
Uma pesquisa feita na Case Western Reserve University, em Ohio, nos Estados Unidos, descobriu que bactérias podem invadir o cérebro após a implantação de dispositivos médicos, como implantes cerebrais usados para restaurar a função de pacientes com paralisia, epilepsia e outros distúrbios neurológicos.
Segundo o estudo, publicado na revista Nature Communications, a transição das bactérias do intestino pode contribuir para inflamação e reduzir a eficácia do dispositivo a longo prazo. Agora que o problema foi identificado, os implantes podem ter mais sucesso.
"Compreender o papel das bactérias no desempenho dos implantes e na saúde cerebral pode revolucionar a maneira como esses dispositivos são projetados e mantidos", explica Jeff Capadona, vice-reitor de inovação da universidade.
Para a pesquisa, foi examinada a presença de DNA bacteriano nos cérebros de camundongos implantados com microeletrodos. Com isso, os cientistas encontraram bactérias ligadas ao intestino dentro do cérebro. A descoberta sugere que a implantação do dispositivo pode permitir a entrada de micróbios.
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"Esta é uma descoberta que muda o paradigma. Por décadas, o campo se concentrou na resposta imunológica do corpo a esses implantes, mas nossa pesquisa agora mostra que bactérias — algumas originárias do intestino — também estão desempenhando um papel na inflamação em torno desses dispositivos", ressalta George Hoeferlin, principal autor do estudo, em texto publicado no site EurekAlert!.
Alguns camundongos tratados com antibióticos apresentaram redução da contaminação bacteriana e o desempenho dos dispositivos implantados melhorou. No entanto, o uso prolongado de antibióticos se mostrou prejudicial.
Além disso, algumas bactérias encontradas no cérebro foram associadas a doenças neurológicas, incluindo Alzheimer e Parkinson. "Essa descoberta destaca a necessidade urgente de desenvolver uma estratégia permanente para prevenir a invasão bacteriana de dispositivos implantados, em vez de apenas gerenciar a inflamação após o fato", ressalta Jeff Capadona.
A equipe também examinou uma matéria fecal de uma pessoa implantada com um dispositivo cerebral e encontrou resultados semelhantes. Agora, o laboratório expandirá a pesquisa para examinar bactérias em outros tipos de implantes cerebrais, como derivações ventriculares usadas para tratar hidrocefalia.