MEDICINA

Usuários de cannabis têm risco até seis vezes maior de ataque cardíaco

De acordo com pesquisa publicada pelo Colégio Americano de Cardiologia, pessoas que usam a substância, mesmo jovens e saudáveis, tem de 50% a seis vezes mais chances de sofrer infarto se comparadas àquelas que não usam

Usuários de cannabis com menos de 50 anos são mais de seis vezes mais propensos a sofrer um ataque cardíaco em comparação a não usuários, diz estudo publicado no Colégio Americano de Cardiologia -  (crédito: Alissa De Leva por Pixabay )
x
Usuários de cannabis com menos de 50 anos são mais de seis vezes mais propensos a sofrer um ataque cardíaco em comparação a não usuários, diz estudo publicado no Colégio Americano de Cardiologia - (crédito: Alissa De Leva por Pixabay )

Um estudo publicado no periódico do Colégio Americano de Cardiologia, combinado a uma análise de outros 12 estudos anteriores da mesma publicação, apontou evidências de que pessoas que usam cannabis, mesmo adultos jovens e saudáveis, têm mais probabilidade de sofrer ataque cardíaco do que pessoas que não utilizam a substância. 

De acordo com a pesquisa, que acompanhou por um período registros médicos de mais de 4,6 milhões de pessoas, usuários de cannabis com menos de 50 anos são mais de seis vezes mais propensos a sofrer um ataque cardíaco em comparação a não usuários. No que diz respeito à meta-análise — maior estudo agrupado sobre o tema até o momento, cujas pesquisas, somadas, analisaram mais de 75 milhões de pessoas, o risco seria 50% maior entre os que usam a droga. 

Além do risco maior de ataque cardíaco, o estudo principal mostra, em uma média de três anos, risco quatro vezes maior de acidente vascular cerebral isquêmico, duas vezes maior de insuficiência cardíaca e três vezes maior de morte cardiovascular ou acidente vascular cerebral. 

Na meta-análise, por sua vez, sete dos 12 estudos encontraram associação significativa entre uso de cannabis e incidência de ataque cardíaco em usuários com uma média de 41 anos. Outros quatro não mostraram diferença significativa e um encontrou associação contrária. Somados os resultados de todas as pesquisas, a probabilidade de ataque cardíaco entre pessoas que usavam a droga ativamente foi 1,5 vez — ou seja, 50% — maior do que os que não eram usuários atuais no momento do acompanhamento. 

Apesar de não se compreender totalmente a forma com que a cannabis e os componentes dela impactam o sistema cardiovascular, os pesquisadores acreditam que ela pode afetar a regulação do ritmo do coração, aumentar a demanda de oxigênio no músculo cardíaco e contribuir para disfunção endotelial — doença cardíaca que faz com que vasos sanguíneos tenham mais dificuldade de relaxar e expandir e, assim, interrompam o fluxo de sangue. 

Segundo um dos estudos incluídos na meta-análise, o pico de risco de ataque cardíaco seria cerca de uma hora após o consumo de maconha. Outro deles indica risco maior de desenvolvimento de doença arterial coronária naqueles que usam a substância diariamente. 

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Os pesquisadores defendem, portanto, que médicos perguntem sobre o uso de cannabis para entender risco cardiovascular geral dos pacientes — assim como perguntam sobre cigarros ou uso de álcool. Também sugerem, a nível político, um aviso para que pessoas saibam que há riscos no consumo de maconha. 

O estudo principal foi realizado por meio de uma rede global de pesquisa em saúde que fornece acesso a registros médicos eletrônicos, a TriNetX. Os pacientes analisados tinham todos menos de 50 anos, eram saudáveis e não apresentavam comorbidades cardiovasculares significativas no início do acompanhamento. 

Não foram levados em conta, porém, fatores como duração e quantidade de uso de cannabis, uso de tabaco e uso de outras drogas. “Devemos ter algum cuidado ao interpretar as descobertas, pois o consumo de cannabis é geralmente associado a outras substâncias, como cocaína ou outras drogas ilícitas que não são contabilizadas”, informa, em comunicado à imprensa, o principal autor do estudo, o médico Ibrahim Kamel, da Universidade de Boston.  

“Os pacientes devem ser francos com os próprios médicos, lembrar que somos defensores número um deles e que ter a história completa importa”, conclui.  

Lara Perpétuo
postado em 18/03/2025 12:39