Responsável por doença que vitimou criança de 1 ano e 2 meses no Paraná em dezembro, o metapneumovírus humano (HMPV) é um vírus respiratório parecido com qualquer outro, como o Influenza, que provoca a gripe, ou o SARS-CoV-2, da covid-19. É o que explica ao Correio a médica Fabiana Soares, mestre em medicina de família e comunidade pelo Fiocruz.
Segundo ela, o agente infeccioso age tanto em vias superiores, como nariz, garganta e ouvido, quanto em vias inferiores, a exemplo do pulmão. Assim, “pode causar desde um resfriado até uma doença mais grave” — a depender, principalmente, da idade e da imunidade da pessoa que o contraiu.
Fabiana afirma que “crianças menores de cinco anos e bebês são afetados com maior gravidade” pelo HMPV, uma vez que não têm “desenvolvimento imune capaz de agir com eficácia contra vírus e infecções em geral”. Por isso, são mais recorrentes os casos nesta faixa etária, que também costuma se contaminar com mais facilidade. “Criança que está na escola, na creche, em contato íntimo uma com a outra: isso tudo facilita a transmissão”, esclarece.
Além dos pequenos, “idosos, pessoas com imunidade mais baixa ou que tenham alguma doença que deixa a imunidade mais afetada” têm maior possibilidade de sofrer com doenças como pneumonia e insuficiência respiratória grave geradas pelo HMPV.
Somente nesses casos, explica a médica, há necessidade, por exemplo, “de oxigenioterapia de via respiratória, internação em UTI”; e podem surgir “complicações com infecções bacterianas seguintes ao quadro viral” — as quais podem se agravar e levar à morte.
Como prevenir, identificar e tratar
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o metapneumovírus humano se espalha por meio de gotículas, contato próximo ou superfícies contaminadas.
Fabiana diz, portanto, que a prevenção é simples: “Lavar as mãos com certa frequência; evitar contatos íntimos com pessoas que estão com quadros respiratórios, com resfriados; usar máscaras, principalmente em locais fechados”. Quanto às pessoas que estiverem doentes, “evitar sair para ter contato com as (pessoas) saudáveis e aí acabar espalhando”.
Com sintomas como tosse, febre e congestão nasal, o HMPV pode ser identificado, segundo a médica, por meio de painel viral, exame realizado em pessoas com quadro respiratório que identifica “qual é o vírus, e se tem algum vírus ali, que está causando aquela doença”. Ele é feito por meio de PCR — técnica utilizada para detectar, por exemplo, a covid-19.
Fabiana explica que não há tratamento específico para infecções virais. Diferentemente das causadas por bactérias, as doenças transmitidas por vírus não podem ser resolvidas com antibióticos. Ela orienta: hidratação e controle dos sintomas, se houver. “Se ela (a pessoa) está tendo febre, eu vou melhorar aquele sintoma, com antitérmicos, analgésicos para dores; se está com muita coriza, lavagem nasal é fundamental; e tomar bastante líquido, água, ajuda muito.”
“Se começar a ficar grave, (com) necessidade de oxigênio: internação hospitalar e um cuidado mais intensivo”, alerta.
Criança vítima no Paraná
Sobre o caso do bebê que morreu em dezembro passado, no Paraná, devido a evolução de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), Fabiana explica que a síndrome não tem relação exclusiva com o HMPV. “Vários vírus, várias bactérias podem causar esta síndrome, que é um conjunto específico de sintomas graves, que normalmente levam à óbito.”
Detectado primeiramente por exame realizado por laboratório particular, a presença de metapneumovírus humano na criança foi confirmada pelo Laboratório Central do Estado (Lacen-PR).
De acordo com a Secretaria de Saúde, o vírus, identificado no Brasil pela primeira vez em 2004, registrou, no ano passado, mais de 800 casos apenas no Paraná.
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Casos na China
De acordo com o que a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), a virologista Marilda Siqueira, contou à Fiocruz, “as infecções respiratórias tendem a aumentar durante o inverno”.
No Brasil — bem como em outros países do hemisfério sul — é frequente, por exemplo, entre junho e setembro, a ocorrência de casos de gripes e resfriados, inclusive causados pelo metapneumovírus humano. Em países do hemisfério norte, como a China, portanto, como o inverno ocorre entre dezembro e março, é comum, durante essa época do ano, o aumento quadros relacionados a vírus como o HMPV.
A virologista afirma que a situação com o metapneumovírus é “completamente diferente” da causada pela covid-19, por exemplo. “Ele é um velho conhecido dos cientistas. Já o SARS-CoV-2, que causou a pandemia, era uma nova cepa de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos.”
Em nota publicada na segunda-feira (6/1), a Organização das Nações Unidas (ONU) informou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) está em contato com autoridades chinesas de saúde, “que informaram que a escala e a intensidade dos casos permanecem mais baixas do que há um ano”.
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