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Pets ajudam na imunidade dos bebês, aponta pesquisa sueca

A convivência com cães e gatos contribui para maior proteção da microbiota intestinal das crianças, sobretudo contra alergias. Viver em um ambiente exposto a distintos micro-organismos incentiva o desenvolvimento imunológico

Pesquisa publicada na revista Plos One destaca a relação entre a composição da microbiota intestinal de crianças — entre recém-nascidas e bebês de até 1 ano e meio — e fatores ambientais, como viver em fazendas ou conviver com animais de estimação. O estudo, liderado pela Universidade de Gotemburgo, na Suécia, reforça o papel do ambiente na formação da saúde imunológica infantil e na prevenção de alergias. A microbiota é composta por trilhões de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal, desempenhando funções cruciais para a saúde, incluindo a regulação do sistema imunológico.

Alterações em sua composição estão associadas a diversas condições de saúde, incluindo alergias e doenças autoimunes. A pesquisa teve como foco compreender como diferentes estilos de vida impactam essa microbiota nos primeiros anos de vida, período crítico para o desenvolvimento do sistema imunológico.

O estudo acompanhou crianças nascidas em ambientes rurais e urbanos, analisando amostras de fezes e swabs retais coletados em sete momentos: aos 3 dias, 4 semanas, 2, 4, 6, 12 e 18 meses. Os pesquisadores obtiveram informações detalhadas sobre o estilo de vida das famílias, como a presença de animais de estimação e a exposição a ambientes agrícolas. As análises dos materiais foram realizadas por meio de técnicas avançadas de sequenciamento genético e cultura microbiológica quantitativa.

Os resultados mostraram que crianças que viviam em fazendas apresentavam uma microbiota intestinal significativamente mais diversa em comparação com aquelas que viviam em áreas urbanas. Essa diversidade, frequentemente associada à saúde intestinal, foi correlacionada a um menor risco de alergias. Além disso, o estudo revelou que crianças que conviviam com animais de estimação também apresentavam uma microbiota mais rica e variada. A convivência com cães e gatos, por exemplo, parece desempenhar um papel protetor ao expor os pequenos a diferentes tipos de micro-organismos.

Higiene revisitada

De acordo com a publicação, as descobertas da equipe reforçaram a "hipótese da higiene" — teoria que propõe que ambientes excessivamente limpos, comuns em áreas urbanas, limitam a exposição do sistema imunológico a microrganismos benéficos durante a infância. Essa restrição pode influenciar o aumento da incidência de alergias e doenças autoimunes em sociedades industrializadas.

Conforme os autores, o contato com microrganismos presentes em ambientes naturais, como fazendas, ou em animais de estimação, atua como um estímulo positivo para o desenvolvimento imunológico. Para os pesquisadores, é necessário promover o contato precoce com ambientes naturais e a convivência com animais de estimação pode trazer benefícios significativos para a saúde infantil.

Barbara Gonçalves da Silva, especialista em alergia e imunologia e consultora médica em alergia do Grupo Fleury, frisa que uma dieta balanceada e rica em fibra, assim como a atividade física, está associada a uma microbiota intestinal diversificada e equilibrada que atua positivamente na saúde do indivíduo. "Além disso, a amamentação é muito importante, pois os oligossacarídeos presentes no leite humano (HMO) criam microbiota intestinal benéfica para o desenvolvimento da saúde infantil", disse.

"Além dos probióticos, temos os prebióticos, componentes alimentares não digeríveis, como pectinas (ácido de açúcar derivado de galactose)  fruto-oligossacarídeos (FOS), ligninas (componente presente nas plantas que garante resistência e rigidez) e inulina (carboidrato natural que alimenta bactérias), que dificultam o aumento de patógenos (micro-organismos que causam doenças); e os simbióticos (combinação de probióticos e prebióticos que fortalecem a saúde intestinal)", acrescentou a especialista.

 

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