EXPLORAÇÃO ESPACIAL

O que acontece com o corpo humano após viver no espaço?

Mesmo com equipamentos de proteção, ainda existem efeitos indesejáveis decorrentes da exposição do ser humano a um ambiente sem gravidade

Os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams voltarão para a Terra após nove meses no espaço -  (crédito: Reprodução/Nasa)
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Os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams voltarão para a Terra após nove meses no espaço - (crédito: Reprodução/Nasa)

Após mais de nove meses a bordo da Estação Espacial Internacional, os dois astronautas presos no espaço iniciaram a viagem de retorno para a Terra nesta terça-feira (18/3). Butch Wilmore, 62 anos, e Suni Williams, 59 anos, chegaram ao espaço em junho de 2024 no primeiro voo tripulado do Starliner da Boeing, uma viagem de ida e volta que deveria durar apenas oito dias. No entanto, a nave espacial apresentou problemas de propulsão.

O tempo em que Wilmore e Williams passaram no espaço levanta dúvidas de como o corpo humano reage nessas situações. Segundo a Agência Espacial Brasileira, mesmo com equipamentos de proteção, como os trajes de astronauta, ainda existem efeitos indesejáveis decorrentes da exposição do ser humano a um ambiente sem gravidade ou de gravidade reduzida.

Estudo realizado pela Nasa com os irmãos e astronautas Scott e Mark Kelly, que são gêmeos idênticos, mostrou que as alterações no organismo podem persistir por meses, mesmo após o retorno à Terra. Entre 2015 e 2016, Scott passou 340 dias a bordo da Estação Espacial Internacional, enquanto Mark permaneceu em terra.

"Algumas consequências transitórias da vida em ambiente de microgravidade — perda de massa muscular e óssea, aumento na estatura e alterações no sistema circulatório — já eram conhecidas de testes com astronautas que ficaram mais tempo no espaço. Mas ainda não se havia dimensionado esses e outros efeitos desse ambiente em pessoas com as mesmas características genéticas", afirmou a Agência Fapesp.

Há mudanças passageiras, como o aumento da extensão dos telômeros (extremidades dos cromossomos, associadas à maior longevidade) ou a redução na velocidade dos movimentos. Seis meses após a missão, a expressão de 7% dos genes de Scott ainda não haviam retornado aos níveis de antes da viagem. Houve, ainda, mudanças na ativação de genes ligados aos sistemas imunológico e de reparo de DNA e dos que controlam a formação óssea e respondem a baixos níveis de oxigênio.

Em contrapartida, a Nasa destacou que Scott recebeu três vacinas contra a gripe, cada uma com um ano de intervalo: a primeira na Terra, a segunda no espaço e a terceira de volta à Terra. O estudo descobriu que o corpo de Scott reagiu apropriadamente à vacina.

"Esta é uma descoberta significativa porque permite que a Nasa tenha maior confiança de que o sistema imunológico responde apropriadamente no espaço, caso uma vacina seja necessária, durante missões de longa duração", citou a agência espacial norte-americana.

"A Nasa tem um rigoroso processo de treinamento para preparar os astronautas para suas missões, um estilo de vida e regime de trabalho cuidadosamente planejados enquanto estiverem no espaço, e um excelente programa de reabilitação e recondicionamento para eles quando retornarem à Terra. Graças a essas medidas e aos astronautas que as realizam tenazmente, o corpo humano permanece robusto e resiliente mesmo após passar um ano no espaço", acrescentou a instituição.

O que acontece com o corpo sem equipamentos de proteção?

Sem os equipamentos de proteção, um ser humano não sobreviveria mais do que uns poucos minutos. Partes do corpo congelariam ou até explodiriam. Devido à perda total da pressão ambiente, o ar nos pulmões iria se expandir, causando ruptura tecidual.

A Agência Espacial Brasileira ressalta que a descompressão também pode levar a uma condição possivelmente fatal, chamada embolismo, que se caracteriza pela formação de bolhas de vapor de água nos tecidos, resultante de uma redução extrema de pressão. O vapor gerado pode ser pequeno demais para rasgar a pele ou explodir o corpo humano, mas causaria rupturas nos vasos capilares e de outras estruturas.

Além disso, a necessidade do corpo humano por um suprimento contínuo de oxigênio é o fator mais limitante para o tempo de sobrevivência em um vácuo total. "Como não há oxigênio, o corpo humano fica sem qualquer suprimento desse gás, levando a uma condição chamada hipóxia, que levará a uma rápida deficiência de suprimento de oxigênio para o cérebro, em torno de 15 segundos, causando perda de consciência, coma e morte", diz a Agência Espacial Brasileira.

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Aline Gouveia
postado em 18/03/2025 11:16