
Dois estudos diferentes enviados ao periódico da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, em fevereiro deste ano chegaram à mesma conclusão: Urano, o planeta mais frio do Sistema Solar, libera mais calor do que havia sido indicado por observações da Voyager 2, em 1986. De acordo com os artigos, que ainda não foram publicados, o planeta não apenas reflete o calor emitido pelo Sol, mas emite “fluxo significativo” de calor próprio.
A descoberta “resolve um debate de longa data sobre se Urano possui calor interno”. A missão Voyager, que lançou ao espaço em 1977 as sondas Voyager 1 e Voyager 2, revelou que Urano parecia ser diferente dos outros planetas do Sistema Solar. Enquanto estes mostravam claramente três fontes de calor — a radioatividade e o calor do Sol e a energia própria restante de potencial gravitacional —, o gigante gasoso, cuja temperatura identificada pela sonda chegava a -224ºC com ventos de 900km/h, parecia não ter excesso de calor além do reflexo da luz solar.
O avanço da tecnologia de telescópios desde então, porém, permitiu descobrir que a Voyager 2, que foi até Urano, passou por ele quando o planeta que leva 84 anos para dar uma volta ao Sol estava perto do solstício. Em observações registradas nos anos 2000, por exemplo, ele estrava próximo ao equinócio.
Uma das pesquisas recentes, da Universidade de Houston, usou tanto observações de meados do século 20, como as da missão Voyager e precursoras, quanto de instrumentos avançados conforme eles se tornavam disponíveis. Dessa forma, alcançaram uma órbita inteira de 84 anos.
Os dois estudos recentes concluem, a partir dessas análises, que ou a Voyager 2 mediu mal os índices de calor de Urano ou passou pelo planeta em um momento incomum — o que levou cientistas à conclusão errada durante vários anos. Outras características do astro também estariam relacionadas ao momento de passagem da sonda, que só ocorreu uma vez até o momento, em 24 de janeiro de 1986; por isso, a segunda hipótese é mais aceita.
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Um dos estudos estabelece que Urano emitiria 12,5% mais energia do que recebe do Sol; o outro determina que o excesso seria de 15% — com as respectivas margens de erro, portanto, eles concordam entre si.
“Urano não é tão estranho quanto pensávamos”, contou ao portal Science News o coautor de um dos estudos, Patrick Irwin, cientista planetário da Universidade de Oxford. Apesar disso, o planeta continua sendo “caso atípico” no Sistema Solar, uma vez que os outros gigantes gasosos — Júpiter, Saturno e Netuno — irradiam mais que o dobro da energia que recebem do Sol.
A diferença pode ser explicada pelo falo de Urano girar de lado, sob inclinação axial de 98 graus, enquanto os outros gigantes giram a 3, 27 e 28 graus, respectivamente. Cientistas suspeitam que um objeto gigante teria atingido o planeta gelado durante a juventude dele, fazendo com que material quente do interior do astro fosse perdido e, consequentemente, muito do calor interno dele também desaparecesse.