Cientistas descobriram, na Antártida, um tipo inusitado e histórico de registro do clima que a Terra tinha há mais de 1,2 milhão de anos. Trata-se de pedaços de gelo obtidos por meio de perfuração de 2.800 metros, até onde a camada de água congelada encontra o leito rochoso do continente em um local chamado Little Dome C.
Financiada pela Comissão Europeia, uma equipe internacional de pesquisadores do projeto Beyond EPICA – Oldest Ice, que tem por objetivo encontrar o gelo mais antigo do mundo, realizou a quarta campanha antártica e atingiu a base rochosa sob o gelo que cobre o continente. Eles identificaram o local certo para a perfuração a partir do uso de tecnologias de sondagem de eco e modelagem de fluxo de gelo, conforme informa nota do projeto.
"O gelo extraído preserva um registro sem precedentes da história climática da Terra, informações contínuas sobre temperaturas atmosféricas e amostras imaculadas de ar antigo com gases de efeito estufa", explicam os cientistas. Eles consideram a descoberta um marco histórico para a ciência do clima.
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De acordo com a nota, este é o registro contínuo mais longo do clima do planeta, e, por isso, pode revelar a ligação entre o ciclo de carbono e a temperatura da Terra. "Temos uma forte indicação de que os 2.480 metros mais próximos à superfície contêm um registro climático que remonta a 1,2 milhão de anos em um registro de alta resolução onde até 13 mil anos estão comprimidos em um metro de gelo", relata Julien Westhoff, um dos pesquisadores.
No que diz respeito aos 210m mais próximos ao núcleo acima do leito rochoso, os cientistas afirmam que se trata de “gelo antigo que está fortemente deformado, possivelmente misturado ou recongelado e de origem desconhecida”.
Eles informam que, ao auxiliar na testagem de teorias anteriores, análises avançadas podem “revelar a história da glaciação da Antártida Oriental”, desde a transição do Pleistoceno Médio — entre 900 mil e 1,2 milhão de ano atrás —, que é “um dos mistérios duradouros da ciência climática”.
Além disso, gelo pré-Quaternário ainda mais antigo pode estar presente nas amostras mais próximas do núcleo. “A datação das rochas subjacentes será realizada para desvendar quando esta região da Antártida esteve livre de gelo pela última vez.”
Foram mais de 200 dias de perfuração e processamento de núcleos de gelo, a uma altitude de mais de 3 mil metros acima do nível do mar e a uma temperatura média de -35ºC no verão. Os núcleos de gelo serão transportados para a Europa em um navio sob -50ºC.
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