER ? O mundo vem se tornando um lugar chato. Maçante. E desconhecemos algum lugar em que o ponto de vista verdadeiro possa ser pontuado, sem ressalvas.
Uma parte da sociedade, encastelada em poder e dinheiro, pelo estilo de vida que escolheu para chamar de seu quer fazer mais do que colecionar seus hábitos. Quer colecionar o de todos. ou nos fazer colecionar aqueles que eles entendem serem os adequados.
Não partimos de pontos a outros. Partimos de nada a lugar algum.
Essa reflexão inclusive deixa de lado nomes e siglas para não infringir regras e políticas de boa conduta. Até porque estão querendo nos pacificar. Ou será, nos afocinhar?
O que diria Nelson Rodrigues em suas crônicas diárias no jornal “última hora” ?
Ou melhor, será que Nelson Rodrigues sequer poderia ser Nelson Rodrigues nos tempos atuais?
E mais, o nome deste periódico seria bastante propicio para fecharmos essa coluna. Última hora, últimos tempos...minutos finais.
RIP Nelson – o do passado. O do presente.