Uma pesquisa publicada no British Journal of Sports Medicine revela que curtos períodos de esforço físico intenso, com menos de um minuto de duração, podem reduzir significativamente o risco de eventos cardiovasculares graves, como ataques cardíacos e insuficiência cardíaca. O estudo destaca que essa prática, com uma duração diária total de apenas 1,5 a 4 minutos, pode beneficiar, sobretudo, mulheres que não fazem exercícios regularmente.
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Na pesquisa, o conceito central é a atividade física intermitente vigorosa (Vilpa, na sigla em inglês), que inclui exercícios de alta intensidade, como subir escadas rapidamente ou carregar peso. Essas ações, quando integradas à rotina diária, foram associadas à diminuição do risco de doenças cardiovasculares.
O estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Sidnei, na Austrália, indica que essas breves explosões de atividade, integradas ao cotidiano, podem ser uma solução viável para reduzir o risco cardiovascular, especialmente para indivíduos com dificuldades em se engajar em programas de exercício mais tradicionais.
Saúde feminina
A pesquisa teve um foco especial nas mulheres, pois elas, em média, tendem a ter uma aptidão cardiorrespiratória inferior à dos homens em qualquer faixa etária. Para muitas mulheres, a falta de tempo ou a impossibilidade de se engajar em atividades físicas formais pode ser um desafio para manter a saúde cardiovascular. No entanto, o estudo demonstra que até mesmo mulheres que não se exercitam regularmente, mas que incorporam pequenas doses de Vilpa em suas rotinas diárias, podem ver melhorias significativas na saúde do coração.
Os dados foram retirados do UK Biobank, um banco de informações do Reino Unido. Os participantes foram divididos entre aqueles que praticavam exercícios regularmente e os que não, com destaque para aqueles que realizavam atividades físicas ocasionais, como caminhadas recreativas. Ao longo de quase 8 anos, os pesquisadores observaram uma diminuição significativa nos eventos cardiovasculares graves, como ataque cardíaco, insuficiência e derrame, entre as mulheres que incluíam Vilpa em sua rotina.
Os resultados mostraram que para as mulheres uma média de apenas 3,4 minutos diários de Vilpa foi suficiente para reduzir em 45% a probabilidade de sofrer qualquer tipo de evento cardiovascular grave. Além disso, o risco de ataques cardíacos caiu 51%, e as chances de insuficiência cardíaca diminuíram em 67%, em comparação com as participantes que não praticavam.
"Tornar curtos períodos de atividade física vigorosa um hábito de estilo de vida pode ser uma opção promissora para mulheres que não gostam de exercícios estruturados ou não conseguem fazê-los por qualquer motivo. Como ponto de partida, pode ser tão simples quanto incorporar ao longo do dia alguns minutos de atividades como subir escadas, carregar compras, caminhar morro acima, brincar de pega-pega com uma criança ou animal de estimação, ou caminhar rápido morro acima", destacou Emmanuel Stamatakis, autor principal da pesquisa e professor da Universidade de Sidnei.
Mesmo quando a prática de Vilpa foi reduzida para períodos ainda mais curtos, de 1,2 a 1,6 minutos por dia, os benefícios continuaram relevantes. Nesse caso, o risco de todos os problemas cardiovasculares graves foi 30% menor, enquanto o risco de ataque cardíaco foi reduzido em 33% e o risco de insuficiência cardíaca em 40%.
Os efeitos das curtas atividades diárias foram mais modestos em homens. Para aqueles que realizavam em média 5,6 minutos de Vilpa por dia, o risco de problemas cardiovasculares graves foi 16% menor, mas não houve uma redução significativa em ataques cardíacos ou insuficiência cardíaca. Para eles, a quantidade mínima necessária para se observar algum benefício foi de cerca de 2,3 minutos diários.
Ernesto Osterne, cardiologista e coordenador da hemodinâmica do Hospital Anchieta, em Brasília, destacou que as mulheres apresentam, em média, menor aptidão cardiorrespiratória em comparação aos homens. "O que pode torná-las mais responsivas a estímulos físicos vigorosos", afirmou. "O estudo reforça a importância de reconsiderar a abordagem tradicional ao exercício físico, enfatizando que mesmo atividades curtas e intensas podem trazer benefícios. Isso é especialmente relevante para populações que enfrentam dificuldades para praticar exercícios estruturados, mostrando que o movimento cotidiano pode ser uma ferramenta poderosa na promoção da saúde cardiovascular."
Para Glaucia Maria Moraes de Oliveira, professora de cardiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em cardiologia da mulher, é muito importante incorporar essas atividades físicas no dia a dia. "Isso inclui evitar pegar um elevador e subir e descer degraus, fazer uma caminhada mais rápida para pegar a condução, tudo ajuda a diminuir os eventos cardiovasculares em homens e mais ainda para mulheres."
No entanto, a especialista pondera. "Não podemos dizer que isso é melhor do que o exercício já preconizado pela Organização Mundial de Saúde — que recomenda que adultos pratiquem pelo menos 150 a 300 minutos de atividade física moderada por semana, ou o equivalente em atividade física vigorosa—, porque esse é um estudo observacional."
Embora os resultados do estudo sugiram que pequenas ações são úteis na prevenção de doenças cardiovasculares, os autores reforçam que o estudo foi apenas observacional. Ou seja, ele não pode estabelecer uma relação de causa e efeito definitiva entre a prática de Vilpa e a redução do risco cardiovascular.
Saiba Mais
Em prol da saúde
"As mulheres brasileiras trabalham muito, revezando-se em diversos afazeres. A falta de tempo e a condição financeira impactam diretamente na saúde. Saber a relevância das pequenas atividades da rotina ajuda a promover saúde nesse grupo. O trabalho traz uma grande informação, não é fácil inserir atividade física na rotina, e isso se torna mais difícil dependendo da quantidade de horas de trabalho no dia. Ao falarmos no consultório que essas mulheres sobrecarregadas também podem ter saúde, levamos um acalento e motivação para aumentarem a carga de exercícios. Os benefícios podem ser mais significativos para mulheres devido à própria anatomia e fisiologia do corpo. Homens têm corações maiores (no que se refere a tamanho físico), maior capacidade pulmonar, mais músculos, precisando de mais energia, enquanto, com essa mesma energia, a mulher consegue otimizar e ter resultados melhores."
Lívia Teixeira, cardiologista do Hospital Brasília, da rede Dasa