
Por Amanda S. Feitoza — Um novo estudo realizado pelas universidades de Melbourne e da Califórnia — Berkeley, mostra como o ambiente influencia diretamente o vocabulário das línguas ao redor do mundo. Ao analisar 616 idiomas, incluindo línguas vivas e extintas, os pesquisadores encontraram evidências de que fatores climáticos e culturais moldam o número de palavras usadas para descrever determinados conceitos, como "neve", "amor", "cheiro" e "dança".
Entre os dados, está a confirmação de que as línguas inuítes (povo indígena esquimó que vivem nas regiões árticas do Canadá, Alasca, Groenlândia e Rússia) realmente possuem um vocabulário extenso para neve. A ideia popular de que os inuítes têm mais de 50 palavras para neve, antes vista com ceticismo, ganhou respaldo com os resultados. A língua inuktitut canadense oriental foi a que mais apresentou termos relacionados à neve entre todos os idiomas estudados.
Palavras para neve: inuítes lideram ranking global
Termos como kikalukpok ("caminhada barulhenta na neve dura") e apingaut ("primeira queda de neve") estão entre os muitos registros encontrados no dicionário de inuktitut. Outras línguas inuítes, como o inuktitut canadense ocidental e o inupiatun do norte do Alasca, também se destacaram.
Além dos inuítes, o estudo também revelou grande variedade de palavras para neve em idiomas do Alasca, como ahtena, dena’ina e yupik do Alasca Central, e até em línguas mais inesperadas, como o escocês, que possui registros históricos de mais de 400 palavras sinônimas para neve.
Clima, cultura e vocabulário: outras descobertas
O levantamento se baseou em 1.574 dicionários bilíngues, com traduções de diversas línguas para o inglês. A equipe usou essas fontes para mapear quantas palavras diferentes estavam associadas a um mesmo conceito em cada idioma. Além da neve, foram analisados temas como amor, cavalos, dança e olfato.
- Idiomas como latim, espanhol, hindi, italiano e vietnamita apresentaram mais palavras associadas ao conceito de amor.
- Já o francês, alemão, mongol e cazaque lideram quando o tema é cavalos.
- No Marshallês, idioma das Ilhas Marshall, há termos únicos para o cheiro de sangue ou cheiro de peixe nas mãos, mostrando a importância sensorial no vocabulário.
- Em regiões áridas, como onde se fala a língua Taa oriental, existem expressões específicas para atrair chuva, como uma forma honorífica de se dirigir ao trovão.
O estudo também observou que línguas de comunidades menores possuem um número maior de termos ligados à dança. Essa descoberta reforça teorias antropológicas que associam a dança à coesão social e à identidade cultural em grupos menores e mais tradicionais.
Apesar das conclusões, os autores alertam para algumas limitações. O estudo analisou dicionários, ou seja, o número de palavras registradas não são necessariamente usadas no cotidiano por falantes nativos.
A pesquisa foi publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) e abre novas perspectivas sobre como o meio ambiente e a cultura influenciam o vocabulário das línguas humanas.