O papel dos vice-líderes na política, tradicionalmente visto como secundário, tem evoluído para uma função estratégica de liderança e estabilidade. Conforme explica o consultor político Tadeu Comerlatto, a figura do vice, antes relegada a um plano de apoio, passou a ocupar uma posição central, não apenas como substituto em situações de emergência, mas também como peça-chave na continuidade administrativa e no enfrentamento de crises. “Os vices têm demonstrado que são mais do que reservas. Eles podem assumir o protagonismo em momentos críticos, oferecendo soluções práticas e estabilidade em cenários incertos”, ressalta Tadeu.
Nos Estados Unidos, o cargo de vice-presidente ocupa uma posição estratégica tanto para garantir transições de poder quanto para liderar em tempos críticos. Lyndon B. Johnson, por exemplo, assumiu a presidência em 1963 após o assassinato de John F. Kennedy e liderou a aprovação do Ato dos Direitos Civis, transformando as bases sociais do país. Anos depois, Gerald Ford restaurou a confiança no governo durante o escândalo Watergate, oferecendo liderança firme em um período de incertezas. Mais recentemente, Joe Biden, vice de Barack Obama por dois mandatos, consolidou sua reputação de estabilidade ao ser eleito presidente durante a pandemia de COVID-19. Esses exemplos reforçam como a vice-presidência nos Estados Unidos vai além de uma função de apoio, tornando-se um ponto estratégico na gestão política e administrativa.
No Brasil, a história da vice-presidência também é marcada por momentos decisivos. Itamar Franco estabilizou a economia com o Plano Real após o impeachment de Fernando Collor, demonstrando habilidade administrativa em um período de grande turbulência. João Goulart assumiu a presidência em 1961 após a renúncia de Jânio Quadros, conduzindo o país em meio a uma crise política delicada, com habilidade para articular coalizões. Mais recentemente, Michel Temer garantiu a continuidade administrativa durante um período de intensa polarização política e desafios econômicos, após o impeachment de Dilma Rousseff. Para Tadeu Comerlatto, “esses casos mostram que o vice, quando preparado e bem articulado, pode não apenas preencher lacunas, mas também conduzir transformações estruturais com habilidade política”.
Em âmbitos estaduais e municipais, vice-governadores e vice-prefeitos também têm se destacado. Ricardo Nunes, por exemplo, assumiu a prefeitura de São Paulo em 2021, após o falecimento de Bruno Covas, e foi reeleito em 2024, promovendo uma gestão que combinou estabilidade administrativa com inovação. Em Florianópolis, Topázio Neto tornou-se prefeito em 2022 e foi eleito novamente em 2024, consolidando a cidade como referência em governança moderna. Já em Várzea Paulista, Professor Rodolfo Braga, após dois mandatos como vice-prefeito, foi eleito prefeito com 91,09% dos votos em 2024, liderando uma administração transformadora que redefiniu os padrões de gestão local. Esses exemplos, segundo Tadeu, reforçam como “a experiência acumulada como vice pode ser uma escola para lideranças mais robustas e preparadas para desafios maiores”.
O protagonismo crescente dos vices também se reflete nas estratégias eleitorais. Partidos têm reconhecido o peso estratégico desses líderes para fortalecer campanhas e atrair eleitores. A escolha de Geraldo Alckmin como vice de Lula na eleição de 2022 é emblemática, trazendo equilíbrio político e confiança administrativa para uma chapa que buscava atrair eleitores moderados. Dados recentes mostram que o MDB liderou a eleição de vice-prefeitos em 2024, seguido por PP, PSD e PSDB, destacando a importância dessas lideranças na articulação política.
De vice-presidentes como Itamar Franco e Joe Biden a gestores locais como Ricardo Nunes e Topázio Neto, os vices têm se consolidado como protagonistas capazes de liderar com eficácia, transformar desafios em oportunidades e assegurar o avanço de projetos estruturantes. “A posição de vice não é mais vista apenas como uma figura de bastidores, mas como um cargo que exige preparação e visão estratégica para ocupar o centro do palco quando necessário”, conclui Tadeu Comerlatto. Em um cenário político global cada vez mais incerto, esses líderes emergem como figuras centrais. A grande questão agora é: partidos e eleitores estão preparados para enxergar os vices como protagonistas das próximas disputas? As respostas a essa pergunta terão um impacto direto no futuro da política.