Doce tratamento

Chocolate amargo pode trazer benefícios para a saúde; entenda

Consumido com moderação, contribui para a redução do desenvolvimento ao diabetes tipo 2 diferentemente ao que ocorre com o tipo ao leite. Com apenas cinco porções por semana, o risco diminuiu em 10% em voluntários submetidos à pesquisa

Outra vantagem é que o tipo amargo engorda menos do que o ao leite  -  (crédito: Imagem de Jcomp no Freepik)
Outra vantagem é que o tipo amargo engorda menos do que o ao leite  - (crédito: Imagem de Jcomp no Freepik)

Consumir chocolate amargo pode ter benefícios para a saúde além do prazer proporcionado pelo sabor intenso, sugere uma pesquisa recente conduzida pela Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan, nos Estados Unidos. O estudo, publicado na revista The BMJ, revelou que o consumo moderado de chocolate amargo está associado a uma redução no risco de desenvolver diabetes tipo 2 (DT2), enquanto o chocolate ao leite não apresenta efeitos semelhantes e ainda pode estar ligado ao ganho de peso. A pesquisa é baseada em dados de longo prazo de outros trabalhos que acompanharam os hábitos alimentares e de saúde de milhares de pessoas ao longo de várias décadas.

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Os pesquisadores queriam entender se o amargo, que contém maior concentração de cacau e flavonoides, teria efeitos diferentes do ao leite. "Para qualquer um que ame chocolate, esse é um lembrete de que fazer pequenas escolhas, como escolher chocolate amargo em vez de chocolate ao leite, pode fazer uma diferença positiva para sua saúde", afirmou Binkai Liu, autor principal do estudo e doutorando em nutrição na Harvard TH Chan.

O estudo usou dados de mais de 192 mil participantes, coletados ao longo de mais de 30 anos, por meio dos estudos Nurses' Health e Health Professionals Follow-up. Ao longo desse período, quase 19 mil pessoas foram diagnosticadas com diabetes tipo 2. Durante o ensaio, os voluntários relataram seus hábitos alimentares, incluindo a ingestão de chocolate.

Em seguida, a equipe analisou o consumo do chocolate amargo e ao leite, ajustando os resultados para fatores como, idade, índice de massa corporal (IMC), quantidade de atividade física e outros hábitos alimentares. Os resultados mostraram que a ingestão do produto amargo tem uma correlação com a redução do risco de desenvolver diabetes tipo 2.

Os participantes que consumiram pelo menos cinco porções de chocolate por semana tiveram um risco 10% menor de desenvolver diabetes tipo 2, em comparação com aqueles que ingeriam pouco ou nada desse alimento. O impacto foi ainda mais relevante ao observar apenas a versão amarga do produto, quem comeu pelo menos cinco porções semanalmente apresentou chances 21% menores de desenvolver a doença.

O estudo também revelou que o risco de DT2 diminuía em 3% a cada porção adicional de chocolate amargo ingerida por semana. Em contraste, o consumo de chocolate ao leite não teve efeitos benéficos e ainda foi associado ao ganho de peso a longo prazo —um fator conhecido para o desenvolvimento de diabetes.

Flavonoides

Os autores concluíram que, embora o chocolate ao leite tenha calorias e gorduras semelhantes ao amargo, os efeitos benéficos podem ser atribuídos aos flavonoides — compostos bioativos que possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias —, mais presentes no amargo. Essas substâncias parecem neutralizar os efeitos negativos do açúcar e da gordura saturada, favorecendo a saúde metabólica.

Segundos os cientistas, os flavonoides são conhecidos por melhorar a sensibilidade à insulina, um fator crucial para a prevenção do diabetes tipo 2. Ademais, os compostos têm propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, que podem ajudar a reduzir a inflamação e o estresse oxidativo no corpo, fatores importantes no desenvolvimento da doença. Embora os autores enfatizem serem necessários mais estudos para confirmar esses mecanismos, os resultados preliminares sugerem que o chocolate amargo, quando consumido com moderação, pode ser benéfico à saúde metabólica.

Durval Ribas Filho, nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e membro da The Obesity Society, frisa que o chocolate contém uma grande quantidade de polifenóis. "No caso específico do chocolate com alta concentração de cacau, principalmente acima de 65%, existem vários tipos de polifenóis, como os flavonóides, os ácidos fenólicos, os taninos e a catequina. O interessante desse estudo é que ele mostra que, mesmo no caso do chocolate com menor quantidade de cacau (menos de 65%), onde os polifenóis estão presentes em menor quantidade, eles ainda assim apresentam uma boa atividade protetora contra danos e desenvolvimento de doenças cardiovasculares e crônicas degenerativas."

A equipe também analisou os dados com base em diferentes subgrupos, considerando fatores como sexo, idade e histórico familiar de diabetes. Os resultados indicaram que os benefícios do chocolate amargo eram consistentes em todos os subgrupos, sugerindo que o consumo moderado de chocolate amargo pode ser benéfico para uma ampla população.

Para os cientistas, se os resultados forem confirmados, o consumo moderado do alimento poderá ser incorporado em estratégias para a prevenção de diabetes tipo 2. Eles advertem sobre a escolha de chocolates de boa qualidade. "A qualidade do chocolate faz toda a diferença. Optar por chocolate amargo, que contém mais cacau e menos açúcar, é uma escolha mais saudável", enfatizou Liu.

 

Alvo de interesse

"Pesquisas indicam que o consumo de chocolate amargo pode levar ao controle glicêmico. Por exemplo, foi demonstrado que o chocolate amargo sem açúcar resulta em níveis mais baixos de glicose no sangue em adultos com diabetes, sugerindo que os adoçantes usados nesses produtos podem oferecer benefícios adicionais além do controle glicêmico. O consumo de chocolate amargo foi associado a níveis mais baixos de marcadores inflamatórios e à melhora nos níveis de adiponectina sérica em pacientes diabéticos, fatores cruciais para a saúde metabólica. Isso se alinha com estudos que destacam que o consumo regular de cacau e chocolate amargo pode reduzir significativamente os níveis de glicemia de jejum (FBS) e HbA1c, marcadores críticos para o manejo do diabetes."

João Lindolfo Borges, endocrinologista, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

postado em 06/12/2024 06:00
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