MUNDO ANIMAL

Cientistas desvendam os segredos de uma baleia rara

Bicos de lula, lentes dos olhos de lula, vermes parasitas e outras partes de organismos foram encontrados em algumas das nove câmaras estomacais da baleia-dentes-de-espada, a mais rara do mundo e jamais vista viva no mar

Em 2 de dezembro, cientistas analisaram o animal encontrado morto em uma praia remota da Nova Zelândia -  (crédito: Reprodução/Michael HAYWARD/ DEPARTMENT OF CONSERVATION - NEW ZEALAND/AFP)
Em 2 de dezembro, cientistas analisaram o animal encontrado morto em uma praia remota da Nova Zelândia - (crédito: Reprodução/Michael HAYWARD/ DEPARTMENT OF CONSERVATION - NEW ZEALAND/AFP)

Por meio da primeira dissecação de uma baleia-dentes-de-espada (Mesoplodon traversii), realizada na Nova Zelândia, cientistas e povos indígenas descobriram que a espécie conta com dentes vestigiais e nove câmaras estomacais.

Em 2 de dezembro deste ano, cientistas se reuniram ao redor do corpo de uma baleia-de-dentes-de-espada, a mais rara do mundo e jamais vista viva no mar, para decifrar os mistérios da espécie. O animal foi encontrado morto em uma praia da Nova Zelândia, em julho deste ano, bem preservada. Além desse animal, apenas seis outras baleias da espécie foram avistadas anteriormente.

As descobertas

A dissecação revelou que, na mandíbula superior das baleias-dente-de-espada, existiam pequenos dentes vestigiais. Essas estruturas são consideradas remanescentes da evolução, apontando que elas teriam um propósito maior anteriormente e, ainda que estejam com o tamanho reduzido agora, a evolução não fez com que a característica se perdesse completamente.

Os ancestrais das baleias são comumente apresentados com outras estruturas vestigiais, resultantes dos dias em terra firme — cerca de 50 milhões de anos atrás. Os animais apresentavam pernas, que, hoje, são reduzidas a pequenos restos de quadril, mas que ainda podem servir para um propósito.

Também foram encontradas nove câmaras estomacais na baleia e algumas pistas de como elas comem e se comunicam.

"Em alguns desses estômagos, encontramos bicos de lula e algumas lentes dos olhos de lula, alguns vermes parasitas e talvez algumas outras partes de organismos dos quais não temos muita certeza. Temos um parasitologista que os estudará para descobrir o que são", disse Anton van Helden, consultor sênior de ciências marinhas da Agência de Conservação da Nova Zelândia e um dos cientistas envolvidos na dissecação.

"Também encontramos estruturas interessantes associadas tanto à alimentação quanto à produção de som. Pesos, medidas e descrições foram feitos de vários músculos e órgãos, para nos ajudar a descrever esta espécie e fazer comparações com espécies relacionadas", pontuou.

A dissecação

Ainda não se tem o conhecimento de onde as baleias vivem no oceano, o porquê de elas nunca terem sido vistas na natureza ou como são os cérebros delas. As baleias-de-bico têm sistemas estomacais diferente e, até a dissecação, não se sabia como funcionava o processo da comida ingerida pelas baleias-de-dentes-de-espada, além da causa da morte do animal encontrado. As outras seis baleias vistas anteriormente estavam intactas, mas foram enterradas antes que pudesse ser feito um estudo.

"Esta tohor (baleia) não foi apenas a primeira de seu tipo a ser dissecada pela ciência, mas também foi a primeira vez que nossa hapu (subpovo indígena) trabalhou com cientistas para reunir sistemas de conhecimento indígenas e ocidentais para que todos possamos obter uma melhor compreensão da baleia e seus comportamentos", disse Rachel Wesley, representante dos Runanga, povo indígena que ajudou na pesquisa, em uma declaração sobre a dissecação.

"Este processo foi liderado por nossos rakatahi (jovens) e guiado por nossos estimados convidados de Ngati Wai – Hori Parata e seu filho Te Kaurinui – que são thuka (especialistas) em trabalhar com esses taoka (tesouros)", continou Rachel. "Ao trabalhar e aprender com líderes de Maori, bem como líderes na ciência ocidental, nossos rakatahi podem reviver matauraka (conhecimento) antigo e desenvolver um sistema de conhecimento profundo para passar para as próximas gerações.”

Clique aqui e leia a declaração original sobre a dissecação na íntegra.

*Estagiário sob a supervisão de Roberto Fonseca

João Ribeiro*
postado em 16/12/2024 12:24 / atualizado em 16/12/2024 12:25
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